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Contos-->O Espírito da Natureza -- 08/10/2001 - 20:56 (Edmundo Sérgio de Santana) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
Sexta-feira, início da tarde, como de hábito, Eddo saía do trabalho e ia direto para casa da namorada, Chris, que já o esperava para juntos irem à Nova Friburgo, cidade da região serrana do Rio de Janeiro. Era como um ritual, toda semana seguiam rumo à sua chácara, para, lá curtirem o fim de semana longe do agito da cidade grande. Era seu paraíso, seu recanto, um lugar encantado, onde passavam agradáveis horas de repouso.
Eddo era consultor de empresas e Chris artista plástica. Juntos formavam um belo casal. Ele, de cabelos pretos e lisos, alto e de peso proporcional, carregava uma simpatia contagiante. Chris, também simpática, porém mais recatada, era esguia como uma modelo, longos cabelos negros e lisos, e mantinha sempre singelamente um ar misterioso.
O caminho até a chácara era sempre divertido para os dois. Cantavam, conversavam, apreciavam a bela paisagem que a serra proporcionava e brincavam muito com a sinuosidade da estrada. Era comum, ao final da serra, buscar novos caminhos, ou procurar lugares novos que pudessem voltar e conhecer melhor.
Assim que passava pelo portão, parava o carro e seguia em direção à casa caminhando, aproveitando para respirar o ar puro daquele lugar. O caminho até a casa era marginado por cerejeiras japonesas, de ambos os lados, herança natural que seu pai deixara, pois havia plantado há vários anos. Esse passeio até a casa era uma forma de deixar para trás o estresse da semana. No meio do caminho lá vinha Seu João, o caseiro, homem de natureza simples, de estatura baixa e um jeito matuto que cativa a todos. Cuida da chácara com uma dedicação pouco comum, talvez por agradecimento ao falecido pai de Eddo, que o tirara da miséria ainda jovem. Cumprimentou o casal com um abraço especialmente carinhoso, como o de um pai, levou o carro para a garagem e carregou a bagagem para dentro.
Entrando em casa, Dona Judite, esposa de Seu João, já os esperava com o lanche pronto e um largo sorriso no rosto, virou-se para Chris e disse:
– Esse menino era tão sapeca minha filha – e abraçou Eddo carinhosamente.
– Como vai Dona Judite? – perguntou Eddo retribuindo o abraço – estou louco para comer esse lanche que só a senhora sabe fazer – disse em tom de agradecimento.
Dona Judite era uma senhora que todos gostariam de ter como avó. Preparava quitutes deliciosos e cuidava da casa como se sua fosse. Eddo sentia muito carinho e orgulho por tê-los por perto. Sentaram-se à mesa e comeram o saboroso lanche. Eddo fazia questão que o casal estivesse sempre junto às refeições, e ali contavam histórias e relembravam façanhas de outrora. Dona Judite não se cansava de contar para Chris como Eddo era levado e ela sempre o acobertava.
- Uma vez – contava Dona Judite – esse menino colocou um sapo dentro do meu guarda roupa – nesse momento Eddo já começava a rir – imagina o meu susto quando abri a porta e vi aquela coisa pulando em cima de mim... morro de medo de sapos.
Após muitas risadas, o jovem casal subiu para tomar banho. Eddo sempre ficava acordado até tarde, gostava de ler, ouvir música ou assistir filmes. Nas noites de primavera costumava andar pelo jardim e sempre na companhia de Chris, porém, naquela noite ela foi dormir mais cedo, Seu João e Dona Judite já tinham se recolhido e Eddo estava só, na sala. Era uma sala grande, a entrada lateral dava para o jardim e era feita de madeira e vidro, vasado o bastante para se ter uma bela vista da paisagem. Já era tarde da noite quando resolveu ir dormir. Ao apagar a luz que iluminava a casa por fora, percebeu uma claridade diferente. Como uma nuvem iluminada por dentro. Imaginou que Seu João tivesse instalado uma lâmpada para realçar o jardim e resolveu verificar.
Saiu da casa em direção a estranha claridade e então pode perceber que não se tratava de uma luz comum. O brilho vinha de uma das cerejeiras, e uma estranha força o arrastava naquela direção. Não sabia o que pensar, sentiu um tremor o absorvendo por dentro, quando de repente percebeu que o brilho emanava da própria cerejeira, como uma aura. Ao chegar próximo da árvore sentiu um calafrio e, de súbito uma voz:
– Até que enfim conseguiu enxergar – disse a cerejeira numa voz macia.
– Mas... o que... – gaguejava Eddo meio atônito.
Não entendia o que estava acontecendo. Já ouvira muitas coisas sobre fenômenos, mas nada que se assemelhasse àquela situação, e não sabia como agir. Percebendo sua inquietação, a cerejeira tentando acalmá-lo, disse:
– Não tenha receio, sou o Espírito da Natureza, a luz que vê é a energia que emana deste ser e a primeira que você consegue enxergar – tentando explicar a Eddo o que se passava.
– Como assim Espírito da Natureza, nunca ouvi falar – argumentara Eddo sobre tal situação.
– E como poderia? – retrucou a voz – quem me conhece não fica por aí comentando que conversa com árvores – e deu um sorriso.
