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Contos-->Entrelaçar: Changeling RPG -- 12/04/2000 - 01:53 (Joao Camilo Campos Oliveira Torres) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos


Eu tento sempre evitar encontros indesejáveis com coisas como os Tecnocratas. Não é bom para a saúde de ninguém, não é bom para a imagem de ninguém. Eles são muito chatos. E não suportam estarem sempre errados.
Assim quando eu vi dois carinhas empurrando um pessoa com toda a força que podiam para um carro estacionado eu pensei em deixar para lá. Iria ser só mais uma vítima no mundo. Não iria fazer falta nenhuma. Bem iria, mas você, quando se torna mais experiente , aprende a guardar a suas forças para um momento mais decisivo. Lutar agora não iria mudar nada. Vai haver um momento, mais no futuro, em que as forças da Tecnocracia vão enfrentar em definitivo as forças das Tradições e o destino da humanidade vai ser decidido, por nós. Você sempre sabe quando esta destinado para coisas maiores...
Eu já ia passando ao largo, mais rápido possível, sem nem olhar quando a pessoa em questão berrou por socorro, suas últimas foças eu imagino :
E aquela voz...havia algo de diferente, de sublime, de sagrado naquela voz. Uma suplica das mais doces e ao mesmo tempo um comando, era uma voz que necessitava de algo e que não estava acostumada a ser ignorada. Era como se fosse um comando celeste, vindo dos anjos...Gentil mas Firme, Sublime mas Imperiosa. Algo divino...e bem, vocês imaginam o quanto eu dou importância para o que é de natureza divina...
Ignorando o meu bom senso, mas carregado de toda boa fé do mundo, retirei a minha Bíblia do bolso do casaco e abri em um passagem escolhida.
- Isaías, 13.5 : “Já vêm dum País Remoto, desde a extremidade do céu, o Senhor e os instrumentos da sua indignação, para destruir toda a terra.”
Os dois atacantes continuaram a empurrar a pessoa, insensíveis à minha voz.
- “Uivai, pois está perto o Dia do Senhor; vem do Todo – poderoso como assolação.”
Um deles soltou a pessoa e se voltou para me encarar. Calmamente ele sacou uma arma e apontou para a minha direção, mirando um pouco abaixo, nos meus joelhos. Isto facilitava a escolha de quem seria o alvo da minha fé e da ira do senhor.
- “Pelo que todos os braços se tornarão frouxos, e o coração de todos homens se derreterá.”
O Homem imediatamente sentiu um dor intensa, seus braços se abaixaram, mal conseguindo sustentar a arma. Gotas de suor brotaram em sua face, enquanto ele sentia os efeitos fatais de uma parada cardíaca. O outro homem soltou a pessoa, que não se movia desacordada e se voltou na minha direção.
- “Assombrar-se-ão , e apoderar-se-ão deles dores e ais, e terão contorções como a mulher parturiente; olharão atônitos uns para os outros; o seu rosto se tornará rosto flamejante.”
Com facilidade, o terror da ira do Senhor se apoderou da mente do fraco e covarde pecador. Indeciso ele nem conseguiu sacar a sua arma, seu rosto uma máscara de medo e dor, como se a própria mão do Senhor estivesse a aperta-lo. Com calma fui lendo e me aproximando dos três corpos estendidos no chão.
- “Eis que vem o dia do Senhor, dia cruel com ira ardente e furor, para converter a terra em assolação e dela destruir os pecadores. Amém.”
Com calma peguei a arma do primeiro homem e atirei no outro indefeso e derrotado. Guardei a Bíblia e fui na direção daquela pessoa.
Com espanto notei que era uma mulher. O rosto marcado por lágrimas de desespero, o braço por hematomas marcando a sua pela branca. Tentei me lembrar daquela voz e coloca-la naquela boca, mas a minha memória parecia nublada. Mas o espanto foi aos poucos se dissipando, pois aquele era o rosto de um anjo, cabelos ruivos e abundantes, pela clara, marcada por algumas sardas, um rosto jovem, como se intocado pelo tempo. Sabia que Tecnocratas dificilmente fariam aquilo a uma pessoa comum, a um sleeper. Ela devia de uma forma ou de outra estar ligada ao sobrenatural. Pensei rapidamente nas outras criaturas, Vampiros e Garous e afastei a idéia imediatamente. Ela respirava suavemente, um sopro fraco, mas presente. Seu pulso estava presente e eu podia sentir o calor saindo do corpo dela, o que seria impossível de ocorrer com Vampiros. Já em relação aos Garous não conseguia imaginar dois homens carregando à força um deles, não importa se tais homens era magos ou não. Além disto não podia imaginar a fúria bestial deles surgindo naquele rosto tranqüilo e sublime. Ergui a mulher e a levei para a minha casa, imaginando de que tradição ela seria e...de que cor seriam os olhos dela. Imaginava que verde combinaria perfeitamente com aqueles cabelos.
