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Humor-->O Gimnosofista Traidor Que Foi às Compras -- 02/12/2008 - 14:23 (Fernando Werneck Magalhães) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos

Conheço gente que procura se compensar – e às vezes consegue, pois na vida tudo é possível, exceto o impossível – dos trancos da vida no “shopping”. Seria essa uma maneira vã e fútil de afugentar frustrações e tristezas? Talvez - mas, afinal, quem não as tem? E quem sou eu para julgá-las? E aqui solto uma verdade genérica o suficiente para atrair discordância de todos os quadrantes: ir às compras causa orquite – nem que seja de itens básicos, necessários à sobrevivência ou à boa convivência em sociedade.

O rei Lear, por exemplo, quando acusado por uma de suas ingratas filhas de ser luxento, por não querer abrir mão de seu séquito, defendeu-se com o capcioso argumento de que só os animais não têm luxo. Confesso que não gostei desse momento shakespeareano. Também Marx teve dificuldade em entender o luxo nosso de cada dia. Esperto como ele só, rápido se deu conta de que o luxo de ontem virou a necessidade de hoje e poderá, portanto, amanhã estar escondida dentro da cesta básica exigida pelos trabalhadores para a reprodução da sua força de trabalho. Como aconteceu, por exemplo, com o reles chá preto, que, eca, transborda de cafeína.

No final das contas, será a obsessão-de-seguir-a-moda moralmente inferior ao apetite-por-uma-boa- bacalhoada-portuguesa, acompanhada de um vinho tinto de qualidade e seguida de um desses cigarros franceses fortes (que têm a vantagem – suspeita – de causar câncer instantaneamente)?

Quanto a mim, apenas no período de férias me dispunha ao sacrifício supremo de sair de meu escritório para comprar vestuário que cobrisse a minha excepcional nudez. Lembro-me, a propósito, de que, há uns dez anos, fez um calor excepcional na cidade. Eu havia, então, recém adquirido cinto, meias, cuecas e carteira e vinha caminhando – com passos lentos, mas o pensamento célere de um samurai, pela transversal do beco de uma rua - de volta para casa, seriamente preocupado em chegar a tempo e hora de filar o maravilhoso boião prometido pela secretária nova, cozinheira militante.

Por aí ia quando, de repente, veio-me a lembrança de que ficara a meu cargo providenciar o presente de Natal de meu pai. Tinha que ser livro, que ele, como eu, colecionava, mas não lia. Ele porque resolveu abandonar os seus óculos. Eu porque, ciclópeo que fiquei, não encontrei mais monóculo que me servisse. Só para variar, portanto, decidi que lhe ofereceria, então, uma camisa. Após pesquisas em diversas lojas, encontrei uma, de manga curta e discreta cor marrom – tipo de burro quando foge.

Pareceu-me ideal para uma pessoa cronologicamente idosa e, como sói acontecer, bastante conservadora em matéria de vestimenta. Assim como eu, que, para evitar vexames do gênero (algo como risinhos disfarçados das vendedoras), decidi parar de me vestir. Daí que virei gimnosofista. Como se vê – e aqui o demonstro –, longe de ser trivial, o ato de presentear com sucesso exige uma certa intimidade, mesmo que seja com o próprio pai, que, aliás, não vejo há décadas por motivos que só a mim dizem respeito. A menos que se aceite reduzi-lo (o presente ato???) a uma mera obrigação burocrática, que, depois de ler o Campos de Carvalho (não sei se ontem ou em l972), resolvi atirá-las todas pela janela afora!




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