A caça ao tesouro só começava quando encontrávamos a primeira pista. Durante as férias na fazenda, minha tia, como quem não quer nada, deixava em nosso caminho algo que chamasse a atenção. Certa vez, por exemplo, foram botões que apareceram por todo lado.
Ao entregá-los, ela pedia que os colocássemos em sua caixinha. Um belo dia, alguém percebeu que ali havia um bilhete. O curioso leu e notou que era enigmático. Mostrou a algumas crianças, não a todas. Deciframos a charada e vimos que havia a indicação de um local. Lá, encontramos outra charada... e como crianças não conseguem disfarçar, logo todo mundo se agitou e dois grupos se formaram.
Cada elemento vigiava permanentemente aqueles do grupo adversário, fosse de dia ou de noite. Quantas vezes não percebi alguém se mexendo embaixo da minha cama... Em outras ocasiões, tive que dar longas caminhadas para despistar o xereta.
Mas o pior de tudo era no banheiro. Nem bem entrávamos, percebíamos a ponta dos pés de um espião escondidinho. Como a única menina da casa, tinha que sair correndo e protestar junto aos adultos. Ficou estabelecido, então, que ninguém podia ser vigiado ali. Mesmo assim, às vezes eu surpreendia alguma cabecinha no vitrô ou um olho no buraco da fechadura.
A busca do tesouro levava muitos dias, durante os quais nos sentíamos verdadeiros Sherlokes. Só nos faltavam lupas para examinarmos melhor as pegadas nos caminhos.
Perseguíamos e éramos perseguidos. Escutávamos conversas alheias. Ficávamos com dor no corpo de tanta ginástica para nos esconder em lugares não muito apropriados.
Tudo isso para nada, pois no final, éramos obrigados a fazer acordos com os inimigos. Era preciso confrontar os mapas achados. Muitas vezes o tesouro encontrava-se bem na junção dos papéis!
Descoberto o local, alguns se punham a cavar a terra, outros a olhar embaixo de pedras e outros ainda vasculhavam os galhos das árvores.
Finalmente o encontrávamos. Aberta a caixa, ali víamos um montinho de moedas e um montão de balas e bombons.