Não me decepcionei com a cor dos olhos dela. Verdes, brilhantes, iluminando todo aquele rosto. Olhos que, ao mesmo tempo que cobriam você com uma luz protetora, pareciam raios, agudos, encurralando você. Mas outra decepção me esperava quando ela acordou. Ela tinha pedido completamente a memória. A última coisa que se lembrava eram vagas memórias de sua infância, quando parecia ter pouco mais de 6 anos de idade. Ela se lembrava do nome, Melissa. E mais nada. Nem a sua própria idade. O ataque dos tecnocratas havia destruído a sua memória. Eu mesmo tentei usar o meu domínio sobre certas esferas , mas nem estas conseguiram trazer a memória dela de volta. E nem mesmo ela manifestou qualquer coisa sobrenatural (exceto talvez um certa atitude e comportamento, mas que nela pareciam completamente natural ). Indignado diante da idéia dela de sair sozinha, desta forma, desamparada no mundo, a convidei para ficar na minha casa. Mas ela jamais admitiria estar assim submetida à alguém e recusou polidamente , mas com determinação. Fui obrigado a me entregar à ela e conquista-la. Eu iria ajuda-la não como um simples conhecido, mas como um afortunado amante.
Mas não se enganem com esta idéia, nós não dormíamos juntos, ou coisa do tipo. Era aquele tipo de amor ideal, aqueles que os poetas românticos tanto desejaram e jamais tiveram. Além disto eu jamais viveria em pecado perante o Senhor. O que ela aceitou muito bem e dizia que era algum tipo de sonho que se tornava realidade. Podia se notar o quanto este “sonho” a ajudava a se recuperar, parecendo mais forte e inteira dia após dia.
Eu cheguei a leva-la para alguns outros amigos tentarem ajuda-la com uso de seus próprios talentos, mas tudo em vão. Descobrir a verdade sobre o seu passado se tornou um obsessão tanto para ela quanto para mim.
Para ela já que mesmo se recuperando um pouco, continuava frágil, como se a qualquer momento fosse deixar de existir. Era evidente que alguma coisa muito importante fora esquecida. Não só as lembranças, toda a vida dela. Mas algo mais, algo que compunha a personalidade dela, algo que necessitava para se sentir inteira, completa, satisfeita.
Para mim, já que era necessário conhecer o passado dela para que eu conseguisse formalizar a nossa união. Padre Wellton insistiu neste aspecto e de certa forma, o comportamento dela diante dele não ajudou muito, aumentando as suspeitas dele. Suspeitas que eu sabia serem infundadas. Ela simplesmente não conseguia permanecer muito tempo na presença dele ou comparecer sempre aos ritos da igreja. Se sentia mal, desconfortável nestas ocasiões e não havia força no universo capaz de ir contra os desejos dela. Se não fosse por isto, talvez Wellton não se importasse tanto com o passado dela...Mas isto aconteceu e como eu já tivesse percebido que apenas a minha fé nela e a completa liberdade pareciam alegra-la e fortalece-la eu não tive escolha senão mante-la afastada. E orar ao Senhor para que permitisse que eu conseguisse esclarecer o mistério a respeito dela.
