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Contos-->ÁLBUM RASGADO -- 10/04/2000 - 21:38 (Eustáquio Mário Ribeiro Braga) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
Quando criança adorava colecionar álbuns de figurinhas. Colecionei vários álbuns, e não me importava se caso não completasse um determinado álbum, pois muitos deles não completei por mais que tentasse ou fizesse pedido à editora, nunca recebia as figurinhas que faltavam. Reporto-me a um álbum em especial: "A coleção de figurinhas Walt Disney". Eu não tinha dinheiro que sobrasse para tal investimento, então eu ficava com as sobras de figurinhas do meu primo que, tinha mãe que o dava, e se caso não o dava, ele subtraía dinheiro da bolsa dela para comprar. Eu desde pequeno trabalhava e fazia bicos, porém só comprava quando podia e se não me fizesse falta depois. andando com os meninos mais espertinhos do bairro, aprendi certa manhas. Figurinhas só se compra na distribuidora, e se compra o pacote fechado contendo a quantidade de pacotinhos de um lote diferente para evitar as repetidas e não correr o risco de sair só as fáceis, além de sair bem em conta, pois o desconto poderia chegar em até 30% e o que era melhor poderiam sair muitas figurinhas difíceis que, poderiam valer muito no câmbio negro. Veja só, que ironia do destino, eu era criança e já era um micro especulador, logo eu que hoje combato tanto. É, mais até hoje coleciono e compro figurinhas na distribuidora, porém não especulo com as repetidas, as dou para meus sobrinhos e aos filhos dos meus amigos. Na coleção do álbum do campeonato brasileiro do ano passado ganhei uma bola de futebol de campo que, minha mulher achou dentro de um dos pacotinhos o vale brinde, trocamos e demos a um sobrinho nosso. Todavia, gostaria de voltar ao passado. Das frustrações de ficar com os álbuns incompletos, mas eu me virava. Na escola trocava com os colegas; jogava tapão que, muitos chamavam de bafo. Eu prefiro tapão, pois era isto que nós literalmente fazíamos na brincadeira gostosa, divertida e lucrativa. Quando encontrava um Mané tomava-lhe todas as figurinhas, e, ainda, ganhava dinheiro nas costa do otário, vendendo-as de volta para ele continuar no jogo, ou se caso ele tivesse apostado as que ele havia trocado para colar no álbum dele. É, mas a moeda tem dois lados, e cada dia nasce um espertinho para cada Mané, um dia esperto e outro não, então quando pegava um menino mais espertinho ou simplesmente mais forte que eu, o que não era difícil, pois sempre fui franzino, quando isto ocorria tratava logo de parar antes que fosse depenado. Ah, a coleção Walt Disney, era chocante, havia cromos simples, duplos, triplos e quádruplos. Lembro-me de uns meninos mais novos que eram colegas do meu primo, eles eram ricos, tinham vários álbuns e muitas figurinhas, porém estes não jogavam bafo e nem podíamos trocar, pois eles tinham quase todas figurinhas. Eu não tinha uma figura quádrupla do Tio Patinhas que, era uma das mais difíceis. Eles me faziam inveja exibindo àquela figurinha, e ela estava lá tão solitária naquele álbum cheio, e creio que estava cheia daqueles donos burgueses que, não davam a mínima para ela, a não ser para me matar de inveja. Veja só, quando criança a gente tem muita inveja de todas as outras crianças, seja pelo ter quanto pelo não ter, e ter liberdade para conseguir. E aquela figurinha me paquerava tanto, me cortejava e me atraía como uma garota da escola me atraía, mas a garota, esta , eu não teria coragem de roubar e a figurinha, aquela sim estava ao meu alcance. então combinei com meu primo, planejei aquele "crime hediondo" e resolvi colocá-lo em prática. Os meninos sortudos moravam na metade do caminho da minha escola, em um conjunto de apartamentos, seria fácil, extremamente fácil para mim e para eles conseguirem outra figurinha, bastaria eu jogar a isca e os patinhos me serviriam com o seu tão invejado Tio Patinhas. Chegado o grande dia eu não via a hora de colocar em prática o tão arquitetado plano. Atraí os meninos com um bolo enorme de figurinhas novas que eu havia ganhado. Mentira, eram as mesmas que eu havia baforado deles alguns dias antes, quando os convenci a jogar, e