Usina de Letras
Usina de Letras
96 usuários online

Autor Titulo Nos textos

 

Artigos ( 62138 )

Cartas ( 21334)

Contos (13260)

Cordel (10447)

Cronicas (22529)

Discursos (3238)

Ensaios - (10332)

Erótico (13566)

Frases (50548)

Humor (20019)

Infantil (5415)

Infanto Juvenil (4749)

Letras de Música (5465)

Peça de Teatro (1376)

Poesias (140778)

Redação (3301)

Roteiro de Filme ou Novela (1062)

Teses / Monologos (2435)

Textos Jurídicos (1958)

Textos Religiosos/Sermões (6172)

LEGENDAS

( * )- Texto com Registro de Direito Autoral )

( ! )- Texto com Comentários

 

Nota Legal

Fale Conosco

 



Aguarde carregando ...
cronicas-->Revelações em uma romaria -- 06/09/2015 - 11:11 (AROLDO A MEDEIROS) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
Revelações em uma romaria

Aroldo Arão de Medeiros

Ele sempre se considerou um machão. Não se sabe porque cargas d´água, na excursão que fez a Aparecida carregava consigo, ora a bolsa da irmã, ora a da esposa. Alegava que era para ajudá-las a se sentirem mais leves. Não sei não...
Mas é necessário explicar melhor esse passeio que fez com parte da família. A trupe familiar era composta pelas já citadas mulheres e o pai. Ele diz ter sido uma Aparecidaria, porque foi para a cidade paulista que recebe aparecideiros de todo o Brasil. Falou várias vezes que, se fosse para Roma, aí sim, seria romaria, pois recebe romeiros. Pensando bem, mas bem mesmo, ele tem um pouco de razão, bem pouquinho.
Na excursão havia todo tipo de pessoas. Ele, fofoqueiro de marca maior, prestava atenção em todos, nos trejeitos, nos sotaques, no modo de vestir, nas atitudes; só para poder comentar depois.
Reparou que um dos componentes merecia o apelido de Sicupira. O motivo é que ele tinha os pés quase virados para trás. E para que não descobrissem a sacanagem chamando-o de curupira, cognominou com um nome parecido, Sicupira. Para o próprio, disse que o achava parecido com o ex-jogador paranaense, Sicupira.
Esse cara parecia atrapalhado, mas era bem esperto, dando aula de vida ao irmão, Pedro, quando este estava em dúvidas sobre qual objeto comprar, ou quando se perdia na aglomeração. Numa dessas esperas, no ónibus, a preocupação de Sicupira foi grande, quase deixando cair algumas lágrimas. Pedro entrou, recebeu uma cantoria programada pela guia turística:
"Parabéns pra você
Que chegou atrasado
Estamos todos sentados
Na esperança de lhe perder. "

A comandante do passeio perguntou:
- Ele merece um hip-hip-hurra?
Todos responderam em uníssono, conforme combinado.
- Não.
- E o que ele merece?
- Uma grande vaia. Buuuuuuu...
Durante o percurso, que não era pequeno, fizeram várias brincadeiras entre os passageiros, todos com coordenação da comandante, que, coincidentemente, atendia por Cida, corruptela de Aparecida. Uma delas, e a que mais alegrou o ambiente, foi a seguinte. Ela distribuiu bilhetinhos entre os que quiseram participar. Cada um teria que ler pequena mensagem e a pessoa que tinha as palavras completivas levantava-se, lia e abraçava o parceiro. Ele, o alcagueta, que estava sentado com a irmã, empolgou-se ao receber o seu papelinho, que dizia:
- Sou o recheio do seu bolo.
As frases e seus complementos vinham cheias de malícia e muito bem sugestivas:
Sou uma panela sem tampa. Complemento: Sou a tampa da panela.
Sou um pé sem sapato. Sou o sapato do seu pé.
Sou um jardim sem flores. Sou as flores do seu jardim.
Sou um céu sem estrelas. Sou as estrelas do seu céu.
Sou um pão sem manteiga. Sou a manteiga do seu pão.
Sou uma xícara sem asas. Sou as asas da sua xícara.
Sou um queijo sem goiabada. Sou a goiabada do seu queijo.
Sou um café sem leite. Sou o leite do seu café.
Sou uma noite sem lua. Sou a lua da sua noite.

