Ao machão brasileiro
Claudionor sempre foi um cara sorridente.
Vestia terno branco, sapato reluzente...
Pinta no bigode. Gravata com desenho de um bode.
Ao lado do chapéu, uma marca carimbada:
Homenagem de amigos como rei da batucada.
Usava calça larga, quando não, boca de sino
Desfilava em madrugadas como grande figurino!
Claudionor era do tempo que malandro era prezado
Nunca foi do morro, como fosse, era tratado!
De cabelo carapinha, de topete engomado!
Cantava muita prosa por viver desempregado
Na cacheta: campeão!
Nas mesas de boteco, ganhava de marreco
Jogava palitinho pra beber rabo-de-galo
No truco é que mandava sua grana para o ralo!
Claudionor vivia à toa: somente de paisagem.
No clube dos poetas era grande personagem.
No samba, atração, sambava a noite inteira
Dançava “quadradinho”, bolero e capoeira
Conhecia, namorava, muita moça de futuro
Corria se escondia de marido atrás do muro
Na valia das mulheres, no salão, era primeiro
Na escala de valores, era puro galinheiro
Bebia uma cerveja na maior tranqüilidade,
Comia torresminho, cedinho ou muito tarde
Brincava de rasteira pra poder se exercitar
A navalha bem certeira era só pra amedrontar
Amigo de polícia, companheiro de ladrão
Vestia-se de malícia, só brigava com razão
Disfarçava ter coragem, cantava samba enredo
Na hora do aperto, fingia não ter medo
Assim é que vivia, o boa-vida Claudionor
Tranqüilo, bem sereno, não ligava pro andor...
Até que num belo dia, Zulmira o conheceu
Loira, muito quente, Claudionor se derreteu
Esqueceu o jeito “esperto”, sem querer se apaixonou
No passar de nove meses, por um filho se casou...
Cinco anos se passaram, mais cinco filhos Deus lhe deu.
Trabalha como louco, nem sabe o que ocorreu!
Acabou a boemia, o que era já morreu.
Perdeu a fama antiga, seu terno pendurou!
A Zulmira, bem... A Zulmira, coitadinha...
Lava roupa todo dia... Trinta quilos engordou!
***
O que sobrou da história:
“TODO MALANDRO MUITO ESPERTO... TEM SEU DIA DE MARRECO!”.
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