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Humor-->Hierarquias, eca! -- 16/11/2008 - 17:38 (Fernando Werneck Magalhães) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
Por razões que até Freud confessou-me desconhecer, nunca consegui estabelecer relações normais, muito menos carnais – como queria um certo ex-presidente argentino que não era muito certo das bolas, ou melhor, da bola, quero dizer, das idéias – com hierarquias.

(Nessas relações, como será que ele esperava que a Argentina se posicionasse perante o primo rico do Norte? Longe de mim qualquer insinuação de depravação pagã! Essa questão, apresento-a aos leitores por motivos meramente neurológicos, pois raciocino mal em termos geográficos. Além disso, acho que os “hermanos” merecem respeito irrestrito, total e que as regras do jogo devem ficar bem claras antes do início da partida, para – citando o fabuloso goleiro Garrincha - não haver confusão na hora da disputa de pênalti).

A primeira hierarquia que rejeitei, aos quinze anos de idade, foi a católica – diante da imponente Igreja onde eu confessava os pecadilhos prosaicos da minha espartana juventude e ainda faturava umas indulgências em troca de uns trocados. Foi assim fazendo que ajudei a construir a antiga Basílica de São Pedro, o Simão, situada bem ali, no Largo do Machado da minha juventude sem assaltos, que vivi na cidade do Rio de Janeiro dos meus bisavós.

Essa rejeição custou-me muito caro, se computados, como devidos, os juros e os abalos nas relações familiares - minha mãe que o diga. Consolo-me, porém, ao imaginar que a nossa divergência teológica (embora não-musical, pois continuo a ser um apreciador do cantochão que o papa Gregório I dignou-se a ensinar-me “circa” ano 600 da Era Dele) tenha servido, ao “menos”, para espantar o tédio e amenizar as dores de sua existência.

Por exemplo, emocionei-me, na última vez que a acompanhei às preces dominicais, ao surpreendê-la emocionada (isto é, ela, primeiro; depois, eu) com seus olhos vertendo inesperadas lágrimas diante da empolgação com que eu me esgoelava, entoando o “Gloria”. A ela, cristã até a medula, deve ter sido consolador dar-se conta de que este filho – que, suponho, fosse dela - não era, afinal, tão pródigo de todo (no sentido da parábola cristã – foi nesta época que comecei a me interessar por contar estórias para crianças, além de anedotas sempre politicamente incorretas ou irreverentes, quando não francamente obscenas, mea culpa, mea culpa, mea maxima culpa!).

Essa minha dificuldade estrutural de conviver com superstições – as minhas e as alheias – atrapalha até hoje, diga-se de passagem, o cultivo de certas amizades. E por que haveria de ser diferente? Acredito que o normal seja a discordância. Só que ninguém discorda impunemente da maioria, ainda que, para o teatralmente repetitivo Rodrigues, o Nelson, toda unanimidade seja burra. Exagero! Mas, mesmo asssim, louve-se nele o frasista de respeito!

Seja neste país “abençoado por Deus” (72º lugar em matéria de qualidade de vida em 2002 – êpa, preciso atualizar os meus dados!); seja no “democrático” Estados Unidos, onde reside um “jovem” jovem-da-vaca (ou seja, um cowboy, mais conhecido pelo cognome de Jorge Arbusto) que trocou o seu vício aquático por inspiradas (por quem?) retaliações e bombardeios; seja na Alemanha nazista de um psicopata e péssimo pintor de paredes chamado Hitler; seja na Rússia Soviética do guia (de mau gênio) dos (bons) povos”; seja nos etceteras do século passado (perdão, leitores, pela mentira verdadeira de gosto muito duvidoso do mentiroso confesso que fui, sou e nunca serei.)

Mas, ainda assim, acredito alegremente que o ideal da tolerância algum dia há de prevalecer – e que o Brasil se tornará, então, um imenso Portugal, como se cantava e encantava o Chico Buarque no final da década de 70, se a memória não me trai agora, depois de muito me trair antes – e sempre! (Acho que ficou claro o que eu quis dizer, não?)

Pelo menos, já não se forçam livre-pensadores a ingerir cicuta (como se fez a Sócrates; eu, podendo optar, ia de cianureto, pois há quem diga que dá barato); já não se crucificam heterodoxos (como Jesus); já não se atiram cristãos aos leões, como Nero se comprazia em fazer depois de demitir Sêneca e Burro – essa, a sua grande asneira! -, da mesma forma que, felizmente para mim, já não se permite que cristãos fundamentalistas churrasqueiem, alegremente, opositores em praça pública!

Estivesse eu no lugar deles, preferiria grelhar peixes, se possível pescados nas águas frias do Nordeste brasileiro, cuja brisa recomendo para quem sofre de insônia renitente, como eu. A propósito, aceito dicas de receitas caseiras para esse terrível mal, pois já está me cansando a beleza ficar fazendo meditação budista das duas às seis da manhã!

Depois, veio a lamentável rusticidade do golpe militar de 64, a velha Faculdade de Direito (no mês passado, arranquei um “bush” das paredes externas do prédio) e a oposição desesperada oferecida pelo idealismo incompetente do movimento estudantil.

