Talvez, porque você fale em demasia. Talvez, porque goste de poesia. Talvez, porque tenha por hábito ficar preso nas letras. Talvez, porque aprecie Fernando Pessoa quando escreve para um poeta cujo negócio é falar:
"Cessa o seu canto./ Cessa, porque enquanto / o ouvi, ouvia / uma outra voz / como que vindo nos interstícios / do brando encanto / com que o teu canto / vinha até nós. / Ouvi-te e ouvi-a / no mesmo tempo / E diferentes / Juntas a cantar. / E a melodia / que não havia / Se agora a lembro, / faz-me chorar".
Talvez, porque desconheça o segredo da escuta e não tenha apreendido que "é preciso não escutar o que se diz para se poder ouvir o que ficou não-dito – a música".
Talvez, porque seu coração tenha sentido que " é na música que mora a verdade daquele que fala e quem diz a letra não percebe que está cantando".