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Humor-->A "Upper Class" Inglesa Ainda Respira -- 15/12/2008 - 16:57 (Fernando Werneck Magalhães) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos

Recordo-me bem de um estudante inglês em Londres. Apresentei-me como um funcionário tupiniquim - dos públicos. Revelou-me, sem parecer estar a jactar-se, de que era só “um banqueiro” – o único com quem conversei em 60 anos de vida e lá vai fumaça.

Tivesse isso acontecido hoje, eu não teria perdido a oportunidade de colocá-lo diante do seguinte dilema: supondo que ele estivesse necessitado de um transplante cardíaco e pudesse optar entre o coração pertencente a um maratonista keniano de 23 anos ou um outro retirado de banqueiro suíço de 80 (ambos vítimas recentes de acidente fatalíssimo), qual deles escolheria?

Para não gastar o precioso tempo dos leitores, passo-lhes logo a cola: gente racional, como os economistas (exceto eu), deveria escolher o coração do banqueiro suíço, visto que se tratava de um órgão totalmente virgem – isto é, que nunca fora usado antes.

Gostava da companhia daquele carinha tão jovem quanto eu ou mais (isto é, menos; êpa!), pois - que fosse um banqueiro! - parecia-me ser um sujeito decente. Supreendeu-me saber que sua qualificação universitária era em Inglês. E eu, que me especializara no Direito Errado? Havia um guri americano que era o meu consultor em História. Outro se dizia teólogo (talvez fosse o próprio Deus-Pai) and so on and so forth (e assim por diante), como gostava de se expressar um simpático velhinho conhecido como o famoso Lord Robbins.

E assim, o tempo foi passando a jato. Até que, num belo dia, o jovem banqueiro – meio oculto pelas baforadas do seu cachimbo keynesiano – mencionou o fato de já ter estado no Brasil, onde a sua família possuía uma mina de ouro (além de outra de diamantes na África).

Devia haver um fundo de verdade nessa estória, pois, dias depois, pediu-me ele – encarecidamente - que o ajudasse a escrever uma carta de agradecimento, em português, para um amigo ou sócio brasileiro que recentemente o havia convidado para um reles jantar de gala.

Esta foi uma oportunidade para eu aprender uma importante diferença cultural em matéria de etiqueta. Nós, brasileiros, diante de situações análogas jamais nos daríamos esse trabalho - somos muito menos formais, mais relaxados. Mas acontece que, muito mais tarde, descobri que esse também meu deleixo em relação às regras de cortesia britânicas poderia custar-me uma prezada amizade.

Claro que o ajudei, mas, curiosamente, não me lembro de tê-lo visto de novo na escola. Possível explicação: em janeiro, havia um teste cujo objetivo era propiciar aos alunos uma auto-avaliação. Quem achasse que não tinha mais condições de acompanhar o curso, que voltasse logo para a terrinha natal. Mas se ele estava em casa! O estudante de História também sumiu. Quanto a mim, continuei sofrendo o curso, masoquista que era!

E agora vem o ponto mais importante. Talvez em troca da minha colaboração, o banqueiro-estudante (ou estudante-banqueiro – já teria ele lido as “Memórias Póstumas ...”, de Machado de Assis?) revelou-me um segredo social muito importante:

Havia no idioma inglês uma palavra muito longa, cuja maneira correta de pronunciar exigia a sua redução a apenas três sílabas. Ela só era usada numa circunstãncia: para verificar se um rapaz, novo no grupo, tinha ou não estudado numa boa escola. Fosse a palavra-teste pronunciada com quatro sílabas ou mais, estaria ele revelando a sua origem plebéia e, portanto, jamais seria convidado novamente para festas da upper class.

Essa estória lembra-me uma novela da Agatha Christie. Ao final da mesma, descobre-se que o assassino cometeu o horrível crime com o propósito único de poder matricular o filho único numa escola de primeira linha. Conclusão minha: esse cidadão só poderia ser inglês! E aqui vem o lado positivo dessa estória. Talvez bem mais do que no resto do planeta, os ingleses (britânicos em geral, também?) se empenham em disponibilizar a melhor educação para os filhos – mesmo que tenham de passar a pão e cerveja numa penitenciária brasileira!





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