MEU PRIMEIRO BATOM
Eu e minha prima estávamos com sete anos e um dia, passando pelo centro da cidade, paramos diante da vitrine da farmácia. Começamos a examinar minuciosamente todos os produtos de beleza que, naquela época, não eram tantos assim. Resolvemos, então, comprar um batom.
Pedimos ao vendedor que nos mostrasse alguns e logo passamos a discutir como verdadeiras conhecedoras do assunto. Qual era mais bonito, o vermelho ou o rosa? Tão entretidas estávamos, que nem reparamos que havia mais gente por perto.
Farmácia era lugar em que homens se reuniam e ficavam horas falando sei lá o quê. Talvez sobre futebol, mulheres, política... Penso que também falavam da vida alheia, igualazinho às tão desprezadas comadres. Homem também é fofoqueiro, sabiam? Tanto é que de repente uma voz masculina me fez voltar à realidade.
_ Aí, hein, Beti? Vou contar pro Zé Geraldo!
Levei um susto enorme e fiquei tão envergonhada, que saí correndo puxando minha prima. Zé Geraldo era o meu pai!
Andando depressa, como que a fugir, eu sentia calor nas faces e sabia que elas estavam vermelhas, embora não tivesse passado blush, que naquela época se chamava rouge.
O maldito homem, que eu nem conhecia, estragou tudo.
Tinha que me lembrar que eu ainda era criança?
Beatriz Cruz
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