– Isso é verdade – concordou Eddo, um pouco mais tranquilo – mas o que você quer? – perguntou Eddo, agora curioso.
– Na verdade, há tempos tento fazer contato com você – explicou – mas sei o quanto é difícil para os homens explorar as entranhas da natureza.
Neste momento, Chris apareceu na janela:
– Querido aconteceu alguma coisa? Estou ouvindo vozes.
– Chris, você consegue ver uma luz aqui onde estou? – pergunta Eddo como se querendo confirmar o que via.
Luz? Não querido, não vejo nada.
Ao voltar-se para a cerejeira, qual seu espanto ao perceber que a luz havia sumido. Por um instante pensou estar delirando, mas não achou motivos para tal.
Na manhã seguinte, após o café, Eddo e Chris saíram para uma caminhada. Ao longo do percurso, Chris notou que ele estava meio calado, o que era pouco comum.
– Algum problema meu amor? Você está muito quieto.
– Lindinha – como Eddo costumava chamá-la – lembra ontem à noite, quando perguntei se vira alguma luz?
– Lembro, mas o que tem isso.
Eddo então explica o ocorrido. Chris reage de forma natural, mas argumenta que poderia ser proveniente de estresse, mas não convence. Conversaram um pouco mais sobre o assunto, tentando encontrar respostas, porém, em vão. Contudo, ao observar as árvores e plantas no caminho, percebeu um tipo de névoa que as envolvia e sem entender, preferiu não comentar.
O dia passou tranquilo e Eddo resolveu não mais pensar naquele fato. Ao final da tarde, jogaram um pouco de baralho com Seu João e Dona Judite, conversaram e se divertiram. Naquela noite, Chris ficou com Eddo assistindo a um filme. Já era início de madrugada quando repentinamente, ele percebeu a estranha luz novamente. Mais uma vez, sentindo-se compelido, foi em sua direção.
Amor, o que foi? – pergunta Chris.
– Eddo – chamou a voz – chame sua namorada.
– Chris venha aqui um pouco, por favor – pediu Eddo carinhosamente a sua companheira.
Ao chegar junto a Eddo, Chris o abraça e neste momento espanta-se com o que vê. Ele acalma sua namorada e diz que não há motivos para se preocupar, e que agora, talvez possam entender tudo. O Espírito explica que poucos homens são escolhidos para esse encontro, pois quase ninguém atualmente carrega pureza no coração. Que esse contato leva anos para acontecer. Os dois experimentam uma emoção ímpar, algo que jamais imaginaram acontecer.
– Eddo – fala o Espírito – há anos os homens estão destruindo a natureza, exploram essa riqueza sem se preocupar que poderão ficar sem ela – agora a voz lamenta tanta ferocidade do homem contra ela.
– Eu entendo sua preocupação – reponde Chris ao apelo da voz.
– Não sei se vocês já perceberam – continua – mas a natureza está cobrando o seu preço. É imperativo que os homens tenham consciência do que vem ocorrendo.
Ele explicou que a vida dos homens está diretamente ligada ao bem estar e a preservação das florestas, pois num futuro não muito distante, irão perceber que sua energia está unificada com a natureza.
– Meus queridos – falou em tom carinhoso – percebem que cada vez mais doenças, ganância, violência e outros males estão ficando insuportáveis para o convívio da raça humana? Pois quanto mais destruição o homem projeta, menos vida ele terá, menos energia poderá captar de nossas tão ricas fontes.
– O que se pode fazer para combater toda essa violência? – perguntou Eddo, pronto a se tornar um ávido defensor.
– Espalhem a semente – disse o Espírito – ainda há esperança – escolhi vocês porque juntos têm a força do seu amor – explica cuidadosamente – e esse amor pode ser perfeitamente semeado e transferido para a natureza, somente assim poderá ser proveitoso.
Os dois sentiam-se flutuando, de repente começaram a sentir a energia da árvore penetrando em seus corpos, provocando uma sensação única, e enfim entenderam o recado. Eddo perguntou se poderiam conversar mais vezes. O Espírito respondeu que sempre que quisessem ele estaria disponível e mostrou como aproveitar a energia que as plantas emanam. Que dali por diante conseguiriam sentir e visualizar a energia de qualquer ser vivo e assim poder detectar onde seria necessário concentrar esforços. Que a semente deveria ser plantada principalmente nas crianças, pois elas têm mais sensibilidade e poderão ainda consertar, no futuro, o estrago do passado e presente. Para finalizar, explicou que há uma falsa expectativa de que o homem pode dominar a vida, ela sempre esteve à sua disposição e o homem insiste em apenas acreditar somente naquilo que pode ver, enquanto todas as respostas estão bem à frente de sua face.
Na manhã seguinte, como de costume Seu João e Dona Judite já estavam à sua espera para o café da manhã.
– Como passaram a noite? – perguntou Seu João.
– Maravilhosamente bem – respondeu Chris com um largo e intrigante sorriso nos lábios.
– Então imagino que enfim o Espírito conseguiu chamar sua atenção? – retrucou Dona Judite com um ar de mistério.
Os dois se olharam, riram e como se combinado, falaram:
– Então vocês já tiveram a experiência?
Os dois velhinhos limitaram-se a dar uma gostosa gargalhada.
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