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Contos-->LEMBRANÇAS III -- 10/04/2000 - 21:08 (Eustáquio Mário Ribeiro Braga) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
LEMBRANÇAS III
(Conto poesia em prosa)

Lembro-me...
Lembro-me ainda neném, leite de mãe
não havia,
peito seco... lembranças murchas.
Lembro-me de Dona Marta e dos seus dois peitos negros
e cheios, leite claro e substancioso ...
Como era forte o leite que amamentava Leonardo (Lili) e sobrava muito para mim.
Ontem mesmo lembrava-me em lembranças lembradas o leite quente e queimado a lenha, de Dona Joana,leite bom e vital, que caía bem e matava a fome de dias.Marta e Joana, pessoas simples, humildes e acima de tudo humanas. Pobres no ter, ricas no ser e doar. Foram as valentes mulheres negras das minhas doces e ricas lembranças. Seus corpos já não existem, acho que virou leite em pó. Ficaram as lembranças, gratas lembranças. Gratidão em sonho gostaria de ser de novo criança.

A minha vida foi rodeada de almas brancas de pele negra e pura. Havia Maria da Hora e Rosa Preta, estes eram seus carinhosos nomes aos quais todos as tratavam. Maria, esta sim, nunca tivera um filho, mas eu e minhas irmãs e primo herdamos o seu carinho de mãe. Segunda mãe de cor branca, raça negra. Sim, era mulata e fora doada por sua família, não sei porque (eram de posses), à minha avó paterna, fora excluída e abandonada assim como nós, eu e minha irmã do meio. Todos fomos abandonados na mesma casa. Graças a Deus, não fora nas ruas ou pontes, acho que naquele tempo não haviam muitas pontes.

Voltemos às lembranças: ... Lembro-me mais cedo ainda, antes da separação dos meus pais...lembro-me bem atrás...lembro de tudo e muito mais que não entendia ou sabia tal existência. Paciência.Lembro-me do bebê de cabelos negros e lisos, de olhos fechados e esbugalhados que, ao mesmo tempo parecia um japinha, mas filho de mulata e de branco pai. Isto faz-me lembrar que tenho a mais pura alma negra e branca, ainda, sou criança e tenho esperança...voltemos a Mãe Maria, doce e terna Maria Oliveira da Hora, um dia chegou a sua hora. No apagar das luzes se apagou num derrame, nunca mais voltou a si, e foi-se, descansou da labuta de emprestar amor a terceiros, e governar casa alheia. Todavia, alma branca e preta estás comigo nas lembranças, nos carinhos, no amor e na gratidão. Não te sintas sozinha, pois ambos fomos abandonados pela vida e um pelo outro em descanso eterno. Não obstante, um dia nos quedaremos em brancas ou negras - alvas e negras - nuvens, e saberemos que apenas o passado fora negro, escuro e sombrio em espasmos esquecidos e não valorizados ao extremo. Remamos e vencemos, vivemos. Lembro-me, mais ainda, e reporto que dividia tua colcha de retalhos que mesma fazias. Lembro-me dos doces, pé-de-moleque e chup...chup.. que fazias e eu vendia. Lembro-me da divisão honesta dos lucros, lembro-me que fora a minha primeira patroa, e eu o teu contador. Hoje, conto estórias e tornei-me contabilista, passei e não cursei ciências contábeis, porque aí já era demais, tornei-me contista e poeta, servidor público, sindicalista, guerreiro e brinco de escrever artigos e fundar jornais. Sem drama ou melancolia conto com a arte e magia, dispo-me de qualquer fantasia e escalo os píncaros dos montes das profundas lembranças, e simplesmente vivo a lembrar. Lembro-me que, não posso borrar o quadro negro de minhas lembranças em giz colorido, prefiro de giz branco ou preto carvão e de soslaio tento descontinuar as linhas pontilhadas mal ou bem traçadas pelo destino. Se brinco, falo, conto e rimo, são lembranças de hoje e do tempo de menino. Lembro-me das vagas lembranças e tenho a mais audaz da paciência em lembrar das demências naturais e ocasionais praticadas por mim ou por terceiros. Lembro-me sim, e me orgulho de não lembrar só de mim, lembro-me rapaz de sorte, que perdi uma mãe que, aliás também desencarnou fazem cinco anos, mas ganhei quatro novas mães que, foram fundamentais para minha educação ou falta dela, sem contar, é claro, com as de leite Marta e Joana.

Se do passado guardo lembranças por que não lembrar o que vivi em presente data, ou por que não planejar o futuro para ter uma dia ótimas e maravilhosas lembranças. Lembro-me sim de coisas boas, mais isto já é outra história, são lembranças, doces lembranças que, até podem ficar de fora da memória, lembranças do tempo de glória, pois foram escritas em versos e rimas. Lembranças pós Anita, minha doce lembrança de vida. Estas Lembranças não as cabem aqui, dariam livros se contasse em prosa.