os deixei ganhar um pouquinho, depois o jogo virou e ganhei muitas. Claro que, misturei algumas difíceis no início do bolo só para despistá-los, vejam só, era o meu primeiro furto e também o primeiro estelionato, o golpe do paco. Lembro-me dos meninos, um deles devia ser uns dois anos mais novo que eu e o outro era da idade do meu primo. Então os patinhos morderam a isca, pedi a eles para trazer o álbum deles com a desculpa que não sabia a numeração das figurinhas que eu precisava para uma possível troca. Depois namorei r noivei, despi aquela figurinha por minutos que, pareciam séculos, e num bote certeiro como uma cascavel , V O E I na página onde esperava-me o mais delicioso e precioso tesouro, arranquei impiedosamente a página e saí como uma gazela a correr pela escadaria. Ganhei as ruas tal qual um puro sangue sem jóquei, corri. Eles gritavam, choravam e tentavam alcançar-me , seguiram-me em vão. Não sabiam onde eu morava, desolados desistiram em prantos. Eu com o orgulho de um vencedor de grande prêmio Brasil, cheguei em casa ofegante, desconfiado e cansado. Hesitei em olhar o bastão que eles me passaram à revelia para a minha tão somente minha vitória. O prazer era intenso, não podia me deparar com a realidade, seria o primeiro álbum que eu iria completar, daquele passo poderiam vir outros e outros. A minha primeira coleção preenchida , Iupe! E assim aconteceu preenchi os álbuns Amar É e o da Copa do Brasil. Todavia, aquele dia era o mais feliz da minha vida. Oh! não, o tio Patinhas estaria ali bem amassadinho, mas estaria nas minhas manoplas cerradas, trancadas à chave e segredo. Eu me esvaía em gozo e delírio, suava frio e tremia que nem taquara em pipa quando em vôo. Então de súbito decidi subir ao pódio, abrir a mão e me deliciar de prazer em erguer o troféu que jamais alcançara, a figurinha quádrupla do tio patinhas, justamente aquele pato pão duro, então trepei no muro encima do telhado e peguei o meu álbum e a cola. Hesitei, respirei fundo, antes de abrir a mão: lá estava o danado do tio patinhas, espere... estava sem as patinhas. Que grande azar! Eu rasgara o álbum tão rápido que só viera a metade da figurinha. Eu havia rasgado duas páginas, a primeira que não era a correta veio completa e a segunda a qual seria o alvo, viera somente a metade de cima e o tio patinhas ficara em baixo. Desde momento em diante a tristeza tomou conta de mim e o remorso veio latente. Eu não poderia fazer nada, pois acabara de praticar o meu primeiro crime e não tinha retorno devido a minha incompetência. Então relaxei por um instante e pensei em mil coisas boas que eu poderia fazer para compensar o meu crime. Não diria que era pecado, pois Jesus perdoou dois ladrões antes da morte do seu corpo, então Deus saberia entender minhas razões ou falta delas para tal atitude. Eu era criança e conhecia a Palavra, mas o que fazer se o reino dos céus são dados de graça às criancinhas, e o que fazer se era minha sina ficar na selva e ter que lutar com as armas que estavam ao meu alcance para sobreviver às injustiças. Logo eu que fui injusto com aqueles meninos, mas creio que a lição foi mais a pena que a frustrada tentativa de roubo. Se Clarice roubava rosas e amoras, não há crime em roubar patos, principalmente meio pato, creio merecer metade da pena e os benefícios da lei por ser réu primário, residência dos outros fixa e bons antecedentes.

Nunca mais roubei álbuns e também nunca mais me encontrei com os pobres ricos meninos. Me camuflei e mudei de caminho, assim como mudei meu ramo de crimes. Agora roubo o seu tempo, caro leitor, para contar uma estória banal do cotidiano, sem valor nenhum literário que, nem mesmo é excitante, ou diria pornográfica e vulgar, ao passo que dispo-me de falsos pudores e escancaro minhas lúdicas proezas do tempo de criança, enquanto viro a página do Álbum Rasgado, rasgo palavras e versos contados em prosa, roubo maior está por vir...Ainda tenho o espírito bondoso e caridoso, mas ninguém subestime o homem que é capaz de tudo.

Viro mais uma página, e os álbuns que nunca colecionei aqui rasgo, antes que alguém os rasguem.

THACKYN
13/10/1999
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