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Discursos-->O IMPRESSIONANTE DISCURSO DO HOMEM DA PRAÇA -- 21/05/2004 - 12:44 (ADELMARIO SAMPAIO) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
O IMPRESSIONANTE DISCURSO DO HOMEM DA PRAÇA

Um dia eu andei pelas ruas movimentadas da cidade. E por todos os lugares que ia, via um homem falando um discurso sozinho, mas passava de largo. Mas o que me encabulava, era que mesmo que eu andasse em linha reta por uma rua, ou mudasse muitas vezes de rumo, sempre encontrava o mesmo homem, que se antecipava a mim, e quando eu chegava por exemplo a uma praça por onde ainda não tinha passado, lá estava ele a fazer o seu discurso.
Eu já estava muito intrigado com o que estava acontecendo, e num desses encontros, resolvi parar e ouvi-lo.
A praça fervilhava. Tinha gente de todo tipo que vendia suas mercadorias ou pregava seus evangelhos, e todos pareciam ter os seus públicos, mas aquele homem, não. Ele falava sozinho. E não tinha mesmo nada que pudesse atrair as pessoas para seu discurso. Não se vestia bem, embora a sua roupa fosse muito limpa. Não tinha microfones como os pregadores e vendedores, e além disso, a sua voz não era poderosa como desses camelôs que gritam e podem ser ouvidos de longe. Falava baixo, e a sua voz embora bonita e melodiosa, parecia ser um pouco rouca. Deduzi logo que suas cordas vocais deveriam estar cansadas por estar ali falando sozinho por muito tempo.
Quando me aproximei ele me olhou. Não sei explicar a sensação que senti, mas tive a impressão que já o havia visto antes, como essas impressões que temos algumas vezes quando encontramos algumas pessoas estranhas. Parei sozinho a poucos metros dele e me constitui a sua platéia. Ele não alterou seu discurso, e em muito pouco tempo eu estava cativado por ele. E por mais que eu tentasse, não conseguia deixar de ouvir as palavras que por muitos anos ficaram ressoando em meu coração. Quero transcrever um pouco do que anotei do intrigante discurso do mais ainda intrigante pregador:

“... Que é o inferno senão o medo?... Porque o medo é que antecipa e faz real o que o próprio medo teme. Que é a morte senão o medo da morte?... E não foi justamente por causa do medo que tantos tentaram fugir da morte, e na fuga a encontraram sorridente com os braços abertos?... E não é o medo do inferno que conduz o homem a ele?... E não é o medo da pobreza que faz com que os ricos sejam pobres, e juntem dinheiro do qual jamais poderão usufruir? E não é também o medo que separa os que vivem na mesma casa e faz com que em pouco tempo se tornem inimigos?...”

Parou um pouco o seu discurso e olhou novamente pra mim, e por um instante pensei que me sorriria, mas não o fez. Analisei um pouco a sua fala e vi quão tamanha era a confiança que falava o seu discurso. E mais uma vez alteou o olhar acima da minha cabeça, e ouvi:

“Mas o amor é como a confiança, que dissipa as trevas do medo... É como a luz que clareia ao nosso redor e nos dá a certeza de que nada de perigoso há. E há um usufruir em tudo que a paz pode conceder a uma alma que ama e é dominada pelo amor. Porque quem ama o amor de que falo, sabe ou saberá que essas palavras não são vazias, porque saíram daquele que inspira tudo que de verdadeiro há... Porque é o amor que trás ao presente tudo aquilo que o que espera no amor, recebe...”

Pensei que o discurso continuaria, mas o homem baixou novamente o olhar e com o mesmo semblante meio sorridente me encarou e caminhou na minha direção, mas passou por mim. Eu fiquei sem me virar por um pouco, pensando que ele estivesse às minhas costas, mas quando virei para olhá-lo, não o avistei mais.

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Adelmario Sampaio
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