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Artigos-->Carta de um índio ao rei Dom Manoel -- 25/07/2001 - 02:37 (Rafael Zanatta) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
Caro Dom Manoel



Você certamente não me conhece e com certeza, não me conhecerá.

Eu, perto de você, não passo de uma formiga, mas para meu povo, eu significava muito...

Durante muitos anos, nós vivemos e aprendemos tudo sobre esta terra querida que amávamos.

Tudo era de todos, todos se respeitavam e todos compartilhavam o que tinham.

Porém, bastou seu povo chegar que tudo virou um pesadelo.

Sem perguntar nada a ninguém, vocês firmaram uma bandeira e aqui ficaram, desrespeitando nosso povo e obrigando-nos a obedecer suas leis e costumes.

Nós, que éramos em conjunto, donos desta terra, obedecíamos à natureza e aos costumes sagrados, fomos catequizados e muitos de nós escravizados, para servir a vocês que, como sempre, só queriam lucrar com a “Nova Colônia”.

As terras que eram de todos, passaram a ser suas, os animais e as plantas foram destruídos já que vocês queriam nossas madeiras e nossos minérios, que para nós não valiam nada.

Dói saber que milhares de índios morreram, defendendo o que sempre foi nosso, não seu.

Com arcos-e-flechas, mal e mal feríamos vocês, enquanto que com seus canhões, não sobrava ninguém.

Eu fui obrigado a aceitar sua língua, sendo proibido de continuar ensinando aquilo que meu pai me ensinou.

Ainda me lembro daquele tempo, mais de dez milhões de índios ocupavam todo esse território precisando usar armas apenas para caçar, que era uma caça de auto-sustento, para comer. As matas, se me lembro, eram enormes, cobertos por grandes árvores que escondiam uma fauna e flora muito mais rica que seu império.

Mas não podemos esquecer de uma coisa: “São nossos 500 anos”. Quinhentos anos de caravelas, de desenganos e de invasões.

Vivíamos bem, muito bem por sinal, mas foi só vocês chegarem, e a história feliz virou tragédia.

Com fome de terras, ouro, sangue, riquezas, não perguntaram quem éramos nós e, como se já fossem donos da terra, nos classificaram abaixo dos animais.

Quando nos demos conta, arames cercavam a passavam entre nossas terras. A cruz que traziam na mão, deu lugar a uma espada, que feria e matava quem se opunha.

Estou de luto, não estou mudo, enquanto não calarem minha voz, eu vou falar, e muita coisa, tentarei mudar. Com este pobre vocabulário, tentarei acender a chama de revolucionários, naqueles que batalham pela dignidade do ser humano, que não deve deixar de garantir os direitos de cada ser humano.

Os poucos índios que restam de meu povo não vêm nada para comemorar. Para nós, estes quinhentos anos são a continuidade dos problemas, massacre, da violação dos direitos dos povos indígenas e do racismo que prevalece nesse país, embora os negros fiquem em maioria em nosso censo.

Não comemoramos, mas sim, lutamos muito com o objetivo de conseguir o bem de nosso futuro.

O Brasil não vê, mas está comemorando uma invasão que não foi feita por brasileiros. Estamos formando heróis, mesmo que eles nem sejam brasileiros.

Comemorar 500 anos significa comemorar o aniversário de um país que está subordinado a outros.

Se estamos comemorando “nossos” 500 anos, deveríamos então comemorar, em 2007, os 200 anos que a família real veio para cá, fugindo das invasões feitas por Napoleão e o Exército Francês.

Vocês, portugueses, ao invés de deixarem nossas riquezas aqui, levaram-nas embora para pagar suas dívidas e seus castelos, se esquecendo que esta riqueza deveria ser destinada a este povo que, desde pequeno, vive aqui.

Vocês nos manipulavam e trocavam coisas sem valor por uma coisa que, mais tarde, faltaria em nosso país. Diante desta situação como podemos descansar em “berço esplêndido” , como podemos dizer que esta pátria é nossa “pátria amada mãe gentil” se fizemos tantas coisas contra ela e por fim, como podemos ser “gigantes por natureza” se estamos escrevendo nossa história de uma maneira errada. Precisamos, acima de tudo, proteger nossas riquezas culturais para enfim, podermos ser livres.

Me despeço de você, lembrando que você teve grande participação nisso tudo, e em parte, é responsável por nós termos agora, apenas 10% de nossos antigos territórios e dos mais de dez milhões de índios, hoje, só existem quatrocentos mil.

Pedro Álvares Cabral, de Portugal, não foi o primeiro a pisar no Brasil, antes dele vieram muitos e muitos outros que eram de sangue brasileiros.

Não posso agradecer pelo que vocês fizeram, com certeza, estaríamos melhor se vocês tivessem ao menos nos respeitados.

um índio...

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