Minha participação foi modesta, pois identifiquei e recusei de pronto o autoritarismo dos colegas afinados com a orientação dos nossos geniais líderes norte-coreanos (que, aliás, desperdiçaram, na oportunidade, a oportunidade – certo? - de permanecerem inatos).

E isso foi muito depois que o ex-seminarista georgiano havia partido desta para melhor (será?). Se, ao menos, tivesse ele, qual Brutus, acreditado na própria filosofia! Mas não! Se sim, quem sabe teria ele, num rasgo de dignidade nipônica, cometido “seppuku” (mais popularmente conhecido como haraquiri – e aqui vai uma colher de chá aos apedeutas que esqueceram o seu japonês numa tigela de sushi, que, diga-se de passagem, nunca comi, muito menos em tijela) e, assim, poupado o povo russo e o resto do mundo de muitas de suas insanidades.

Como muitas pessoas de minha geração, só vim a recompor minha relação com as forças armadas brasileiras depois da abertura política. Minto: de fato, no meu caso particular, isso veio pouco antes, por ocasião da resistência do presidente Geisel às manobras golpistas dos adeptos da barbárie autocrática e autoritária.

De qualquer forma, também no caso do meu distanciamento da vida militar, este não se fez sem “ruídos” familiares. Isso porque as minhas inclinações juvenis, de “maquisard” (anti-militaristas por vício de origem, isto é, defeito de fabricação, bebê prematuro que sou até hoje) bateram de frente com o espírito do meu paisano pai – mais militarista do que muito primo fardado, que sai à rua de quepe, baioneta calada e laptop (convém modernizar a Força! Por quê, para quê, não sei!)

Alimentava ele uma desabrida admiração, quase sexual (e aqui sigo a hilária irreverência de um falecido tio, a que um dos meus 30 primos-irmãos deu continuidade), por todos os militares do Brasil e do mundo, ditadores ou não – no que revelou insolúvel contradição, pois sempre se considerou um liberal, constitucionalista e, portanto, democrata, ainda que getulista (antes) e brizolista sério (depois). Por essas e outras é que desisti de entender as pessoas. E, seguindo os ingleses, agora só louvo os excêntricos – como o meu próprio pai!

Isso aconteceu porque batia forte em seu coração o sentimento de gratidão (uma possível preliminar da amizade verdadeira), pois atribuía a seu engajamento no Exército o privilégio de ter conseguido completar seus estudos, inclusive de Direito, pois, claro, ninguém é perfeito – muito menos eu também! E, depois, fez a sua pós-graduação na Escola Superior de Guerra, da qual nunca mais o seu espírito búdico conseguiu se libertar emocionalmente.

Será que a minha ignorância acerca da hierarquia castrense se deve ao fato de eu não ter feito serviço militar (após duas justas reprovações no exame pirotécnico, digo, psicotécnico)?

Por essa razão – e não por outra reles qualquer -, acho até que não teria manifestado muita surpresa caso fosse apresentado, algum dia, a patentes como capitães-do-ar (serão eles beija-flores?), generais-de-fragata ou contra-brigadeiros (serão eles do contra, como eu?). O que, é claro, é um exagero, pois, confesso, sempre soube que meu avô materno faturava uns bons cobres como contra-almirante, embora tivesse sido sempre um simples professor de matemática – profissão essa que já foi muito valorizada pela sociedade brasileira. Hoje, no more!“, valha-me Shakespeare!

Mas a minha monstruosa ignorância não fica aí. Também nunca soube como posicionar doutos cônegos ou monsenhores na hierarquia católica. Ou, se algum dia soube, esqueci, o que, aliás, já me aconteceu com muitas outras coisas de não menor importância. Porque, afinal, memória nunca foi o meu forte, pelo menos até que eu – confinado à Bastille por essa criminosa contravenção - começasse a colecionar e contar anedotas, a taxas crescentes, no atacado e no varejo.

Depois do ponto, sigo em frente: confesso porque confesso que existe aí um complicador adicional. Depois de tantas mudanças, não sei mais como ficaram as regras de aposentadoria dos militares (nem dos funcionários civis) – , mas, até algum tempo atrás, o militar era aposentado na patente imediatamente superior à que detinha na ativa. Não é por motivo outro que, para disfarçar a minha incompetência, trato, respeitosamente, todos os militares - de soldados a marechais – com quem me encontro, ou defronto (sempre de espírito desarmado), de “meu comandante”.

A esse cumprimento, um dos meus ex-vizinhos, milico, costumava responder à minha saudação matinal com algum comentário bem-humorado sofisticado, do gênero “Vou bem também!” E isso constitui uma filosófica razão de suficiência para que eu o tivesse em alta conta, vez que, para mim, humor constitui virtude cardial (sorry, queria dizer capital, tipo Buenos Aires do Brasil, para facilitar a vida dos primos gringos), merecendo, pois, comemoração a manutenção/ão/ão de uma disposição/ção/ção bem-humorada nesta vida, o que nem sempre é fácil, ainda que contagie – no bom sentido!

É o que tento alcançar e nisso tenho sucesso às vezes, mas nem sempre, pois ninguém é de ferro. Caberia esclarecer, ademais, que o meu voto sempre prestigia o artista, político ou médico capaz de prescrever igual postura mesmo a quem considere esta vida um vale de lágrimas - o que não é absolutamente o meu caso. Muito pelo contrário, apesar dos pesares. Búúúú!






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