NOSSA CADELINHA PERI
Um dia acordamos com uma novidade. Havia no quintal uma cadelinha arredia. Magra, de olhar assustado, fugia das crianças. Era branca com uma mancha amarela e outra castanha. Vira-lata. Papai contou que a encontrou na rua, à noite, e ela o seguiu. Achando-a com jeito de faminta, deu-lhe comida. Nunca mais ela foi embora.
Nós gostamos, não tínhamos animais a não ser as galinhas. Quando pensamos em dar-lhe um nome, alguém sugeriu Peri e os outros aprovaram, menos papai. Disse que era um nome masculino, de índio, talvez fosse melhor Ceci. Mas Ceci era aquela amiga da família, a senhora que fazia nossos lindos bolos de aniversário... Não teve jeito, passamos a chamá-la Peri e assim ficou.
Pouco tempo depois, os adultos perceberam que ela estava grávida e não tardou muito a nascer o filhote Lord, branco com manchas pretas. Novo ainda era engraçadinho, mas bastou crescer um pouco para tornar-se antipático. Não queria agrados, rosnava por qualquer coisa. Acho que não gostava muito de crianças, ou tinha ciúmes da mãe, sei lá.
Peri, ao contrário, era dócil, ficava sempre ao nosso lado em correrias pelo quintal.
Um dia Lord avançou no meu irmãozinho Geraldo e pregou-lhe uma mordida no rosto.
Mamãe, então, tratou de livrar-se logo dele. Ficamos só com a Peri, que nos acompanhou para sempre, até o dia em que morreu.
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