Chegamos a descobrir a família em Washington, mas de pouco adiantou. Aparentemente Melissa havia fugido de casa com o avô, um velho Irlandês, quando era muito nova. E desde então nenhum dos seus parentes sabia nada a respeito dela ou do avô. Imagino que o avô talvez fosse um membro de alguma tradição e que levara a neta para aprender com ele. Isto acontece às vezes, alguns cortam completamente o laço com a vida normal e com o passado. Enviei para alguns conhecidos meus na Irlanda as informações esperando encontrar alguma informação do velho, já que aqui ninguém sabia de nada. Quanto à Melissa, ela nem desejou reencontrar a família. Era mais uma evidência de achar o avô parecia bem mais importante. Além dele só possuíamos apenas mais um laço dela com o passado. Os Tecnocratas sem dúvida sabiam quem ela era, ou pelo ao menos tinham alguma idéia, já que a atacaram. Mas tirando os dois que eu matei (e que eu espero estejam pagando por seus pecados no inferno ) eu não tinha como conhecer nenhum outro. E Melissa tremia assustado só com esta simples possibilidade. Ela dizia que a simples existência deles era como se uma faca gelada cortasse todo o espírito dela. Tudo parecia um trabalho de longa paciência e espera, tentando dia a dia colher descobrir junto com ela alguma coisa que conseguisse reanimar a memória.
O dia a dia com ela era dos mais agradáveis. Melissa era gentil, criativa. Sabia como ninguém despertar as atenções, sempre se sobressaia em meio à outras pessoas, era atenciosa, e sabia como se comportar em qualquer situação (sem dúvida, ela me fazia pensar em princesas perdidas , tamanha a nobreza e dignidade dela ). Por outro lado jamais vi alguém recusar algum dos seus pedidos, feitos sempre com uma mistura de súplica e comando. E se você acha que isto era apenas o que eu via, um tolo apaixonado e cego, eu garanto que era exatamente o que outros viam também. E apesar disto eu sabia que ela estava lá por minha causa. Podia garantir cada momento a lealdade dela. Éramos um dupla que o destino uniu e nada poderia separar.
Algumas semanas passaram sem grandes novidades., Melissa oscilando entre a fragilidade e a força, quando fomos assistir um festival de teatro que ocorria na nossa cidade. Eu imagina que alguma diversão poderia deixa-la feliz ( além disto ela sempre mostrou um grande conhecimento em relação à arte, sempre se revigorando quando podia ter algum contato com alguma artista ). Tudo corria bem, diversos grupos independentes apresentavam as mais estranhas variações de peças e atuações, que variavam do exótico ao surpreendente. Melissa se divertia, prestando atenção à cada peça e com um discernimento incrível, escolhendo os melhores espetáculos. Depois de algum tempo fomos assistir à um peça de um grupo exótico, chamado Nicodemus’s Tribe, um espetáculo chamado “Por que a verdade fere”. Um grupo de artista comediantes, com um espetáculo interativo com o público. Melissa chamava sempre a atenção e era sempre escolhida quando estávamos presentes em situações como estas mas educadamente sempre recusava tais convites. Mas desta vez algo diferente aconteceu. Uma atriz, uma jovem , com o rosto fino, olhos escuros, cabelos ruivos se aproximou do local aonde estávamos e parou diante de Melissa. Ela olhou rapidamente para mim e ficou olhando um longo tempo para Melissa. Por um momento tive a impressão de que ela fareja o ar, enquanto erguia o queixo para cima. Ela puxou Melissa, que já se preparava para escapar, quando a atriz jogou para Melissa uma colar feito de conchas do mar. Melissa pegou o colar com rapidez, e arregalou os olhos. Imaginei que talvez ela tivesse se ferido com aquele colar, me preparei para afastar a impertinente atriz, quando Melissa entregou o colar para a atriz e seguiu com ela para o palco, mas mantia no rosto aquele olhar estranho. Enquanto isto outros atores começaram a chamar mais participantes criando um verdadeira confusão no local (aonde eles chamam isto de Teatro eu nem podia imaginar ) e Melissa era esquecida e conversava em um canto, longe da confusão com a atriz. Eu fiquei lá, confuso e curioso com o que acontecia. Resolvi retirar a minha bíblia e tentar algo para que eu conseguisse “observar” o que acontecia com ela, mas antes que lesse qualquer parte, um outro ator, olhos grandes, nariz fino e longo e um cabelo espetado, chegou perto de mim e com um gesto rápido pediu silêncio. Constrangido e um pouco atrapalhado com aquela súbita interrupção guardei o livro de volta e resolvi me contentar em esperar o que acontecia.
