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Humor-->Alarme Falso -- 13/12/2008 - 12:46 (Fernando Werneck Magalhães) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos

Ao final de um passeio marcial pela Itália dos anos 40 - quando escapou de ser um dos contrariados heróis brasileiros que lá deixaram a vida no altar de uma glória metafísica -, tio Edu teve os seus quinze minutos de fama. Assim, rendida a simpática tropa alemã (pena que os primos Mendel tivessem sido trucidados por ordem do “homem do bigodinho ridículo”), foi ele escalado para ciceronear o seu capitão à Cidade Luz, onde pernoitaram por uma semana. Se era inverno, que horror! Eu me teria recusado, pintando o nariz de vermelho-palhaço e desfilado, despudoradamente, pela avenida Atlântica com dois contonetes nos meus três ouvidos!

De volta à “Bota”, isto é, à bela terra do Berlusconi - democrata para ninguém colocar defeito, exceto eu e milhões de patrícios italianos -, empurraram-no, em Gênova, para dentro de um navio de transporte de tropa. Devidamente subornado, o capitão do mesmo prestou-lhe o caridoso obséquio de trazê-lo - com escala gastronômicas e musicais, em Nápoles (quem resiste a suas encantoras cançonetas mafiosas?), Recife (que tal um frevo para desenferrujar?) e Santos (onde se faz uma pizza sem queijo, pois com queijo é mais cara) - até o Rio de Janeiro, quando esta já procurava destacar-se como uma das Maravilhas mais perigosas do Planeta. Mas faltava o Brizola aparecer na televisão e ser eleito – o que, felizmente, não tardou a acontecer!

Eram cerca de 460, os milicos brasileiros a bordo. No meio do trajeto, isto é, do Oceano Atlântico – um susto! Ponta de iceberg? Não, alarme de incêndio!

Por razão que ambos desconhecemos até hoje, o navio só estava equipado com quatro botes salva-vidas – suficientes para amontoar não mais do que 80 felizardos. O restante que se virasse com os coletes que receberam ao embarcar e que estabelecessem um frutífero diálogo com os peixes, a fim de obter deles salvo-conduto para aguardar, com as nádegas incólumes, a chegada de socorro.

Meu tio, um gajo prevenido, tivera o bom senso de, antes do embarque, remeter – só pode ter sido por vias transversas - para a Pátria Amada as suas modestas economias de guerra. Daí que dispunha de poucos cobres no bolso. Mas a verdadeira encucação dele (que nenhum dos psicólogos do navio conseguiu dar jeito) é que não lhe apetecia servir de pasto (ou repasto) aos tubarões e outros primos tão primitivos quanto. Inclusive porque, jovem na idade crítica dos seus 24 anos, os peixes poderiam achar suas carnes apetitosas e querer, invasivamente, abusar dele, o que, hoje em dia, seria considerado muito politicamente incorreto!

Daí que, num estalar de dedos, tomou a irreversível decisão de, caso o incêndio levasse o navio a pique, cometer suicído com toda pompa e glória. E o que mais fazer? Consultado, em segredo, o oráculo de Delfos, com “ph”, dirigiu-se, célere, ao bar (creio que do navio). Lá, com a pistola no coldre engatilhada e sua proverbial tranqüilidade oriental, chamou o garçom e pediu-lhe uma cervinha bem gelada.

Mas acontece que a vida quase nunca segue na direção que a gente quer ou teme. Não é que os deuses lhe foram propícios? Logo, logo, o incêndio foi debelado. Tão rápido que nem chegou a ficar de porre. Apenas um pouco mais pobre ao chegar - são, salvo e seco - ao seu destino.

Se concretizada a pior hipótese, talvez a cerveja lhe tivesse anestesiado parte dos neurônios e a água do oceano lhe parecido menos gélida. E, quem sabe, uma outra vida (se existe) seja melhor que esta, ao menos em matéria de violência no trânsito e fora dele; na praia e fora dela; na avenida Rio Branco, em Botafogo, no aprazível bairro de Nova Jerusalém etc. Mas, por via de dúvidas, parece que a maioria das pessoas, do Himalaia aos pampas argentinos, prefere não arriscar. E que viva esta vida dura para ninguém botar defeito!
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