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Cronicas-->Ser Bota é Fogo -- 09/12/2015 - 08:48 (AROLDO A MEDEIROS) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
Ser Bota é Fogo

Aroldo Arão de Medeiros

Escrevi uma crónica com o linguajar manezês intitulada Manezinhos rumo à Oropa. Posteriormente, outra onde utilizei palavras portuguesas usadas em Portugal e que diferem demasiadamente das nossas. Hoje usarei vocábulos e locuções pernambucanas. Quando escrevi Manezinhos... é porque viajamos para a Europa. A outra foi após passeio que fizemos especificamente a Portugal. Desta vez pensam que é porque viajamos para Pernambuco? Ledo engano. Foi a viagem que fiz com meu irmão ao Rio de Janeiro que proporcionou esta crónica. Mas calcule: "O que tem o cu a ver com as calças"? Ou melhor, o que tem o Rio com Pernambuco? É que nesse passeio de dois dias fomos ao Centro Luiz Gonzaga de Tradições Nordestinas.
A primeira incumbência que meu irmão passou foi a compra dos ingressos. Pelo site de compras não consegui. O Adilton também não. Recorreu a um representante que visita a fábrica onde trabalha e que mora no Rio. O cara disse ter dado trabalho para comprar, porque tinha cem mil pessoas na fila. A verdade é que foi ao estádio, recebeu a informação de que as bilheterias não estavam abertas, mas que dentro sempre tinha uma pessoa, de plantão, para aquele que batesse na janelinha. Ainda nos forneceu os ingressos gratuitamente, desde que aceitássemos ser convidados para reunião do grupo de futebol, regada à cerveja, carne e bate-papo.
Reservei hotel a duas quadras da praia de Copacabana. Comprado com antecedência, via internet, pagamos 300 reais. No check in, vimos, afixado na parede, o valor da diária na mesma condição: quarto duplo, por 900 reais. Ficamos preocupados em termos dado mancada. No final, tudo certo, nos cobraram somente as águas minerais consumidas. Ao reservar a hospedagem, preenchi os dados corretamente. Especifiquei quarto duplo com camas separadas, mas quando imprimi o voucher estava discriminado: cama de casal. Mesmo sendo irmãos não fica bem dormir juntinho. Foi providenciada a troca de quarto logo na chegada, o que melhorou bastante. A decepção inicial ficou por conta da televisão. Não sabemos se não pagaram o provedor de imagens, pois a mesma não funcionava. Ficamos sem assistir nada, nem mesmo nos canais abertos. A compensação foi que pudemos deixar a bolsa de viagem desde que fizemos o check out, as dez horas da manhã, até as quatro horas da tarde, sem precisar carregá-la daqui pra lá e de lá pra cá.
Chegamos ao local de encontro de nossos futuros conhecidos cariocas muito cedo e fomos procurar um boteco para nos habituarmos com o jeito de ser dos coirmãos. Encontramos um que era o perfeito botequim ou butiquim, como queiram. Duas mesas na calçada e umas cinco dentro que receberiam fregueses para almoçar. O atendente, que era também o garçom e o proprietário atendeu-nos desconfiado, pois nunca tinha nos visto por aquelas paragens. O copo era americano, ou seria Cica, gelado. A cerveja que pedimos era de marca tradicional, porém era do tipo Premium. Fizemos um brinde e sorvemos o mel, ou o mé de que precisávamos. Estava uma delícia. Falamos de tudo e de todos. Estávamos em paz, bebendo, olhando os transeuntes de sábado de manhã num arrabalde simples, mas sem deixar de ser carioca. Quando fui ao banheiro pela primeira vez é que vi quem fazia a comida para os fregueses. Era uma senhora gorda, "peguenta", com a barriga de fora, pois a camiseta regata pouco cobria o corpo. O banheiro estava com água no chão. Lavaram e não enxugaram. Garrafas no chão, panos encardidos pendurados, fazia jus ao apelido que dão a este tipo de estabelecimento, "pé-sujo". Comemos uns petiscos baratos e deliciosos, provavelmente preparados por aquela cozinheira. Era só o começo de nossa manhã e depois de quatro cervas fomos ao encontro dos anfitriões.
A recepção foi excelente. Um grupo de 20 homens que jogavam bola toda quinta. O nome: Clube das 7, porque no começo jogavam às sete horas das noites de sábado. Estava acontecendo um torneio de futsal infantil com os times representando os grandes do Rio e o da casa. Venceu o Fluminense, derrotando na final o meu querido e eterno vice Vasco da Gama. Dos 20 componentes, por milagre 5 eram botafoguenses. Algo inédito no Rio, quiçá no Brasil. Os caras nos deixaram à vontade não permitindo que faltasse cerveja, nem as deixando esquentar no copo.
No meio da tarde, o amigo de meu irmão levou-nos até o Estádio Nilton Santos (Engenhão). Fomos assistir à partida entre Botafogo e América Mineiro, pelo Campeonato Brasileiro Série B. Meu irmão botafoguense, gritando com a torcida, e eu vascaíno, mudo, entre os admiradores da Estrela Solitária. Partida enfadonha, com os times já classificados para a Série A, sendo que o Botafogo já havia recebido inclusive taça e medalhas pelo título. Quando entramos, estava terminando o jogo entre os times sub 15 do Botafogo e do Fluminense. Era um torneio com os times do Rio e um convidado estrangeiro. Meu irmão viu entregarem a taça e as medalhas para os meninos cariocas e comentou que "era para não perder a mania de levantar taças". Durante a partida principal eu, cansado, cochilava de vez em quando. Vi dois chutes de cada lado que pareciam mais atrasadas para o goleiro adversário do que tentativa de fazer gol. Desculpem-me, vi também uma bola na trave que, segundo meu irmão, foi do Bota, porque eu nem vi de quem fora.
