Meia-Noite, Christine concentrava-se diante da massa de argila ainda desforme, e preparava-se para mais uma criação. Toda sua sensibilidade era transportada para suas obras. Penteava seus longos cabelos, lisos e negros como a noite, num ritual que antecedia seu trabalho, prendia-os sempre com a mesma fita, presente que recebera de seu pai, hoje falecido.
Pelos olhos castanhos, perdidos no universo, buscava forma ideal para dar à massa, como se no cosmo procurasse seu modelo. Com aquele sorriso que denunciava sua habitual alegria, iniciava seu trabalho, feliz por ter encontrado a inspiração.
Após alguns minutos modelando sua peça, nota-se em sua pele clara, manchas da argila que espalham-se por seu rosto fino, de traços suaves e beleza angelical. Num instante erra no modelo, parte do trabalho perdido, contudo, nem por isso perde a calma, mantém-se serena como sempre, pensa no amor distante e no segredo que se esconde, e menciona aquele olhar maroto como o de uma criança que aprontou.
Levanta-se, corpo esguio, peso equilibrado, de vestido verde e estampas com tom de natureza, confortável para seu tipo de atividade, acaricia com seus longos dedos uma de suas flores, diz-lhe como está linda hoje, e perde-se em recordações de sua infância, quando seu pai lhe incentivava a ingressar no mundo da arte, já prevendo e percebendo seu talento natural, e hoje com seus trinta anos, experiente e bem sucedida. De súbito, volta à realidade e mais uma vez concentra-se em sua peça, sorri enchendo o ambiente de pura energia, conserta o que errou e termina sua obra, tão bela quanto a flor que reside em seu coração.
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