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cronicas-->Manezinhos rumo à Oropa -- 14/05/2014 - 08:32 (AROLDO A MEDEIROS) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
Manezinhos rumo à Oropa

Aroldo Arão de Medeiros

Procurei, por muito tempo, a letra de uma música na qual dois manezinho, antes de iniciarem a cantoria, conversavam sobre viagens de avião. Como não a encontrei, vou contar segundo minhas lembranças.
- Oi cumpadre, um dia ainda vou viajar de avião.
- Tax loco. Se aquela coisa cai.
- Não cai nada. Foi um brasileiro que inventou.
- Aí é que mora o perigo.
O papo se alongava e, para quem não sabe o que é um manezinho, tentarei explicar da melhor maneira possível:
Manezinho é um termo popularmente utilizado para designar os nativos de Florianópolis. O vocábulo pode se estender também aos que nasceram nos municípios vizinhos, São José, Biguaçu, Palhoça. A maior parte dos descendentes é de cultura pesqueira. Os habitantes de vilarejos em regiões praieiras, afastadas do centro urbano, eram chamados, pejorativamente, de Manezinhos da Ilha. Caracterizavam-se pelo falar rápido e cantante, com peculiar pronúncia. De alguns anos para cá, porém, o qualificativo já não é pejorativo. Pelo contrário, nos últimos tempos tornou-se até elogio. E os moradores passaram a ostentar orgulhosamente essa alcunha. O maior tenista brasileiro de todos os tempos - Gustavo Kuerten - declarou-se Manezinho da Ilha após vencer o Torneio de Roland Garros endeusando o termo.
Deixando de lado as explicações, vamos ao que interessa propriamente nesse causo. Designaremos os personagens da conversação de Zeca Cinzano e Maneca Ripiado. Os dois compadres eram casados, respectivamente, com Maria de Lourdes, mais conhecida por Lurdinha do Zeca Cinzano, ou somente Lurdinha e Glorinha do Maneca Ripiado.
A Lurdinha e a Glorinha ao saberem que o Zeca gostaria de conhecer o Papa passaram a incentivá-los a realizarem a viagem. Convocaram os filhos que eram mais (bem mais) letrados que eles para apoiarem na empreitada. Reuniões movidas à cachaça e renda de bilro aconteceram. E um dos filhos os mandou irem na Açoriana Turismo conversar com os agentes de viagens. A escolha da empresa se deu porque como eles eram descendentes da Ilha dos Açores nada melhor do que tratar com gente que, como eles, prezam a honestidade, a atenção e o respeito.
- Pretendem fazer um pacote de quantos dias?
- A gente não sabe. Queremos levar nossas roupas numa mala e não num pacote, porque queremos ficar uma semana, respondeu Zeca.
Maneca, o medroso de altura, tomou muito chá tranquilizante, rezou muito para o Divino Espírito Santo e acendeu velas para São Pedro, padroeiro dos pescadores.
Na hora do embarque aconteceu a primeira confusão. Quando a Glorinha cruzou a porta eletrónica que denuncia se a pessoa transporta algo irregular, disparou o alarme dedo duro. Foi obrigada a retirar as moedas dos bolsos, desfazer-se das pulseiras, do relógio, até dos brincos. Nova acusação. Por fim teve que retirar os sapatos, pois possuíam fivelas de aço. Ainda comentou em ar jocoso com a comadre:
- Droga que são esses dois que passaram na nossa frente, eles não pararam.
Lurdinha olhou para o lugar indicado e percebeu que ela estava comentando sobre os maridos e retrucou:
- O teu pode ser droga leve, mas o meu não é. É droga das pesadas.
Quando desceram no Rio de Janeiro repararam que o Maneca estava mais branco que folha de papel. Perguntado se ele tinha aproveitado a janela para ver a paisagem, falou que não abriu os olhos até chegar.
Não reclamaram da demora do embarque no Aeroporto do Galeão. Foram quatro horas de atraso. Ficaram o tempo todo fofocando e reparando nas pessoas. Comentaram sobre um cara que falava sozinho e fez lembrá-los do Argemiro, o louco do Matadeiro.
Mexericando sobre tudo e todos, seo Zeca lembrou que ainda não havia visto nenhum conhecido durante aquelas três horas de espera. Ao que a Glorinha replicou:
- Conhecido? Vi um.
- Quem era? Eu também conheço?, interrogou o Zeca.
- Não sei. Acho que não, porque eu também não o conheço.
- Se não o reconheces como pode ser teu conhecido?
- Não falei que era meu conhecido. Era conhecido do cara que passou conversando com ele.
Sentiram fome, mas o dinheiro que levavam estava contadinho. Viram um pessoal com quentinhas que pareciam saborosas. Eram funcionários do Aeroporto. Quase na hora do embarque é que descobriram que também poderiam adquiri-las e comer nas mesas do restaurante. O preço era aquém da expectativa e possível para seus bolsos.
Maneca volta e meia espiava as alterações de voo, no painel eletrónico.
Sempre voltava acabrunhado: Atraso Meteorológico, Atrasado e Previsto, eram as informações que o entristeciam. Finalmente veio com sorriso nos lábios.
- Qual é a boa notícia?, perguntou Zeca.
- O voo foi antecipado.
- Oba!, gritaram em uníssono e alegres.
- O nosso voo que estava marcado para as quatorze e trinta e seis, vai partir as quatorze e trinta e cinco.
Chegando a Roma um fiscal do aeroporto indagou a trupe?
- Si parlano italiano?
O porta-voz Zeca respondeu:
- Não.
- Do you speak English?
- Não senhor. A gente fala mali, mali o português. Nosso linguajar é o manezês.
O italiano respondeu com cara de poucos amigos:
- Non capisco.
Quando retornaram ao Brasil a vizinhança foi recebê-los no aeroporto e as respostas que mais chamaram a atenção foram:
- Istepó, comida boa é a nossa: pirão de nalho com cardosa, ou com berbigão, de preferência servidos num alguidar.
- Meu quirido, como sobremesa nada bate a nossa bergamota e para o café da tarde é inquestionável umas bananas recheadas.
- É! As coisas são bonitas, mas nada supera a paisagem da Lagoa da Conceição, a beleza antiga de Santo António de Lisboa, a Praia do Forte, a imponência da Ponte Hercílio Luz, as dunas da Praia da Joaquina e a Avenida das Rendeiras, só para citar algumas.
O que mais despertou interesse foi quando interrogaram Zeca sobre o Papa.
- Até que ele parece ser legal. Pena que ele fala e a gente não entende. Bom mesmo é o Padre Bileco que na homilia ora nos faz rir e ora nos faz chorar.



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