Depois de um certo tempo Melissa retornou para junto de mim, com o rosto tranqüilo, trazia nas mãos o colar da atriz. Calmamente ela me levou para longe dali e não falou mais nada do assunto. Fiquei tentado a questiona-la sobre o assunto, mas sempre que começava algo, ela, com a habitual firmeza e habilidade trocava de assunto. Imaginei que algum dia me contaria o que acontecera e não voltei a insistir nem mesmo quando durante a noite eu acordei ouvindo o choro dela. Sem dizer nenhuma palavra fui até o quarto dela e a abracei, ficando assim até que nós dois adormecemos.
Agora eu posso dizer que desde aquele dia Melissa sofrera uma ligeira mudança. Ela já não parecia tão frágil, mas agora podia sempre acha-la com um olhar vago, triste, como se lembrasse de alguma coisa que não poderia mais ter. Melissa andava sempre com o colar da atriz, e devo dizer que mesmo aquela peça de pouco gosto não conseguia de forma alguma parecer inapropriada quando Melissa a usava. Agora ela evitava decididamente o padre Wellton. Ela já não parecia aflita com a falta de memória e de lembranças, mas eu jamais percebi isto, já que parecia cada vez mais me incentivar a manter as esperança de que um dia tudo estaria resolvido entre nós. Ela sem dúvida nenhuma me incentivava a continuar sonhando com este dia, com tamanha intensidade, que chegava a afirmar que somente esta esperança minha era importante para ela.
Passaram-se meses, e nós continuamos vivendo neste nosso pequeno mundo. Eu obcecado com o passado de Melissa e ela sempre ao meu lado. Até este momento a nossa vida parecia que iria continuar desta forma eternamente, sem mudanças. O resgate junto aos tecnocratas, o dia no teatro pareciam esquecidos, coisas vagas, que vez ou outra pareciam ser lembradas, como um sonho antigo que tivemos – Como imaginar que aquilo era a realidade e que a minha vida com Melissa era o verdadeiro sonho ?
Nós andávamos durante a noite, lado a lado. Melissa gostava de visitar certos locais para que voltássemos em um carruagem alugada que facilmente achávamos no parque. Ela não gostava de andar de carro, e particularmente, havia um certo charme em fazermos estes passeios. Nunca tivemos problemas em achar tais transportes, mas naquela noite, um tempestade inesperada se iniciou quando estávamos andando no parque à procura deles. Com a chuva, não conseguimos encontrar nenhum deles. Procuramos abrigo debaixo de um poço dos desejos do parque, que tinha um telhadinho. Ficamos lá abraçados, esperando a chuva passar. Como o parque não assim muito longe de casa resolvemos voltar caminhando, apesar da hora. Um grande erro. Nós deveríamos nos lembrar que certos riscos não devem ser jamais tomados...
Passávamos em frente à entrada da estação do Metrô, quando da esquina quatro jovens, muito mal vestidos, apareceram. Melissa pareceu muito preocupada, mas manteve o controle. Eu não tenho como não confessar que aqueles jovens pareciam muito mais ameaçadores do que eu conseguiria descrever. O Maior deles se aproximou, abriu a boca em um sorriso perverso – por um momento eu tive a impressão de que aquela boca era a maior boca do mundo, capaz de engolir tudo que encontrasse, repleta de dentes pontiagudos – levantou um pedaço de pau e falou:
- Parece que achamos comida de primeira...
- É, carne nobre...
- E vem junto um bundão...
- É, vem cá docinho, vem para a tia Lucy te dar uma mordidinha...- Aquilo foi demais, não consegui me lembrar da Bíblia, de nada quando percebi que aquela era um menina.
- Oh, meu Deus – falei instintivamente, olhei assustado para ela, que carregavam uma raquete de tênis velha e arrebentada. No momento imaginei que ela pretendia arrancar a minha cabeça com aquilo...
