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Cronicas-->A TARDE DA CHIBATA -- 19/04/2014 - 12:58 (Adalberto Antonio de Lima) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos

A TARDE  DA CHIBATA

 

Mineirinho de Montes Claros foi trabalhar numa carvoeira em Tremedal, nas proximidades de Berizal, Divisa Alegre, Curral de Dentro, Cordeiros e São João do Paraíso. Todas estas cidades são muito próximas umas das outras, mas Tremedal é Bahia, as demais pertencem a Minas Gerais. Lá o mineiro conheceu o carrasco em seu duplo sentido: o tipo de solo predominante na região e o algoz.

Morando a pouco mais de 300 Km do vizinho estado da Bahia, Jurandir mineiro não conhecia as tradições baianas e viu-se encurralado no Curral de Dentro. Feito um Cordeiro, sofreu no Paraíso , quando acompanhava um enterro baiano em Tremedal. Naquele dia, foi triste a Divisa Alegre de Minas com a Bahia. Mineirinho forte tremeu de fraqueza em Tremedal – nunca tinha apanhado tanto de chibata.

O cortejo seguia a pé e depois de andar bom pedaço de légua, alguém gritou: “PESOU!” Sem saber de que se tratava, mineirinho respondeu lá do fundo: “Pesou...” O cortejo parou. Os carregadores de caixão largaram o esquife na beira da estrada. As pessoas mais próximas passaram um rabo de olho em mineirinho. Aquele olhar de repreensão foi um aviso: “você disse besteira!”

Curioso, mineirinho adiantou-se, esgueirando-se entre a multidão e viu homens de todas as idades chicoteando o caixão. Ele não se controlou ao deparar-se com a cena. Riu. Sem demora, desceram-lhe o relho por todos os lados: nas costas, nas pernas... só via braço subir e chicote descer. Não teve outro jeito senão, embrenhar-se no carrasco. E só mais tarde percebeu que lhe haviam arrancado algumas tiras de couro do lombo.

A noite não tardou a chegar. Escondida na mata de eucalipto também estava uma onça que, vez por outra esturrava. Ele pensava nos filhos: três filhos para criar. Lembrou-se da mãe falecida: ela sabia reza para afugentar animal selvagem, mas mineirinho tinha outro credo - não podia fazer oração decorada. Então lhe veio à mente o sacrifício de Isaac. Meu Deus, vou ser oferecido para alimentar uma fera? Não, não podia ser! Não podia deixar órfãos três filhos pequenos. Rememorizando o episódio de Abraão e Isaac no monte Javé, mineirinho desejou que Deus aceitasse um cordeiro e poupasse uma vida humana, como fizera com Isaac. Deus proverá – disse ele em voz alta.

Quando o dia amanheceu criou coragem para tomar o caminho de casa, temia a onça, mas temia muito mais encontrar alguém que houvesse participado do cortejo de Joaquim Pirão. As costas doíam muito e ao narrar o acontecido ao sogro, mineirinho ouviu pacientemente o consolo: Aqui a gente bate no caixão para afastar os pecados do defunto e deixar o caixão mais leve. Rir numa hora dessas é grande falta de respeito ao morto. Você teve sorte de bico doce não ter lambido sua barriga ou jaqué lhe decepado um braço.

“Bico doce, jaqué... tem esses bichos no mato?” – indagou Jurandir. Ora, “rapais” – disse o velho – jaqué é facão e bico doce é punhal. Vá pra cozinha e peça a Maria pra passar água de sal em suas costas senão, vai criar bicheira.

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