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Humor-->A Rússia e os Cabelos Brancos -- 14/12/2008 - 17:53 (Fernando Werneck Magalhães) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
Contrariando convicção que me custou mais de 60 anos para formar, encontrei, há um par de anos, uma das poucas amigas de cabelos grisalhos que me sobraram. Confissão expontânea e alegre dela: mal conseguir esperar para tê-los todos brancos. Elogiei o seu gosto século XVIII, embora ela rejeitasse, "in limine", a opção natural de aderir às alvas perucas dessa época.

No dia anterior, o meu saudoso terceiro pai resolvera massagear o meu ego, elogiando o meu corte de cabelo, que, entretanto, eu ainda não tivera suficiente desapego à vaidade para desbastá-lo à máquina número três. Naquela ocasião, realizei ademais a descoberta sensacional de que usávamos o mesmo shampoo, cujo fabricante gabava ser capaz de eliminar o amarelado dos cabelos brancos – dele, não os meus, que resistem, com sua cor indefinida de papel reciclado.

Bem a propósito, li no jornal um despropósito que me entristeceu – que a população russa seguia uma trajetória de redução, com a expectativa de vida dos homens despencando para 58 anos, devido, entre outros fatores principais, ao aumento da criminalidade e abuso de bebida alcoólica.

E que, se medidas apropriadas não fossem tomadas a tempo, a tendência demográfica faria a população encolher – de 145 para 100 milhões de pessoas nos próximos 40 ou 50 anos (sugestão aos leitores: não confiem cegamente na minha memória de economista, assim como eu prometo não confiar na de vocês!).

Essa notícia atirou-me, então, na “fossa” por dois motivos: primeiro, porque alinho-me entre os admiradores irrestritos da literatura desse país; segundo, porque já estive em Moscou e São Petersburgo na década de 70; e terceiro, porque, durante a viagem de trem de uma cidade à outra, deliciei-me em ouvir a música ambiente atacar com “A banda’, do nosso Chico Buarque.

Depois, à noite, assistindo o programa de música clássica da TV Senado, de novo veio à tona o assunto “cabelos brancos”. Surgiram dois senhores nessa condição. Um, o seu simpático apresentador, o falecido ex-senador Artur da Távola, que, motivado talvez pela própria calvice, elogiou desbragadamente a vasta e despigmentada cabeleira do barítono russo Dmitri Hvorostovski.

Este apresentou-se num magnífico dueto com a linda soprano Anna Netrebko, acompanhados – ambos - pela Orquestra Filarmônica de São Peterburgo.

Mas o que me surpreendeu mais favoravelmente foi, além da competência dos intérpretes russos, a sua elegância (o decote do soprano deixava à vista, mui discretamente, a maior parte do seu osso peitoral externo; não sei como fui reparar nisso – logo eu, o desligadão de um pseudobudista!).

Lado positivo: o fato de o barítono exibir despudoradamente a sua cabeleira podia, sabe Zeus, significar que a situação socioeconômica russa não estivesse tão preta assim. Ou melhor, que o risco de ser assaltado fosse menor do que as estatísticas sugeriam – o que não seria de surpreender, pois, como se sabe, os números quase sempre não mentem. Mas nem sempre!

Mas também poderia ser o caso de esse artista só circular em ambientes seguros e refinados. Ou, então, que o seu receio de ser alvo de assalto fosse inferior ao prazer que ele derivava de ostentar a sua baloiçante cabeleira. Ou, então, que fosse um perigoso faixa-preta de judô, ombreando-se, nesse pormenor maior, ao ex-presidente Putin. Ou, então, que usasse a tal peruca do século XVIII!




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