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Humor-->Cafeína Aviva a Memória, Certo? -- 18/12/2008 - 10:27 (Fernando Werneck Magalhães) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos

Memória fugidia a minha, especialmente quando mais necessito dela. Jovem, ainda no esplendor dos meus quarenta e poucos anos, já o meu médico periodeuta - que nada tem de apedeuta - me interrogava, em sua indiscreta anamnese, acerca de eventuais lapsos de memória. Tipo: dúvida, ao final do banho, se teria, antes, ensaboado os pés – quando não outras partes, que omito por questão de pundonor.

Houve dia também que me enrolei feio com o diacho da cafeína - de que gosto que me enrosco! O fenômeno aconteceu após a minha habitual e lasciva sesta pós-prandial, que, com justa razão, a minha avó e os seguidores de Hipócrates, o Huno, já recomendavam ao comum dos mortais. Sem ela, a minha tarde ficava/fica/ficará sempre podre. Será por causa da minha sessão matinal de excessos aeróbicos, que me cansa as carnes? Mas o diabo é que alternativa não há, pois preciso ser longevo, caso contrário o déficit da Previdência se reduz - e aí, como justificar o emprego e o nhenhenhém dos economistas neoliberais?

Como o repouso teve curta duração, resolvei folhear a obra-prima “Ulisses”, de Joyce, no que tive sucesso instantâneo: só acordei lá pelas quatro horas da tarde! Foi então que me assaltou a obscena ânsia de tomar o que julguei fosse o segundo cafezinho do dia. Se o fizesse, estaria excedendo, em 100 por cento, a quota que me fora fixada, rigidamente, pelos deuses do Olimpo – um e apenas um por dia, que, aliás, o papai aqui costumava preparar cedo, embalado pelo sensual cacarejo das galinhas do vizinho.

Resumindo o estória, resisti o quanto pude, pois cafeína não combina com a arquitetura do meu labirinto. Nessa tentativa de escapar à tentação, apelei para o coco – o último que o Marreco me vendera, havia 15 dias, na ultrafamosa, porque formosa, Feira do Guará. Não me surpreenderia, portanto, se a sua água estivesse estragada. Mas, não: surpreendi-me ao contrário. Estava ela, ao invés, dulcíssima!

Mesmo assim, a carência de café não cedeu. Dentro em pouco, metamorfoseara-se em pecaminosa volúpia, uma irresistível vontade de pecar. Decidi, então, satisfazê-lo – antes que me tornasse um “preta” - aquele fabuloso espírito sedento, esfomeado, transtornado da tradição budista. Preparei e ingeri, então, o suposto segundo cafezinho do dia.

Afinal, excessos como aquele não me haviam impedido de sobreviver até então, ainda que aos trancos e barrancos. Mas o meu organismo, com a sua tão louvada sabedoria holística, não se satisfez. Exigiu mais um – uma suposta terceira dose, que representaria, com certeza, um desnecessário desafio aos deuses, que me vinham poupando, havia meses, abomináveis sofrimentos vestibulares.

Na dúvida, porém, provoquei o seguinte diálogo doméstico:

- Ilustre secretária, acaso V. Alteza teria elaborado café fresco depois do almoço?
- Sim, claro, meu Senhor-Doutor.
- Vossa Alteza se recorda, com os seus neurônios, se eu o teria, de fato, tomado?
- Sim, por que não, meu Senhor-Doutor?
- Sei, mas disso posso ter certeza plena?
- Sim, claro, meu Senhor-Doutor.
- Quer dizer que o seu hipotálamo se recorda, efetivamente, de ter-me visto ingerindo, à luz do dia, a bendita cafeína?
- De fato, não. Só fui incisiva porque lavei a sua nobre xícara, que aliás estava mais suja que pau de galinheiro. Se insistir muito, eu, de má vontade, preparo outro.
- Não, não, bobagem. Deixa disso. Só perguntei por perguntar. Por favor, não me bata!

E, assim, temente a Zeus – e à secretária -, acabei desistindo, entre prantos e gargalhadas, do intento de ingerir um terceiro café no mesmo dia.

De volta ao escritório, refleti, tão profundamente quanto pude, sobre o episódio - o que me convenceu de que haja cafeína para vencer as grotescas limitações que a biologia impõe à vida da gente sob formas várias.

Que vão desde carótidas entupidas até taxas de encolhimento do cérebro (adoro taxas!). Isso quando não incluem esculhamboses outras, piores ainda. Desde sempre! Tenho dito!



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