Cole o rosto no gradil de ferro da janela do seu quarto
e, enquanto aguarda o despertar das cores
lance mão da espada guerreira.
Sob proteção de Micael corte os espinheiros guardiões,
e se desembarace da natureza lesiva.
Principie a arte de abrir novos caminhos.
Deixe de lado velhos agasalhos que estavam a proteger seu corpo do frio vento
e passe a reverenciar os tecidos leves, de cores alegres.
Sinta a presença do sol
Ele vem para dissipar culpas
encobertas em névoas geladas...
É o justo momento em que pode apostar
no exercício da compaixão em toda a sua extensão:
para consigo mesmo e para com o próximo.
É primavera!
Quebre cadeados, abra os olhos, ajuste os ouvidos
junto a qualquer abertura que se lhe apresente.
Voeje nas asas dos pássaros. Enterneça-se ao escutar seus cânticos.
Toque a natureza com os acanhados dedos da alma.
Não mais é preciso sair em busca de lenha para alimentar o fogo.
É primavera!
Sinta o coração palpitar ao eclodir da luz nas multicores.
É primavera!
Uma estação perfeita, rainha de intermináveis configurações
a pipocar das profundezas da terra.
Perceba a embriaguez na auréola do cenário.
As fragrâncias, em tramas imperceptíveis, impregnam a atmosfera.
É primavera!
Aspire profundamente e tome posse dos principais instrumentos de sua orquestra.
Afine com precisão as cordas do seu pensar, sentir e querer
até a decorrência de uma gradação harmoniosa
das vozes que dimanam de dentro.
Siga a jornada em passos suaves
de forma a inibir o esbagoar das pétalas que caem,
avivam e perfumam.
Estenda os braços
e receba a vida em meio às matizes que iluminam o abraço.