Quando a esposa se levantou da poltrona e leu: "Sou um bolo sem recheio", ele disfarçou a vergonha, pois logo que leu o complemento ouviu de todos, beija, beija, beija. Foi em direção à patroa e tacou-lhe um beijo daqueles que há tempos não dava.
Para quase todos, um dos motoristas, que ajudava nas brincadeiras, era engraçado. Como dizem que a unanimidade é burra, ele discordava, achando-o inconveniente e que não tinha senso de ridículo. Para citar dois acontecimentos, na primeira noite ele vestiu na cabine um pijama infantil, como se fosse um palhaço se despedindo da turma e avisando que iria dormir. Em Aparecida, comunicou que haveria um baile e se prontificava a fazer programas. Imitava um traveco e se oferecia para homens. Caso alguma mulher aceitasse, ele mostraria seu lado masculino. Ofereceu-se para dançar com todas as mulheres que fossem ao baile, mediante inscrição. Esperou a noite toda bilhetinhos de inscrição para dançar com ele, mas não apareceu nenhum.
Como disse, ele continuava prestando atenção em todos. Não foi difícil perceber que duas mulheres se davam muito bem. Esse muito bem, quer dizer, além do limite da amizade. Havia algo mais que as unia. A coroa era mais alta, mais encorpada e a namorada, aliás, amiga, franzina. A mais experiente carregava a mala que continha um grande pompom colorido que chamava a atenção mesmo de longe. Além desse detalhe, a valise ostentava cobertura de pano, provavelmente para não sujar. O pessoal de língua afiada, jurava que a mala estava protegida contra doenças infecto contagiosas, usando camisinha.
Vamos contar sobre o que aconteceu no último dia de viagem. Foram revelados os amigos secretos, que na ocasião foram chamados de anjo amigo. A animadora convenceu quase todos a participarem usando palavras firmes e alegres:
- Ao final das viagens sempre ocorrem grandes amizades. Então sugiro comprarem uma lembrancinha para ser entregue no último dia de uma forma bem animada.
Os participantes escolheram as melhores palavras para colocarem nos bilhetinhos, que eram deixados em uma sacola:
- Não é preciso mais adormecer para sonhar com um anjo descendo do céu, basta você perceber que sou mais que um amigo, sou teu anjo amigo.
- Quando temos anjos ao nosso redor, a vida fica mais alegre. Tentarei te alegrar em todo o percurso.

- Um dos milagres da minha vida é simplesmente ter te conhecido e ser escolhido como teu anjo amigo.

Ele passou a andar próximo a seu anjo amigo, que era uma bela mulher. Conseguiu captar frases dela sem que ela percebesse. Aproveitou e colocou duas frases, em dias sequentes, na calada da noite.
- Sei que és uma pessoa opiniosa, ainda bem que puxaste algo de bom do teu pai.
- Depois que Jaguaruna recebeu um aeroporto, vives a olhar para o céu. Finque mais os pés no chão para que, sendo teu anjo amigo, possa te ajudar.
Na exposição dos anjos, para sua surpresa era a namo..., digo a amiga da dona da mala exótica, que lhe presenteou com uma bela camisa de marca.
Na sua vez, recebeu um beijo no rosto, com autorização do marido da moça e pasmem, envermelhou na hora.
As revelações de todos os tipos foram colocadas aqui, no papel, e também descobri que a cidade é popularmente denominada Aparecida do Norte em razão da construção da Estrada de Ferro do Norte, que depois foi denominada Estrada de Ferro Central do Brasil.
Comentarios
O que você achou deste texto?     Nome:     Mail:    
Comente: 
Perfil do AutorSeguidores: 16Exibido 130 vezesFale com o autor