- Foda-se Deus – e os quatro começaram a correr na nossa direção. Melissa me puxou, me tirando da paralisia em que eu estava e saímos correndo loucamente. Não saberia dizer na confusão para aonde íamos, mas de repente estávamos dentro da estação do metrô, correndo como doidos pela plataforma. Mas os quatro continuavam vindo logo depois, Lucy brandindo ameaçadoramente a raquete como se fosse um machado. Sorte e a providência divina pareceram nos sorrir, um os trens do metrô passavam estava parado na plataforma vazia. Se corrêssemos bastante eu e Melissa iríamos conseguir entrar e os quatro ficariam do lado de fora. Não que eu tivesse que me preocupar com ela, que continuava correndo com facilidade na minha frente e segurando a minha mão. Podia sentir que ela tinha pensado o mesmo...Tudo parecia que ia dar certo, Melissa entrou no metrô com um salto e eu logo depois. As portas se fecharam e o metrô começou a se mexer. Já respirava aliviado quando um pressão suave da mão de Melissa me fez abrir os olhos e na nossa frente, dentro do carro do Metrô estavam os quatro. Não conseguia compreender aquilo, tinha certeza que eles tinham ficado de fora...
Agora não havia mais escolha. O carro estava vazio, eles estavam de um lado e nós de outro. Não havia como sair, até a próxima estação, mas eu imagina que Lucy não iria precisar de muito mais tempo para usar a raquete dela. Talvez eu conseguisse ganhar algum tempo...eu precisava me acalmar e concentrar. Por mais que eu odiasse a idéia, Melissa teria de me dar cobertura. Eram somente quatro mortais e eu tinha tudo que precisava comigo. Tinha que ser eficiente, por que o risco de paradoxo era muito grande. Retirei a bíblia do bolso, o que provocou um jato de risadas e o aparecimento de três canivetes – Melissa olhou-me com calma e se colocou na minha frente. Ao mesmo tempo ela parecia muito mais preocupada com a raquete do que com os três canivetes. Lucy ria maliciosamente e se aproximava olhando para Melissa...
- Ah, ele é seu brinquedinho ? Que há na corte ? Não tem um Trolls bem grandões para satisfazer a madame ?
- Se você fosse esperta parava exatamente aí. – A confiança de Melissa, no que eu suponha em mim, foi tudo que eu precisava para recuperar a calma. Era impressionante ver que até Lucy se detivera por momento diante da calma e presença dela.
- Qualé tia. Vai deixar a rameira real te escamar ? Mostra para ela quem manda – Lucy balançou a cabeça irritada, como se limpasse os seus pensamentos e Melissa franziu o cenho e fitou longamente o jovem que havia falado aquilo. Ele rosnou e saltou sobre Melissa enquanto Lucy passou correndo na minha direção, rindo loucamente. Mas naquele momento já não importava. Era o momento da ira do Senhor...
- Mateus, 18.6 : “Qualquer um porém que fizer tropeçar a um destes pequeninos que crêem em mim , melhor que lhe fora que se pendurasse ao pescoço uma grande pedra de moinho, e fosse afogado na profundeza do mar.”
Lucy deslizou para o lado , seus pés se torcendo e caiu no chão. Ela tentava se erguer, mas lutava em vão, seu pescoço torcido para baixo como se carregasse um grande peso. Melissa desviava dos golpes do canivete, mas um terceiro já se aproximava. O líder deles estava parado olhando para mim e gritava irritado:
- Um Mago! A Maldita anda com um mago coroinha! – Sem me importar com inusitado fato de que eles sabiam demais me voltei para o atacante de Melissa:
- “Aí do mundo, por causa dos escândalos; porque é inevitável que venham escândalos, mas aí do homem pelo qual vem os escândalo! Portanto, se a tua mão ou o teu pé te faz tropeçar , corta-o e lança-o fora de ti; melhor é entrares na vida manco ou aleijado do que, tendo duas mãos ou dois pés, seres lançado no fogo eterno.” – O Atacante de Melissa arregalou os olhos assustado, enquanto ele virava o canivete contra a seu próprio pulso e começava à serra-lo. O Chefe então retirou uma moeda do bolso e com um peteleco começou a faze-la girar.
- Eu cuido dele. Lucy encanta ele e arranca a perna fora. – No mesmo momento fui surpreendido pela curva do Metrô, me fazendo perder o equilíbrio e lançando a bíblia longe. Melissa ao mesmo tempo gritava assustada e raquete de Lucy me acertou.
O problema não foi a dor, que eu não senti quase nenhuma, mas o problema foi quando eu abri os olhos e o mundo inteiro parecia explodir. Os quatro pareciam diferentes, o rosto escuro, olhos vermelhos e bocas enormes repletas de dentes. Mas o pior era a raquete. No seu lugar Lucy ,ainda no chão, segurava um machado. Mas isto pouco importava, por que lá estava aquela boca e aqueles dentes...
