O combate à dengue de 2001 na Baixada Santista não alcançara os resultados esperados. Apesar da seriedade e dedicação dos agentes de saúde, muitos moradores, temerosos por sua segurança, não os autorizaram a entrar em suas residências, fossem humildes barracos ou casas luxuosas.
Em 2002, a Brigada Antiaérea participou da campanha. Por confiarem nos soldados, as pessoas abriram para eles os seus portões de ferro. O “aedes aegypti” finalmente foi neutralizado.
Sempre que pude, acompanhei algumas das minhas equipes. À medida que elas se deslocavam no sentido centro-periferia, observava o gradativo aumento do número de crianças. Nas favelas, vi soldados cercados por verdadeiros batalhões de brasileirinhos atraídos pela farda que, via de regra, faz parte do imaginácute;rio infantil. Ali pude constatar a dura realidade da nossa pirâmide social, cuja base se amplia de forma preocupante.
Militares, por formação (ou deformação), são exageradamente otimistas em relação ao seu país. Não sou exceção. No entanto, cada vez que entrava no único cômodo de um barraco onde se amontoavam seis, sete ou mais pessoas, meu lado pessimista resmungava: como pode uma família tão numerosa sobreviver com algo em torno do salácute;rio mínimo? Como se sustenta, educa, veste e cuida da saúde de tantas pessoas? Como poderácute; a nossa economia, por mais pujante que venha a ser, gerar emprego para tanta gente?
Os atuais presidenciácute;veis parecem ter resposta para as minhas aflições. Discursam horas, explicando como resolver os problemas da educação, fome, saúde, do desemprego, da segurança, reforma agrácute;ria, distribuição de renda e da prostituição infantil. Brilhantes projetos, porém meros paliativos se for mantido o ritmo de crescimento daqueles batalhões mirins das favelas.
Preocupa-me o fato de candidato algum abordar, de forma séria e responsácute;vel, o tema demografia. Acredito, não sem lamentar, que alguns daqueles meninos de 2002 jácute; foram cooptados pelo crime organizado. Que, das meninas, algumas foram arrastadas para a prostituição infantil. O que mais falta para acionar o sinal de alerta? Que mais crianças sigam o caminho sem volta do trácute;fico e da prostituição?
Dias atrácute;s, meu lado otimista, aquele que é deformado, teve novo alento. Ao ser questionada pelo repórter Pedro Bial, da Globo, sobre
a razão de as coisas funcionarem em Nova Pácute;dua, uma professora foi taxativa: “é porque aqui existe controle da natalidade”. O que ela quis dizer, e disse com outras palavras, é que naquela pequena cidade gaúcha pratica-se a paternidade responsácute;vel.
A lição da jovem professora parece bem clara: a de que todas as soluções para o Brasil não passarão de devaneios enquanto não for estendido à base da pirâmide social o direito jácute; adquirido pelas classes média e alta – o de poder decidir quantos filhos se deseja ter. Se isso não ocorrer, a sina de muita criança da periferia serácute; a de continuar a viver amontoada – no barraco, na febem e, depois, na casa de detenção.
Como, ao que parece, não entenderam a lição, nossos presidenciácute;veis continuam com seus utópicos discursos. Utopia por utopia, meu voto vai para a corajosa professorinha gaúcha, minha utópica candidata.