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Cronicas-->O NATAL, AS GERAÇÕES E A TECNOLOGIA -- 13/12/2015 - 20:30 (Félix Maier) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos

O NATAL, AS GERAÇÕES E A TECNOLOGIA

Por Emerson Rogério de Oliveira

emersonroli@terra.com.br

Quando Adão comeu a maçã e depois a Eva eles se tornaram os primeiros pais da terra e deram início à primeira geração humana. A fecundidade gerou a vida, a vida gerou as civilizações e destas se formaram as gerações, que se espalharam paraíso a fora. A perpétua sucessão dessas gerações, se sobrepondo umas às outras, é uma demonstração consagrada da presença de Deus no eterno fluir do Universo.

No dia 25 de dezembro, dia do nascimento do Menino Jesus, os anos passaram a ser contados, dividindo a Era Cristã em Antes de Cristo – AC e Depois de Cristo – DC, conferindo um marco para as gerações da humanidade.

Nascido em 1944, no final da Segunda Guerra Mundial, a minha geração já está de saída, dando lugar à próxima. Incorporei ao Exército na convocação da Classe daquele ano. Nossa geração ainda pegou o tempo das benzeduras e das cataplasmas. A descoberta e o emprego da penicilina eram bem recentes.

Viemos ao mundo envoltos em mistérios e surpresas. Tanto que, no início da concepção da vida, a mãe ou suspeitava que estivesse grávida devido ao atraso da menstruação ou confirmava o fato com o infalível teste do sapo. Esse teste consistia em injetar num sapo bufo, via subcutânea, a urina da mulher e observar a reação do batráquio, se ocorresse modificação no bicho o resultado era positivo. Grávida, todos ficavam curiosos para saber o sexo da criança até o dia em que a aparadeira (parteira), depois de dar um bofetão na bunda erguia a gente pelos pés e perguntava para a galera: “Adivinhem quem vem para mamar?”

Depois do banho na gamela, iniciava-se o rito da mumificação. Éramos cinchados pela cintura com largas faixas para prender o umbigo e em seguida embrulhados em várias camadas de cueiros (fraldas). Na cabeça, para proteger a moleira e os ouvidos, nos enfiavam uma touca. Assim entrouxados parecíamos pequenas múmias. Ficavam livres os olhos remelentos, que só se iam abrir depois de três ou quatro dias, o nariz para respirar e escorrer a meleca, e a boca ávida para mamar e emitir berros de protestos, que serviam para abrir os pulmões. Não bastasse, nos passeios cobriam-nos a cara com um tecido de filó por causa da claridade. Tempo de trevas!

Por ocasião da época do Natal sempre fiquei cismado por nunca ter visto nos berços dos presépios a figura do Menino Jesus entrouxado de roupas. Ele está leve e solto, com braços e pernas livres, podendo até chupar o dedão do pé.

Graças a Deus tudo isso mudou. A partir da geração dos meus netos sumiram aqueles varais com uma fieira de cueiros estendidos ao sol. Agora as crianças usam fraldas descartáveis. Que tal?

Os nossos netos já nascem com os olhos abertos e curiosos, observando tudo ao redor, sem se importar com os clarões das luzes e dos flashes das fotos e filmagens. E até fazem pose para o selfie. Adoram o barulho. Sons, cores e luzes são tudo o que eles querem. Arrisco-me a dizer que se percebem astros – os donos da festa. E não são? Lindos e maravilhosos eles desfilam pelas redes sociais compartilhando com os parentes, amigos e curiosos a sua chegada ao mundo. Fotos e imagens nas mais variadas posições transitam pela web em e-mail, whatsapp, twitter, hasthag, instagram...

 Na nossa geração os retratos eram raridades. Eu só comecei a aparecer na foto – e bem! – depois que já estava taludinho. Precisam ver a da minha Primeira Comunhão!

A rapidez das mudanças dos usos e costumes e o incrível avanço tecnológico, abriram enorme distância entre as gerações de antigos vovôs, como eu, e de seus netos. Dei-me conta disso quando eu e a avó planejávamos a escolha dos presentes deste Natal para os nossos netos Bernardo de 14 anos, Enzo de 7, João Pedro de 4, e o pequeno Victor de 2 anos.

Passamos três dias discutindo sobre o que lhes dar. Minha primeira ideia foi dar-lhes uma camisa do Grêmio.

– Não! As duas noras e o genro são colorados. Tu tá louco pra arrumar encrenca, ? – disse-me a avó.

 Então sugeri roupas.

– Também não! Eles já têm, e depois crescem e não servem mais.

Outras sugestões também não lhe agradaram. Então, provoquei-a: “Quem sabe um livro, talvez um clássico da literatura – Machado de Assis, por exemp...” Não cheguei a completar. Naquele dia não haveria negociação.

No seguinte, entrevistei dois guris do prédio e falei-lhes que pensava em dar-lhes espadas coloridas, reluzentes... Ao lado, o pai dos garotos interrompeu-me: “Bah, seu Emerson, isso era do meu tempo!” Vi os guris balançando as cabeças: “É... isso era do teeeempo do pai”. Saí sentindo-me jurássico, mas com uma lista de brinquedos que, segundo eles, “são os heróis que estão bombando” na aldeia dos infantes. Os nomes estavam em inglês, não conhecia o brinquedo e nem me lembrava daqueles heróis...

O que eu lembrava era dos nossos heróis das matinês de domingo e dos gibis que a gente trocava antes do filme, na porta do Cine Carlos Gomes – saudoso “Poeira”, em Lages. Lembrava-me do Fantasma e seu cachorro Capeto; do Zorro, seu cavalo Silver e do seu amigo índio,Tonto; do Roy Rogers e seu violão; do Tarzan... Lembrava-me dos brinquedos que nós mesmos fazíamos, usando a criatividade. Lembrava-me das meias e dos pratos em pontos estratégicos da casa humilde à espera do Papai Noel...

Assim absorto, fui interrompido pela avó, com a lista dos presentes na mão:

– Como é vovô? Vamos decidir isso?

Peguei o talão de cheque e fomos para as lojas do centro da cidade.

Em casa, à noite, colocávamos os pacotes no trenó do Papai Noel, com os endereços de entrega. Embalagens coloridas: IMAGINEXT – brinquedos articulados de super heróis, aventuras...; LEGOS – peças de plástico, de múltiplos encaixes de cidades, monstros...; AVENGERS – heróis vingadores como Hulk, A Liga, Wolverine..., e, por último STAR WARS – brinquedos inspirados no seriado Guerra nas Estrelas.

Enquanto endereçava este último pacote, pensava na Estrela de Belém que, com seu brilho intenso, anunciou o nascimento de Jesus e guiou os três Reis Magos do Ocidente até o local onde Ele estava. De presente levaram mirra, ouro e incenso.

 Aproveitando a paz e o silêncio do contexto daquele momento tão simbólico do Natal, a mente desbotada do “avô coruja” se deixou levar de um extremo a outro dessas duas gerações – a de Jesus e a dele, imaginando divertidamente: sem GPS a Estrela de Belém quebrou o galho... será que essa estrela não entrou na tal Guerra nas Estrelas...? que viagem essa dos três Reis Magos, em cima de camelos...! ... e a escolha daqueles presentes para o Menino Jesus, caramba...

– Como é vovô? Vai ficar aí pensando ou vai me ajudar aqui? – indagou a avó.

Olhei-a de soslaio com o olhar 43. Pela voz desconfiei que me chamava de velho gagá. Engoli. A pior coisa é arrumar encrenca com mulher, ainda mais no Natal.

Feliz Natal para todos nós, de todas as gerações!                                                    

  

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