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Poesias-->Não sei escrever poesias -- 29/11/2001 - 22:53 (Luís Augusto Marcelino) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
Tentei. Mais de uma vez. Dezenas de vezes, para falar a verdade. Mas não consigo. Considero que rimar amor com flor é meio óbvio. E detesto o óbvio. Há muitos anos, quando eu vivia a plenitude da adolescência, arriscava-me em alguns versos. Saiam pérolas do tipo “vã esperança de te explicar.; as razões da minha procura.; mas leia, em meu pensamento.; o que minha boca, te murmura.” Tudo forçado. Eu media todas as rimas. Ficava procurando nos dicionários as palavras que rimavam. De preferência, palavras de classes gramaticais diferentes. Detestava rimar verbo com verbo. Tive um amigo que fez uma rima magnífica. Era mais ou menos assim: “você é feita de cristal.; eu, do mais rústico metal.; ornar, tão difícil.; pra impossível não dizer.; você pode se quebrar...” Eu adorava esse poema do Marcão, que não vejo há anos. Separamo-nos por questões ideológicas. Mas ele exerceu uma influência notável sobre mim. Fez-me entender o valor das palavras, da métrica, da sonoridade das frases. Obrigado, Marcão!



Ontem pensei em acrescentar ao meu currículo as coisas que publiquei. Para ser sincero comigo mesmo, cheguei à conclusão de que não poderia considerar publicação aquilo que está disponível na internet. Afinal, qualquer receita de bolo, depois da popularização da web, pode ficar registrada para a eternidade. Já pensou, daqui a trinta anos seus netinhos consultarem sua home page com uma receita de pão-de-ló considerada exclusiva e poética? Impressionante. Mas eu poderia acrescentar ao meu currículo literário as dezenas de manuais que ajudei a criar no ganha-pão nos últimos anos. Coisas interessantes, do tipo “se o cliente disser isso, responda aquilo!” Como se eu fosse um psicólogo, um entendedor do comportamento humano, um jesuíta, um monge tibetano. As pessoas não deviam ser orientadas por manuais. Manuais foram feitos para se instalar videocassete ou fazer funcionar os aparelhos de microondas. Mas é trágico ter de afirmar que não publiquei nada. Fiz um manual para compreender a estrutura dos endereçamentos no Brasil. Eu poderia enriquecer com as técnicas que desenvolvi, mas deixei de lado. Costumo dizer que minha cartilha de aprendizado não foi o “Caminho Suave”, mas sim o “Guia Postal Brasileiro”. Conheço o CEP de quase todas as capitais. Só que, às vezes, confundo o CEP com o DDD. Porém, acabo me recuperando dos transes das codificações. São paulo: 01000 a 19999.; Rio de Janeiro: 20000 a 28999.; Espírito Santo: 29000 a 29999 (aposto que pouca gente sabe o CEP do Espírito Santo). Você pode imaginar que este tipo de conhecimento não agrega valor ao seu mundo. Contudo, em tempo de Show do Milhão, todo conhecimento é válido. Já pensou? Sílvio Santos com seu largo sorriso perguntando para o cidadãozinho aqui: “ma-ma-ma-ma, qual é o CEP do Espírito Santo?” Paparia um milhão do Homem do Baú, compraria um apartamento em Pinheiros, um Golf prateado, um terno Armani, a coleção de CDs do Caetano (e me livraria, de quebra, da reclamação constante da patroa pelo fato de eu fazer questão de armazenar meus discos de vinil sobre o guarda-roupa de mogno), três telesenas e dois carnês do Baú da Felicidade.



O assunto era poesia, e peço perdão ao leitor. Enveredo por outros caminhos, é sempre assim. Há uma, atribuída a Shakeaspare, que eu adoro: “farto de tudo, imploro a morte sossegada.; quando vejo o valor vestido como um pobre.; e com luxo trajado o miserável nada.; e perjurada, por desgraça, a fé mais nobre, a mão castigada.; (...) de fato, queria estar morto e sossegado.; se não deixasse o meu amor abandonado.” Coisa linda, perfeita (eu queria ter a poesia completa, porque é realmente bela). Jamais terei a capacidade de produzir algo assim. Poesia vem de dentro. E não adianta ficar querendo encontrar erros gramaticais. O que importa é a essência. Pelo menos é isso que eu penso.



Não tenho essência para escrever uma poesia. Infelizmente.



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