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Humor-->A Exegese da Ambigüidade -- 11/12/2008 - 15:35 (Fernando Werneck Magalhães) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
Tudo depende de interpretação, inclusive a realidade de um fato. Traduzindo: meteu exegese no meio, a gente acaba perdido no orgiástico labirinto chinês de Creta – criação de Minos, que usou o lúdico projeto arquitetônico de Dédalo para nele esconder o monstruoso Minotauro. Este, como qualquer apedeuta sabe, foi forçado a cometer harakiri pelo herói grego Teseu, depois de um embalo com Ariadne.

(Os leitores que me perdoem, mas, por mais que tente, não consigo expulsar da cachola essas obsedantes estórias fenícias, que aprendi lendo o dicionário de tupi-guarani, elaborado pelo padre Antonio Vieira, meu arquifamoso descendente intelectual, cuja obra completa, de quase um metro de largura, acabo de surrupiar da biblioteca do meu pai).

Por essa razão, que hoje considero justa, a minha própria mãe interditou-me a leitura do Velho Testamento, receosa que eu adquirisse um vulgar sotaque aramaico. Fui salvo pelo meu liberal pai, que sacou a espada de almirante do seu matemático sogro para garantir-me a liberdade de ler Krishnamurti no original, que não me lembra fosse páli, sânscrito ou prácrito.

Não espanta, portanto, que os melhores filólogos, etimologistas, redatores, jornalistas, poetas e críticos literários (que se criticam entre si, eles ou mais) possam ser encontrados, ainda que escondidos, nas nossas democráticas e impolutas casas congressuais. Eles nos fazem falta. E como! E por quê?

Porque - para se minimizar ambigüidade e exegese – faz-se necessário que seja gramaticalmente correta e semanticamente precisa a redação das nossas Constituições, suas infreqüentes (porque quase que diárias) emendas, da mesma forma que a nossa multiquilométrica legislação infraconstitucional.

Mas, caramba, sem ambigüidade, como conseguir arregimentar apoio parlamentar para a votação de matérias em que estejam envolvidos interesses discrepantes (quase todas)? Tudo bem: alguma ambigüidade é inevitável - quando não for proposital, ou seja, vise dar trabalho e, portanto, justificar os modestos salários do Judiciário.

Sinceramente, não creio, portanto, que a ambigüidade em si mereça aplauso ou apupo – tudo dependendo do uso que dela se faça. Eu, neobudista que sou metido a pseudogrego, julgo-me, às avessas, cultor do caminho do meio – e por que não, também da ambigüidade, embora com propósitos não-políticos.

Por isso, assim que retornei, são e salvo, da LSE (Escola de Economia de Londres) – como um social-democrata até a medula, exalando horror a fundamentalismo de qualquer gênero –, a primeira providência que tomei foi tornar-me um militante ativo da golpista UDN (União Democrática Nacional), então encantada pela imbatível retórica de um (ainda BEM) BEM distante primo, mais conhecido como um tal de Carlos Lacerda.

(Sua principal virtude teologal foi a da compaixão, especialmente em relação aos mendigos que, por definição, não tinham onde cair mortos, o que o motivou a criar a veneranda Casa de Repouso do Rio da Guarda).

Graças a esse estratagema, consegui sobreviver incólume – “home and dry”, como diríamos os armênios, isto é, não fiquei ao relento e, por isso não peguei a gripe aviária – à Redentora e restabeleci, de pronto, uma estranha, porque cristã, forma de democracia nesta pecaminosa Terra de Santa Cruz, onde acabei, mais tarde, desterrado e provido apenas do papel e lápis que me permitiram arrancar este passado tenebroso do traseiro da minha encanecida cabeça, sem shapoo que nela dê jeito!


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