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Cronicas-->A candura de Càndido -- 10/02/2016 - 14:51 (Félix Maier) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos

A candura de Cândido

Hamilton Bonat - general e cronista

(Para melhor compreensão do texto abaixo, é preciso esclarecer que os fatos narrados são reais. Ocorreram em 1992 ou 1993. Os nomes dos personagens, inclusive o do Cabo, que era da PMDF, obviamente são fictícios).

- Desculpe, filho.

Era a quarta vez que o telejornal mostrava aquela chocante cena de uma perna se quebrando. Naquele dia, Cândido estava ao lado de Bruno.

- Quantas vezes tenho que lhe dizer que já o perdoei? Sua ideia era boa. Só que deu errado. Ninguém tem culpa.

- A ideia foi da sua mãe, não minha. Como era um simples cabo, comuniquei ao sargento, que comunicou ao tenente, este ao capitão, até chegar ao coronel, que achou ótima. Tinha tudo para dar certo. Comprei tecido, linha, botões e entreguei à sua mãe.

Dolores era um ás na máquina de costura. Daquela vez, caprichou ainda mais. Se a ideia era ótima, melhor ainda teria que ficar o uniforme com que o filho de quatro anos participaria do Sete de Setembro ao lado do pai. Quem sabe o Bruninho não apareceria na Globo!

- Você lembra como me senti orgulhoso quando desfilamos lado a lado. No dia seguinte, corri para a banca. Queria comprar todos os jornais. Por certo, você estaria nas primeiras páginas. E estava… Como fui inocente. Talvez por isso eu me chame Cândido. O tiro saíra pela culatra. Minha culpa.

- Que nada, pai.

- Foi o detalhe, Bruno. Como me arrependo de, por ser perfeccionista, ter comprado, também com o meu dinheirinho, aquele maldito revólver de plástico. Taxado como símbolo de violência, foi ele que apareceu nas primeiras páginas e, durante dias, nas redes de televisão, entre elas a mesma que hoje está repetindo a cena da tíbia quebrada. Todos queriam o meu pescoço, o de um pai que usara o filho para incentivar a violência.

- Ora pai, já lhe disse, o senhor está perdoado. Lógico que eu nunca mais quis vestir farda. Só lamento a minha imagem ter sido usada pelos que pregavam o desarmamento. Conseguiram desarmar apenas o cidadão pacífico. Agora ele virou refém da bandidagem. Veja só os números. Em 1992 (parece que foi neste ano que desfilei) houve 21.086 mortes por arma de fogo no Brasil. Em 2010, aumentou para 38.892, cifra maior do que a de muitos países em guerra.

- Se pudessem, teriam me enforcado em praça pública…

- Mas não enforcaram. Vamos mudar de assunto. E a luta?

- Pois veja bem, a mesma grande rede que apertou o meu pescoço, acusando-me de propagar a violência, hoje leva a todos os lares essa barbárie. Aqueles golpes, alguns literalmente mortais, dão muita audiência. Por trás deles estão milhões de reais, dólares e todo tipo de moeda, pelos quais são ávidos a mídia, os patrocinadores, e os próprios “atletas” e seu entourage. Todos ganham, exceto a sociedade.

- Exagero!

- Não é. Estamos regredindo aos tempos da Roma antiga. A diferença é que lá o povo tinha que deslocar-se ao coliseu para ver sangue, enquanto aqui o sangue jorra dentro das nossas casas. Depois, eu é que fui um apologista da violência…

- Deixa pra lá. Às vezes eles dão azar. A perna quebrada continua dando audiência, mas ela seria bem maior se o Schumacker não tivesse se acidentado logo em seguida, desviando um pouco o foco.

- É mesmo. O Alemão, apressadinho como sempre, resolveu atrapalhar. A turma deve estar pensando: “Ele bem que poderia ter esperado mais algumas voltas para bater naquela pedra dos Alpes Franceses”.

- Cadê mamãe?

- Está na máquina de costura. Mas fique tranquilo, ela não faz mais fardas.

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