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Contos-->A Semente -- 12/10/2001 - 19:44 (Edmundo Sérgio de Santana) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
Era inverno, um frio que nem dá pra imaginar. Eddo caminhava pela rua, noite, uma neblina cobria a cidade, quase não se via nada. Começou , de repente, a ouvir passos, e vinham em sua direção. A rua deserta pela intensidade do frio, os passos aproximavam-se, ele não conseguia enxergar, então, começou a perceber um vulto, era pequeno, e para sua surpresa era uma menina. Ela tremia de frio, vestia apenas uma camiseta e uma saia, e seus pés somente protegidos por uma sandália aberta. Eddo não acreditou, quando ela se aproximou, perguntou a ele:
— Tio, o Sr. tem um trocado?
Eddo nem pensou, tirou o casaco de lã que vestia por baixo de seu sobretudo pediu que ela vestisse, e perguntou:
— O que você está fazendo uma hora dessas na rua? — Fala ele ainda incrédulo.
— Estou andando! — Responde ela displicente.
— Mas andando para onde?
— Lugar nenhum!
— Como assim? — Ele queria entender, mas a menina não ligava.
— Ah! Eu fico andando a noite toda para não sentir muito frio!
— Você não tem casa? Família?
— Hummm! Ter, eu tenho, mas minha mãe me mandou embora!
— Te mandou embora? Como assim?
— É que... sabe Tio, eu tenho 6 irmãos, e minha mãe não deixa a gente estudar, quer que a gente fique no sinal pedindo dinheiro. Eu queria estudar, aprender a ler e escrever, mas ela não deixa, só quer que a gente ganhe dinheiro.
— Mas... o que sua mãe e seu pai fazem? Eles não trabalham?
— Ih! Nem sabem o que é isso, ficam o dia todo no boteco jogando e tomando pinga! Quando eu chegava em casa sem dinheiro, levava uma surra e ainda me mandavam de volta pra rua. Tio, o Sr. tem um trocadinho? Eu tô com fome.
— Vem comigo!
Enquanto caminhavam, Eddo tentava imaginar que tipo de pais eram esses, explorando os filhos para ficarem vadiando. A menina era uma graça, apesar da vida que levava tinha uma espirituosidade de fazer inveja. Ela contou que quando saiu de casa, andava com um grupo de meninos de rua, pra se proteger, mas logo descobriu que eles cheiravam cola e roubavam velhinhos nas ruas, e como não gostava disso preferiu andar sozinha. Nas noites mais frias ficava perambulando nas ruas para não sentir muito frio e quando começava a amanhecer ia para um parque e dormia um pouco.
Pararam numa lanchonete e Eddo comprou um lanche para a menina.
— Como é seu nome?
— Ágata, tio! Respondeu ainda com a boca cheia.
Ela comia seu lanche como se fosse a última refeição do mundo, a fome era imensa. Eddo ainda não se conformava em ver uma menina daquela idade, talvez 10 ou 11 anos, levando aquela vida, sem destino, sem rumo, sem futuro... rejeitada pela família porque não levava dinheiro pra casa.
— Sabe Tio, eu queria muito ter uma família de verdade. É muito triste andar sozinha por aí. Eu tô sempre com medo dos outros. Uma vez, uma mulher veio falar comigo e me levou para uma casa cheia de crianças, tinha gente grande também, e eu pensei que ia ser bom, ia ter comida, crianças pra brincar e uma cama pra dormir. Podia até aprender a ler e escrever. Mas, de noite, veio um homem lá na minha cama e começou a se esfregar em mim, a passar a mão e tapou minha boca... eu morri de medo... no outro dia eu fui embora, nunca mais quero voltar lá, aquele homem.... Sabe Tio, eu nunca tive um brinquedo.
Eddo não conseguiu conter as lágrimas. Ainda fazia força para entender como uma menina tão linda e inocente e com tão pouca idade já vivia uma situação tão desumana dessas.
— Ágata, onde você fica durante o dia?
— Ah! Eu fico lá na pracinha, lá no centro pedindo dinheiro pra poder comprar comida!
Conversaram mais um pouco e logo estava amanhecendo, Ágata agradeceu o lanche e correu para o parque.
Mais tarde Eddo foi à praça e ficou observando Ágata. A cada pessoa que passava ela pedia um trocadinho, com o mesmo rostinho doce e inocente com que pedira a Eddo durante a madrugada. Depois de algum tempo, Ágata juntou o suficiente para comprar alguma coisa para comer, comprou e foi sentar-se num banco da praça. Nem bem deu a primeira mordida, apareceu um menino, uns 6 anos talvez, falou alguma coisa com ela, e para surpresa de Eddo, entregou todo o lanche para o menino, fez um carinho na cabeça dele e voltou a pedir seus trocadinhos. Mais uma vez Eddo não conseguiu conter suas lágrimas.
Alguns dias depois Eddo voltou àquela praça, mas desta vez foi falar com Ágata, ela sorridente falou:
— Oi Tio, tem um trocadinho?
Eddo sorriu para Ágata e perguntou se ela não gostaria de visitar uns amigos dele, ela aceitou e partiram. Lá chegando, Ágata pode contemplar uma bela casa, com um jardim muito bem cuidado e assim que entraram no portão vieram ao seu encontro um simpático casal. Feitas as apresentações o casal os convidou a entrar, e para surpresa de Ágata, deu de cara com uma farta mesa de doces, bolos, tortas, guloseimas, refrigerantes e tudo o que uma criança gosta. Seus olhinhos brilharam e ela com toda sua inocência perguntou se podia comer alguma coisa, pois estava com muita fome. A simpática senhora riu para ela e disse-lhe que era tudo para ela, que comesse à vontade.
A tarde foi passando, conversaram bastante, Ágata contava-lhes suas aventuras nas ruas, emocionaram-se com alguns relatos e riram com outros, ela era um encanto de menina.
— Ágata, você gostaria de morar aqui? — Perguntou Eddo.
Ela não sabia o que pensar, conversaram e explicaram como seria, que teria que ser adotada e que eles passariam a ser seus pais de agora em diante, tudo de acordo com a justiça. Ela pensou um pouco e perguntou:
— Eu vou ganhar um brinquedo?
Todos riram. Levaram Ágata para conhecer seu quarto. Quando ela entrou ficou deslumbrada, tinha brinquedo por todo lado, uma cama só para ela, era um sonho. Eddo chamou Ágata e disse-lhe:
— Eu vou embora. Eles são meus amigos e vão cuidar muito bem de você. Agora você tem uma família.
Com uma carinha triste Ágata perguntou:
— Tio, porque você fez isso por mim? Ninguém nunca liga pra gente!
— Sabe Ágata, eu hoje plantei uma sementinha. Ela vai ser regada com muito amor e carinho, vai crescer, florir e frutificar. Cada fruto dará novas sementes, que também crescerão com amor e carinho. Dessa forma vamos espalhando a semente do amor, do carinho, da humildade, da humanidade e, um dia, talvez, não tenhamos mais crianças nas ruas. Esse é o meu sonho.
Fez um carinho em Ágata, deu um beijo no seu rosto e quando ia partir, Ágata pegou em sua mão, abraçou-o e disse:
— Eu nunca vou esquecer o que o Senhor fez por mim!
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