Mas talvez o mais impressionante fosse Melissa. Ela estava lá, mas muito mais. Altiva, cabelo vermelhos que pareciam fogo, olhos verdes que brilhavam, vestia um vestido longo e escuro que parecia mudar de cor na medida que ondulava, o colar de conchas agora cobria todo o ombro dela como se fosse uma armadura. Mas o olhar, triste desesperado para na minha direção...e depois ela se virou, uma fúria crescente nos olhos dela, uma fúria imensa...dirigida para os atacantes...só podia pensar em Anjo e demônios. E que o Anjo estava do meu lado...
O terceiro atacante que corria para ela parou assustado e retrocedeu passo à passo. Melissa caminhou para o lado de Lucy, paralisada no chão :
- Me dê o machado. – Lucy estendeu o machado para Melissa – Vocês não imaginam o que me causaram hoje...mas mesmo assim eu sofri com os esquecimento e jamais conseguiria condenar qualquer um para o mesmo martírio. Mas eu domino completamente a arte chamada Sovereign...eu posso ver que vocês sabem o que isto significa. Que a sua própria arma sirva de punição contra vocês. E como alguém escreveu certa vez – dizendo isto ela olhou com ligeiro sorriso na minha direção – Embainha a tua espada; pois todos os que lançam mão da espada à espada perecerão – e quebrou o machado. Uma energia incrível pareceu pairar no ar e foi se unindo às palavras de Melissa.
- Prestem bem atenção. Vocês que tanto praticaram o mal deveriam ser condenados à esquecimento. Mesmo a morte seria pouco, pois vocês não teriam aprendido nada. Darei então a chance de vocês ajudarem e escaparem da morte. Nos Centros de Televisão da cidade, em um dos estúdios, operam como base um grupo de magos, inimigos de todos nós. E a sua tarefa atacar o local e destruir esta base. É bastante difícil, mas talvez uma morte heróica possa apagar uma vida vil. Caso vocês falhem ou pensem em desistir de tamanha tarefa, estarão condenados a jamais conseguirem comer coisa alguma. Agora, vão.
Os quatro se levantaram, ajudando um deles que tinha arrancado o pulso com a própria boca e pararam em frente à porta e saíram assim que ela abriu. Melissa então se voltou e sorriu.
- Não, Malcom, eu não sou um anjo.
Confuso me deixei levar até um dos bancos aonde nos sentamos. Ali ela me explicou o que podia, como ela era na verdade uma das Fadas, antigos espíritos da terra que viviam do sonhar dos homens, e que agora era obrigados a dividir o corpo com mortais comuns. Como eles viviam em dois mundos ao mesmo tempo, que era reais para eles e como o ataque dos Tecnocratas, imaginando ela se tratar de uma maga de alguma das tradições. E como a simples presença deles, e a alta banalidade deles, a descrença neste mundo de Melissa, a fizera perder contato com a segunda natureza dela e retirou todas as memórias dela, já que desde que fugira com o avô, outro destes seres, ela vivera neste mundo. Ela me contou que ela se lembrara de tudo, desde o episódio no teatro, os atores eram fadas chamadas Pookas. E que este mesmo poder que a fez esquecer, algo muito semelhante em sentido com o paradoxo, me faria esquecer de tudo que vira ali, seria como um estranho sonho. As realidades dela e a do mundo era incompatíveis. Eu tentei negar tudo nesta parte, mas simplesmente me fez lembrar de São Patrício. Que muitas vezes as melhores coisas não são exatamente boas. Eu me senti tão fora de propósito quanto os próprios tecnocratas. Quantas vezes havia escarnecido dos Verbenas e do seus culto estranho à natureza. Agora entendia tudo. Me lembrei do que homens de fé haviam cometido contra a humanidade. E agora via que não fora somente contra a humanidade e que isto parecia irreversível. A Realidade como estava, estática sem mudanças iria pouco a pouco levar todos eles para uma espécie de esquecimento. E um dia não haveria mais nada. Naquele momento eu me sentia não menos que um carrasco nazista. Foi então que compreendi algo mais, de como a realidade em que eu vivia destruía pouco a pouco a Melissa. E eu a mantia comigo, apesar de tudo. Ela sorriu e tentou livrar a minha consciência, falava que a escolha havia sido dela, que ela tentava se manter com os meus sonhos, mas que era difícil, que um dia não haveria mais como. Mas que escolhera permanecer comigo. Mas como aceitar tal coisa ? Se alguém deveria abandonar algo deveria ser eu. Como eu poderia ser responsável por destruir tamanha beleza ? Por um mundo vazio ? A minha realidade, a minha fé nada tinha de tão belo. Se eram incompatíveis, que eu fosse o sacrificado.
