NA MADRUGADA A CIDADE
Quando estes cansados olhos espreitam e a estrada
Mais parece um enxame de estrelas derramadas
Fulgurantes, sobre um feltro em negro e breu
Quando deito longe o olhar percuciente e,
No horizonte, indiferentes e espalhadas hão estas
Tantas casinhas – órfãos pirilampos – piscando pra mim
Me dou conta que o tal de Universo não é tão
Distante, nem a Via Láctea tão longínqua
Como pintam de incerteza essas más línguas
Pois que perto, quase rente ao bus passando
Seres dormindo vão tecendo em nu granito
Colcha de sonhos que se estende ao infinito
É madrugada, o galo ainda não canta,
Noite fria prenuncia a solidão abissal
E na distância, as luzes da rouquenha jamanta
Deixa um rastro de tristeza
De ausência, de encanto,
Que n’alma dói como um punhal
|