Quartinhos esquisitos
Na casa de vovô Zezinho havia certos “quartinhos” esquisitos. Assim eram chamados, embora seu tamanho nem sempre merecessem o diminutivo. Um deles, conjugado ao quarto do casal, me intrigava. Com piso de ladrilho, continha alguns armários misteriosos, pois nunca os vi abertos e ignoro até hoje o que guardavam. Imagino que fossem lençóis e toalhas de banho.
Encostada à parede, havia uma mesa onde vovô empilhava pequenos papéis sob pesos de vidro. Alguns redondos e incolores. Outros, ovalados e transparentes, mostravam folhas e florzinhas azuis, verdes ou rosadas.
A um canto do “quartinho”, uma peça estranha reinava: a grande e pesada “burra”.
De vez em quando vovô chamava as crianças para assistirem a abertura do inusitado móvel. Como se comandasse um espetáculo, ele fazia mesuras antes de colocar a mão numa roda de metal. E nos mostrava que ali havia muitos números.
Enquanto seus dedos faziam-na girar, ele ia dizendo que era preciso rodar até certo número para a direita, voltar até tal número para a esquerda, retomar a direita... Finalmente, como num passe de mágica, ouvíamos um “troc” forte e seco. Abracadabra, a porta se abria.
Lá dentro víamos caixas e papéis, nada que despertasse nosso interesse. Tinha também um compartimento fechado, na porta do qual uma roda parecida com a outra, só que menor. O espetáculo, então, se repetia.
Seu Zezinho girava e girava cantando números. Depois de vários troc-trocs pra lá e pra cá, diante de nossos olhos maravilhados, uma pilha de dinheiro aparecia! Montinhos de notas de “mil réis”, como ele as chamava.
Depois de pegar algumas e colocá-las no bolso, vovô fechava as portas do cofre recomendando que não contássemos a ninguém onde ficava sua mina de ouro.
E para nos alegrar, dava-nos moedas para comprar balas.
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