Em vez de olhar para a sua própria cozinha, o deputado sai moralizando a cozinha alheia. A acusação de suspeição que ele faz contra Corrêa é absurda e soa apenas a mais uma das muitas tentativas dos petistas de pôr o guizo no pescoço da Justiça.
Muito bem. Que outros não digam, dizemos nós: a ética, e não a lei, impõe ao deputado Greenhalgh (PT-SP) que escolha o seu papel: ou bem ele escolhe a sua condição de presidente da mais importante comissão (a de Constituição e Justiça) da mais importante Casa do Legislativo ou bem opta por ser advogado militante de uma causa de claro viés político. A suspeição que ele aponta em Maurício Corrêa está, em verdade, nele próprio. Qual é a isenção deste senhor para conduzir o debate sobre o parecer constitucional de uma emenda que tenha relação com a questão agrária no país? Nenhuma.
Em vez de olhar para a sua própria cozinha, como recomendava o poeta Gregório de Matos já no século 17, sai moralizando a cozinha alheia. A acusação de suspeição que ele faz contra Corrêa é absurda e soa apenas a mais uma das muitas tentativas dos petistas de pôr a Justiça contra a parede, querendo obrigá-la a julgar segundo o clamor dos setores organizados da sociedade. A mesma trilha perseguiu há dias o próprio presidente da Câmara, João Paulo Cunha (PT-SP). E o que disse Corrêa? Que um juiz deve ser livre para julgar segundo o que a sua consciência entende do aparato legal. Ora, que outro critério o sr. Greenhalgh gostaria de ver a presidir um tribunal, um júri?
Vai mal a cultura jurídica no país, muito mal... Segundo as palavras que disse, não há absolutamente nada que impeça o juiz Maurício Corrêa de exercer plenamente a sua função constitucional. Suas palavras, na verdade, nesse caso em particular (e olhem que já censuramos o ministro aqui em outras circunstâncias...), são de uma correção a toda prova: que o juiz julgue segundo o que lhe faculta a Constituição. O STF, como corte que pode revisar sentenças, permanece na plena vigência de seu direito.
Ah, mas aí entra em curso uma outra operação: aquela que, dia após dia, pretende jogar a sociedade contra a Justiça. Irmanam-se, como se vê, no mesmo intento do Executivo, agora, figuras de proa do Legislativo. Não! Quem está impedido de exercer a dupla militância — impedido pela ética, insiste-se — é o deputado Greenhalgh.
Vai mal a cultura jurídica do país. Muito mal. É sintoma clássico de hipertrofia do Executivo...
Reunião
Fazem muito bem o bispo dos sem-terra e as lideranças do MST em procurar o ministro da Justiça para que tome medidas contra a violência no campo. Nada, nada mesmo, justifica o confronto armado. E tomara que o ministro siga o que eles pedem. É verdade que, dentre as medidas pretendidas, certamente não está o cumprimento da MP 2.183, aquela que o governo ignora solenemente e cuja não aplicação Thomaz Bastos já classificou de “acomodação tática” ou procrastinação parecida.
Em suma, soa algo hipócrita que um movimento dado a ocupar agências bancários, prédios públicos, propriedades alheias e a assaltar caminhões com víveres, tudo ao arrepio da lei, vá agora ao ministro pedir rigor no cumprimento da lei. Mas nunca é tarde.
Com efeito, a maior parte dos atos violentos no campo deriva no não-cumprimento de leis, não é mesmo?”