Existem animais que parecem eternas crianças. Explico-me: quando eu morava em casa e me exercitava na varanda pela manhã, vez por outra divisava um pequeno pássaro negro dando cambalhotas circenses no cume de uma goiabeira, então pertencente à minha área verde. Isso foi antes de o governo petista distrital local, necessitado de caixa, ma expropriasse de pleno direito, para em seguida vendê-la, junto com a goiabeira, a terceiros mais enrolados do que eu (demos graças ao Senhor! Amém!).
Devo confessar que não saberia dizer se o referido animal era jovem ou adulto. No primeiro caso, justificar-se-ia fácil o seu comportamento lúdico e, “poltanto” (pronto, agora voltei a ser o Hortelino Troca-Letras) a analogia com crianças que propus – caso esse obviamente trivial. A dúvida que remanesce – a única de real interesse (pelo menos, para mim) – respeita à hipótese de o pássaro brincalhão já ter alcançado a idade adulta.
Nesse caso, não deveria ele, antes de tudo, ser responsável - se leu Sartre ou instintivamente - por cuidados com a sua fêmea e a respectiva prole?
Ser ou não ser criança – eis a questão, que, espero, não seja uma pseudo “one”. Para simplificar, contornarei, dada a minha (des?)informação de economista, as dúvidas filosóficas – e, portanto, insolúveis - acima alevantadas e vou logo pressupor que, de fato, os passarinhos permaneçam brincalhões enquanto a saúde lhes permite.
Aí, sim, surge um espaço nobre para o meu nariz machadiano se enfiar - e eu me deslumbrar. De repente e por conseguinte, esses despretensiosos e, suponho, felizes animais, vez que não hipertrofiam o próprio eu (o deles), revelam possuir mais sabedoria do que o comum de nós, seres humanos.
Isso porque, pelo menos nas culturas ditas civilizadas, brincar é considerado passatempo exclusivamente infantil. E, assim procedendo e se reprimindo, os adultos não sabem quanta curtição perdem – e por isso envelhecem antes do que deviam (já dizia o Bobo da Corte do rei Lear, que, como se sabe, nada tinha de bobo, não é Shakespeae?), com a desculpa de não se divertirem por causa da velhice.
E que vivam eles – os passarinhos, as crianças e o Bobo!!
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