Derrota de Cunha é derrota do PT e de Lula
Sérgio Malbergier
03/03/2016 10h45
A Lava Jato é a única coisa que avança, benignamente, no Brasil. O antigo regime que sufoca o país há 500 anos nunca esteve tão ameaçado. E isso acontece justamente quan-do a esquerda pela primeira vez está no poder. O PT, afinal, não revolucionou a forma de fazer política. Pelo contrário. Aderiu e aprimorou tudo o que se fazia antes. A revolução vem de Curitiba, não de São Bernardo.
A luta do PT pela sobrevivência assim se contrapõe à luta inadiável contra a corrupção e o desmando. Os petistas se colocaram do lado errado dessa equação e da história. Não há nada mais reacionário hoje do que um militante petista.
Quem não tem ao menos um amigo que ainda segue defendendo o partidão com argu-mentos do tipo — o PSDB também rouba, sempre teve corrupção no Brasil, isso é perseguição do establishment, o PT fez as mesmas coisas que os outros partidos sempre fize-ram e ninguém foi punido.
É o direito adquirido de ser corrupto, um discurso que só serve para sustentar os podres modos do establishment político brasileiro, que tem no PT hoje seu maior representante.
A única saída para o partido é cobrar explicações de seus dirigentes, a começar por Lula, e expurgar sua parte podre. Mas o PT não vai confrontar Lula, muito menos expurgá-lo. Por isso está morrendo afogado nos braços de seu comandante e levando junto a esquerda brasileira, que passa ridículo ao defender empreiteiros corruptos no afã inútil de se de-fender. Estão todos no mesmo pedalinho, juntos com Eduardo Cunha.
A derrota do ainda presidente da Câmara no Supremo é uma derrota também do PT e de Lula porque sinalizou mais uma vez força da Lava Jato diante do tribunal.
Quanto mais Cunha se encrenca no STF, mais Lula e outros investigados, de tantos par-tidos, podem se encrencar. As investigações são as mesmas, as delações são as mesmas, os fatos e os atores estão todos interligados. E ainda há novos colaboradores na fila da delação e novas fases em gestação.
É como disse ontem o ministro do Supremo Marco Aurélio Mello, ligando os pontos: "O que está havendo no Paraná e também na órbita do Supremo revela que a impunidade não pode mais prevalecer".
Por isso, até Cunha já ganha defesa de esquerdistas, por mais incrível que isso possa pa-recer. O Brasil sempre foi um país incrível, ditado mais pela resistência de seus defeitos do que pela resistência de suas qualidades. Chegamos a tal ponto que só a Lava Jato salva. É ela ou esse país arcaico que, na medida mais fundamental do PIB, encolhe 3,8% ao ano.
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