Fomos jantar e depois dormir porque o domingo prometia.
No domingo passeamos na beira da praia. Apreciamos futevólei, futebol de areia e as cariocas. Tomamos água de coco e, como dois manezinhos, olhávamos tudo e todos. Vimos duas senhoras pararem na calçada e apertarem um botão e se refrescarem com a água em forma de jato fraco que parecia uma nuvem. Não contamos tempo. Em fila indiana repetimos o gesto e saímos mortos de rir porque era novidade e não sabíamos se desligávamos ou se pararia automaticamente.
Depois de nossas forças terem sidas refeitas, nos deslocamos para a Feira de São Cristóvão. Eu já a conhecia, porém hoje está bem diferente de quando a visitei há mais de dez anos. Bem organizada, sem perder a essência. Pelas minhas lembranças, antes só havia o palco central, denominado Praça dos Repentistas. Hoje tem mais dois grandes palcos: o João do Vale e o Jackson do Pandeiro. São locais para apresentação de shows musicais de ritmos nordestinos, com destaque para o forró. No Pavilhão de São Cristóvão a cultura nordestina se manifesta nas mais diversas formas, destacando-se a música e a culinária. A Feira de São Cristóvão é a opção carioca para comprar, comer e se divertir, pois oferece artesanato, comida, bebida, folclore e muita música. Havia vários tipos de cachaça, mas não tinha ninguém "bicado".
A Feira sintetiza o Nordeste e oferece ao visitante tudo que a região dispõe, exibindo, nas quase setecentas barracas, a riqueza tradicional e proporcionando, ainda, a animação característica da terrinha: forró, xote, baião, xaxado, repente, embolada, arrasta-pé, maracatu e outros sons genuínos. Em cada palco fazíamos um pit stop, bebíamos cerveja e apreciávamos, além da música, um ou outro dançarino. Era "cabra" vestido a caráter, mulher com os "cambitos" dançando passos miudinhos, outro como se fosse dono do salão. Com os braços esticados, parecia dançar com a donzela de seu sonho. Havia um que dava pequenos saltos com "alpercatas" azuis, parecendo pular uma lagoa "que nem" uma gazela. Transeuntes "arretados" desfilavam a nossa frente. Caminhávamos entre as barracas, fotografávamos tudo que era diferente, fazíamos pose ao lado da estátua de Luiz Gonzaga. Os dançarinos, em frente ao Palco Jackson do Pandeiro, ficaram registrados em nossos celulares. No restaurante sentamos defronte a uma paisagem pintada na parede que registrava os roceiros, carregadoras de água, uma mulher com um cesto de frutas na cabeça, cactus, árvores diminutas e secas e uma igreja com o casario ao lado. Parado diante das figuras de bois e vacas, provavelmente feitos de gesso, eu, ostentando uma barriga protuberante, tal qual o rei do gado.
O almoço foi o mais barato possível, pois me acho "pirangueiro". Comemos baião de dois, batata frita, aipim assado, costelinhas de porco, carne de boi, tudo temperado a gosto com manteiga de garrafa e pimenta. A pimenta era forte e cada vez eu colocava mais. Repetíamos constantemente a frase: Mas é forte! Tomamos suco de buriti e de tamarindo.
Depois do almoço, "arribamos" e fomos visitar o Maracanã. Ficou muito bonito depois da reforma. Fizemos pose como se fóssemos os reis da cocada preta. Uma foto da parte superior das cadeiras o Adilton enviou para o filho que perguntou espantado: o senhor não está no Rio? Essas cadeiras parecem da Ressacada, do Avaí? A confusão é porque são azuis e brancas. A Sala da Fama achei bem sem graça. Só tem fotos do Zico, Pelé e Garrincha, se não me engano. O vídeo sobre a reforma mostra imagens antigas do milésimo gol do Pelé, pessoas no estádio antigo em jogo de Fla-Flu. Pessoas entrando no estádio em 1950 e a vitória do Uruguai com o gol de Ghiggia. No meu modesto parecer, é muito pouco para o que representa o estádio.
Tudo o que é bom dura pouco: tivemos que voltar. O Adilton foi o personagem principal do que aconteceu no retorno. A mulher dele comprou uma bolsa para ele realizar essa e outras viagens pequenas. Adilton carregou-a nos braços durante os dois dias. No aeroporto, na volta, colocou-a num carrinho e só reparou que podia puxá-la quando estava na fila na ponte telescópica, ou ponte de embarque. Para esnobar, até dentro do avião puxava-a com as rodinhas desfilando pela primeira vez. No avião a gente "se abria" quando se lembrava da pimenta e da rodinha da sacola.
Quem torce por um time e vai assistir a outro, praticamente um adversário. Quem cochila no campo de futebol e se cansa andando por ruas desconhecidas. Alguns dirão: esse fez um programa de índio. Direi diferente: estava com meu irmão, dando alegria a ele e ganhando paz e amor de volta. Foi um dos excelentes dias que passei. E mais não digo.

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