Lembro-me da escola pública, das boas notas e também das ruins, eram vermelhas e assim me lembrava sangue, sofrimento e dor. Então gostava das notas azuis que preferia que fossem transcritas a tinta preta para lembrar-me da cor negra, preta e escura que, combinava tão bem com o branco do boletim. Sim gostava muito do branco e preto ou preto e branco Atlético, ainda, sou preto e branco "galo", mas sem fanatismo como dantes, estamos em segundo depois do meu também preto e branco Timão. Lembro-me que, não tinha medo do escuro, assim como não tenho medo do passado negro. Lembro-me de ter uma só calça para sair, uma só camisa, e meia e sapato, furado sapato amassado, lembro-me que não tinha como trocar a roupa todos os dias, vestia um short vermelho que insistia em grudar no tanque e eu mesmo lavava as minhas roupas, isto antes de trazer a bacia de lágrimas que nunca chorei. Quando já trabalhara e tinha salário fixo, pagava Maria valores simbólicos que ajudavam a comprar coisas para nós mesmos. Lembro-me das noites que dormia ao relento, ou dividia espaço com o cachorro da casa, meu único companheiro da vida de cão que levávamos, tudo porque brigava com meu primo Jorge, quando brincávamos, ele cinco anos mais novo que eu. Ele me agredia, me enchia e queria ser sempre o maior nas brincadeiras, quando eu irado me dispunha a revidar alguma agressão, ele chorava. Adivinha quem levava a culpa? Lembro-me das injúrias e agressões que recebia da minha tia Luzia, a mãe do Jorge Luiz, que tristeza, logo eu que, ainda, não tinha nome. Lembro-me do menino rejeitado , que todos faziam questão de lembrar que eu o era: rejeitado. Lembro-me da casa grande de minha avó Cibia, só não lembro da senzala porque estávamos no século errado. A casa que era dela, Teresa, Luzia (suas filhas) e Cláudia e Jorge, minha irmã mais velha e meu primo respectivamente. A casa era de todos, menos de Maria, que a governava, menos minha e de Tânia e do meu pai. Ah, meu pai não sabia o que era ter pai, primeiro morava em Barbacena e as vezes vinha para casa nos finais de semana quando não arranjava uma diversão melhor, e quando vinha saía logo, parecia ter formiga no pé, bebia feito gambá, e virava uma fera em casa onde soltara todas as suas neuras e frustrações, além do bafo insuportável, eu não sabia se ele bebia porque minha mãe o havia feito sofrer muito até a separação, ou se eles se separaram por causa da bebida, lembro-me que ele bebia muito antes da separação. Um dia quando era bem pequeno, minha mãe me encheu tanto a cabeça, dizia que meu pai não prestava que, eu quando ele chegou em casa, e ela xingava e brigava com ele, peguei uma régua da minha irmã e bati na cabeça tonta dele, fora a primeira, briga entre nós, depois de homem feito eu era a única pessoa da casa que ele respeitava mesmo de porre, acho que lembrara da surra de régua de trinta centímetros que tomara no passado, mas depois em outras discussões com minhas irmãs, ele embriagado e violento tentou as agredir com socos, lâminas e faca. Então fui obrigado a desarmá-lo e dá-lhe uma lição em espasmos de fúria que me acometi, uma vez salvando-as dei uma soco tão forte nele que quebrei uma porta de vidros que estava aberta e com outro soco o joguei do lado de lá da rua 13, sim morava na rua treze, qualquer coincidência é mera semelhança. Não obstante, voltemos à casa alguns anos antes, no tempo de minha avó, que aliás tinha um xodó por meu pai, era o queridinho dela, Ele nunca pagara uma conta, tampouco fizera alguma compra, e até hoje mesmo depois de ter parado de beber e fumar por causa do enfarte e das três pontes que carrega no peito. Lembro-me que morava em Jequitinhonha e só retornei a Belo Horizonte para cuidar dele, mas vamos nos ater na casa, nas lembranças da casa acolhedora, a casa dos rejeitados. A casa de minhas lembranças. Não quero relatar em lembranças as preferências das donas da casa. Tudo de bom que lá existia ou entrasse na casa, era para Cláudia e Jorge, pois estes sempre moraram lá, então eram os filhos legítimos da casa. Contudo, sou grato ao básico e trivial que tive, e que ajudou-me a sobreviver, embora desde os oito anos de idade, eu já acordara cedo para trabalhar com os rapazes da rua que, tinham carro e faziam rota de bares, restaurantes e escolas para entregar pão de queijo, salgados e doces, e eu ia de ajudante para contar a mercadoria e as vezes receber os pedidos. Depois trabalhei em bares e fabricas, por fim, aos quinze anos, me ingressei nesta repartição pública a qual estou até hoje, já com meus trinta e seis anos. Espero, se por ventura aposentar-me, não ser chamando de vagabundo, pois estou cansado desta vida de guerreiro, se acaso venha me aposentar cedo demais, não será por tão somente minha culpa, culparemos as palavras e letras, versos e rimas, papéis e lembranças, salário e sobrevivência e por falar em lembranças, estávamos na casa de vó Cibia, que morrera aos noventa e oito anos, lá vivem agora somente meu pai, minhas duas tias e meu primo-irmão. A casa velha e caindo aos pedaços, assim como estão velhas as minhas lembranças. O que difere é que minhas lembranças não caem aos pedaços. Faço-as de pedaço em pedaço, se apenas lembranças eu trago, lembranças mais amanhã eu faço, conto lembranças ao passo que junto-as. Lembranças têm pernas compridas e usam saia justa, não se pode mexer muito. Lembranças não se compra em feira à baciada, simplesmente ficam pela estrada a fazer morada, até que um dia as lembranças vêm em fila indiana e batem à porta de um certo indivíduo, se ele for criativo ou pensativo melhor, e repente antes de abrirmos a porta as lembranças já penetraram pelas frestas, e o que nos restam? Lembranças. E por mais que eu evite ou esterilize-me mais lembranças nascem. Lembranças são como formigas, são mensageiras e anjos que nos cuidam. Lembranças sempre hei de ter. Lembrança, lembre-se de mim, pois eu K estou a lembrar. Lembro-me... Lembro-me... LEMBRANÇAS ...
THACKYN - 11/10/1999
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