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Cronicas-->Letra de médico: uma caligrafia indecifrável -- 03/06/2001 - 00:18 (Claudia Sanzone) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
Pode-se dizer que praticamente ninguém está livre de precisar de serviços médicos, nem que seja uma vez na vida. Creio que alguns até consigam passar seus dias de existência sobre a Terra sem nunca ter usado os serviços de um advogado, de um engenheiro, de um assistente social ou, claro, até mesmo de um veterinário. Mas do médico não há como escapar. Ele é aquela figura que fica ali, na espreita da nossa jornada, pronto para entrar em ação quando a gente menos espera. Mesmo as pessoas mais duronas, que batem no peito dizendo que têm uma saúde de ferro e que nunca vão precisar de um médico, tratam logo de mudar de idéia quando a coisa fica feia. Quem já sofreu as dores alucinantes de um cálculo renal dilacerador de entranhas, sabe perfeitamente que não há valentia que resista ao alívio de uma generosa dose de Buscopan na veia.

Hoje em dia, com a medicina profilática tão em voga, virou rotina visitar um médico desde cedo. Nossos hábitos mudaram e, de uns bons tempos para cá, toda criança (de classe média pra cima) é levada regularmente ao pediatra. Sem falar nos hipocondríacos que certamente encontram nos planos de saúde a oitava maravilha do mundo. Por mais alta que seja a mensalidade do plano, talvez para eles não haja dinheiro que pague a "benção" de ir ter com um médico sempre que lhes aprouver.

Mas os cuidados médicos não escolhem cor da pele, idade, religião, classe social, nada! Tanto os letrados quanto os analfabetos vão ao médico. Médicos, inclusive, vão a médicos. Durante uma consulta, por exemplo, o atendimento pode variar muito. Alguns profissionais são mais atenciosos que outros. Existem os mais lentos, outros mais agitadinhos; uns mais empolgados, outros já querendo pendurar o estetoscópio... os tipos são muitos. Mas uma característica praticamente não varia: a letra do médico. Por que será que eles têm aquela caligrafia quase sempre ilegível? Já repararam que se uma pessoa tem letra feia, vem logo um engraçadinho e diz "tu tem letra de médico". Virou marca registrada. Não entendo isso. Se para quem sabe ler já é um martírio entender o que vai naquelas poucas linhas do restrito papel da receita, imagine quando o paciente é analfabeto? Até para pedir ajuda fica difícil.

Mérito seja dado aos balconistas de farmácia, verdadeiros intérpretes contorcionistas na arte de decodificar receitas. Imagino que, graças a eles, muitas tragédias terapêuticas não estejam ocorrendo por aí. Fico impressionada com a habilidade deles. Batem os olhos naqueles garranchos mediúnicos e em seguida mandam de bate-pronto o nome do medicamento. Verdade seja dita: alguns tiram de letra a interpretação porque estão carecas de saber quais os medicamentos rotineiramente receitados por alguns médicos. "A receita é do doutor Fulano? Já sei qual é o remédio, nem precisa mostrar a receita. Mas acabou. A última caixa saiu hoje de manhã". Outros, menos experientes, costumam perguntar sobre alguns sintomas do paciente, só para tirar uma duvidazinha que por ventura possa existir: "O senhor tá sentindo o quê? Ah, tá com problema de pressão alta? Então esse primeiro remédio aqui da receita é o Parará. Mas a pressão tá subindo muito ou mais ou menos? Tá subindo muito, é? Então leva logo o de 75mg, é melhor. Quando o senhor melhorar, passa para o de 50. Depois que estiver quase beleza, leva aí o de 25". Boa vontade não lhes falta, mas numa dessas "camaradagens", a saúde ou, o que é mais grave, a vida do paciente/consumidor pode correr sérios riscos.

O ideal seria que todos os médicos tivessem uma caligrafia decente. Não precisava fazer uma letra desenhada, cheia de arabescos e tudo mais. Basta que seja legível. Ficaria mais simpático e principalmente mais seguro usar uma letra compreensível. Haja vista o cúmulo do absurdo que a situação pode gerar. Certos pacientes, receosos do dom decodificador dos balconsistas, voltam ao doutor na tentativa de tentar gravar de cabeça ou anotar o nome do medicamento. Aí o médico lê a prescrição de sua autoria, coça a cebeça e resolve "reconsultar" o paciente. Sim, até ele se mostra incapaz de entender o que escreveu! Eu, particularmente, sempre tive cuidado. Procuro fazer uma "letrinha de professora primária" em minhas prescrições. Meus pacientes caninos e felinos não sabem ler, óbvio, mas seus donos geralmente agradecem a facilidade.

Tentar convencer um médico veterano a mudar de letra seria uma sugestão de sucesso bastante duvidoso. No entanto, há algo a ser feito para evitar que esse hábito indesejável da escrita indecifrável atinja as gerações de futuros doutores. E é aí que entrariam em ação pais e mães de crianças que mostram cedo sua veia para a medicina. A partir do momento em que o Rodriguinho ou a Camilinha começarem a dizer "quando eu crescer, quero ser médico(a)", é hora de atacar. Antes mesmo que a criança resolva adiantar sua vocação profissional em aulas práticas com o filho(a) da vizinha, caderno de caligrafia neles!
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