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Contos-->Caos da Razão -- 12/10/2001 - 13:15 (Patricia Rosa) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
A conversa havia chegado ao fim, àquele fim onde não existem mais argumentos, àquele fim onde não cabem mais palavras ou lágrimas, àquele fim de um silêncio branco, ensurdecedor.
- Não vou deixar nada aqui.
- Acho melhor, temos tão poucas coisas que qualquer uma delas nos fará falta – foi a resposta vazia de sentido para quem pudesse estar ouvindo.
Realmente não havia muito a se levar, algumas roupas, sapatos, peças íntimas, livros, cds, o computador. Tudo cabia no carro mil, tudo cabia numa relação do que é meu e o que é teu.
Algo parecia incomodar a quem partiu, uma sensação de não ter para onde, um desejo de parar no meio do caminho que não conduzia a lugar algum. Cada metro que o carro avançava era um metro a menos na esperança de voltar para o único lugar que chamara de casa, uma esperança verde, verde como fel.
Quem ficou não sabia o que fazer, se iria até a cozinha preparar um assado, se ligava a televisão para espantar o absurdo de não estar sentindo um tremendo alívio pelo fim do mal-estar de tantas discussões que não chegavam a nenhum resultado, era irracional tentar pensar naquilo, a última conversa foi a única que havia chegado a alguma conclusão: não dava mais para continuar.
O cinto de segurança apertava o peito de quem partiu, como um abraço de urso que nos impede de sair do lugar, o peito na verdade estava estufado, exaltado, dilacerado. Não havia motivo aparente para se sentir assim, estava fazendo a coisa certa, não havia mais como manter algo que já não fazia sentido, uma relação que só sobrevivia ao custo de sempre se ter que olhar para o passado e ver o quanto era bom quando começou, um passado cor de rosa, que agora era choque. Melhor procurar um hotel para passar a noite, já era tarde para enfrentar as centenas de quilômetros que separavam aquela cidade do lugar onde nasceu e de onde saiu para viver aquele amor.
Quem ficou, pela primeira vez desde que se mudou para aquele apartamento, colocou apenas um prato sobre a mesa, apenas dois talheres, apenas uma taça. Bebeu a primeira taça de vinho de um só gole, sentiu o corpo inteiro se arrepiar, lembrou que não gostava de vinho até conhecer aquele amor e que o tinto do vinho combinava, sempre no seu pensamento, com a cor dos lábios do seu amor. Parecia, no seu delírio, que o contato com o tinto do vinho, faria sentir o contato com o vermelho dos lábios do seu amor, serviu mais uma taça, novo arrepio.
O carro parecia ter vontade própria, entrava e saia de ruas, quem o conduzia não sabia para onde ir, nem sequer se deveria parar. O pensamento tentava dirigir-se para o racional, o correto naquele momento era ir embora, mas só havia caos, idéias confusas, vento no rosto, suor nas mãos e um cheiro dentro de suas narinas que não era o seu. Pensou em parar para pensar, mas não conseguia, pensou em parar em algum lugar para telefonar, lembrou que havia esquecido o celular. Um sorriso iluminou o seu rosto, uma visão multicolor apareceu diante de si, o racional havia se rendido e nada daquilo fazia mais sentido.
Quem ficou achou que havia bebido demais, ao toque de chamada do telefone que tinha nas mãos, ouvia a resposta de outro toque ali mesmo na sala, devia ser delírio do álcool, parecia estar escutando o telefone de seu amor tocar, a ligação caiu, ninguém atendeu.
A campainha tocou, a porta se abriu e já não era mais o tinto do vinho aquele vermelho que cobria os lábios de quem ficou, nem era um cheiro vindo de dentro que sentia quem partiu. Foram para o quarto, a conversa chegara ao fim, a razão chegara ao fim, ali o que existia de fato era amor. E como o ofício do amor é encantar, essa estória bem que podia ser nossa.
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