- Não. E como você acha que eu me sentiria. Você jamais conseguiria realmente abandonar tudo isto. Você gostaria de negar o seu próprio Deus ? O que aconteceria com você se fizesse isto ?
- Como eu posso condenar você à um inferno em vida somente por temer o inferno depois da vida ?
- Não seja tolo. E depois não existe tal opção. Eu não conseguiria manter você encantado assim todos dias. Você esqueceria e eu...
- Encantado ? – Como uma sombra negra uma idéia se apossou de minha ,mente.
- Encantado, para que vocês mortais possam presenciar o nosso mundo é preciso que...
- Encantado, como enfeitiçado. Agora eu compreendo tudo. É como o padre Wellton me avisou. Você ficou do meu lado, me arrastando cada vez mais para longe de Deus. Saia de perto de mim – Meu medo era de que se produzisse aquela ira incomparável, mas ela apenas recuou horrorizada, lágrimas nos olhos. – Vá embora. Volte para a sua raça de malditos. São Patrício deixou o trabalho incompleto. Como fui tolo de pensar em anjos, quanto Satã é um deles caído. – E ela se levantou, humilhada, confusa, arrasada, se afastou sem olhar, aquela dignidade e graça única se mantendo até o fim. Mas eu consegui. Ela ficou confusa o suficiente para não conseguir raciocinar. Como ela poderia pensar que eu deixaria um demônio partir ? Nunca. Eu o enfrentaria na mesma hora. Mas ela partiu.

* * *

Ela tinha razão, eu não me lembrei de tudo. Mas eu me lembrava de algo. Deus me guiava. Fui embora, não podia arriscar que ela percebesse a minha mentira e voltasse. Por outro lado, eu sabia que ela voltara para a sua corte. Um dia ela iria entender. O Avô dela me prometeu isso. Eu estou indo para Irlanda. Talvez ainda tenhamos tempo. É hora de separarmos de maneira correta o Joio do Trigo. Ouvi dizer que alguns dos Garous também são mal compreendidos. É tudo que preciso uma mente aberta...



Uma pequena explicação para melhor compreensão do Texto:

Esta história se passa na Terra, mas não o nosso mundo. É uma versão diferente, aonde o sobrenatural sempre existiu caminhando lado a lado conosco, mas muitas vezes escondidos em sobras que nós, mortais não conseguimos enxergar, apenas sentir enquanto nos trancamos na segurança de nossas casas.

Este é um mundo fictício, o World of Darkness, um universo de RPG criado pela Editora White Wolf.

Neste mundo existem magos. Eles são seres de grande poder, capazes de focalizar a mera vontade deles para alterar a realidade. Seu grande “freio” é o efeito conhecido como paradoxo. Quando a mente dos “sleepers”, nós mortais, presencia um feito que não corresponde à realidade em que acreditamos, a realidade nos defende e cria esses efeitos paradoxos, para se preservar. Um mago que criar muito desses efeitos esta condenado ao esquecimento.
Malcon é um mago da Tradição dos Celestial Chorus, que acreditam que a magia se canaliza por meio da fé e de cultos religiosos. As Tradições são inimigas da Tecnocracia, magos que acreditam que a tecnologia é a maior magia de todas, e que luta para manter os mortais e a realidade intocada. Daí eles caçarem outras tradições e outros seres sobrenaturais. Para preservarem a nossa realidade, que é o paradigma deles.
Melissa disse: ela é uma das fadas. Seres que desafiam a realidade. Existem pelo sonhar, o acreditar dos mortais. Eles mal conseguem existir no nosso mundo, que cada vez menos acredita neles. Logo todas a fadas deixarão de viver neste mundo, deixando aqui somente para o seu lado humano, um mundo cinza, sem arestas.
Garous – um nome dado aos lobisomens e Vampiros também existem neste mundo.
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