ACONTECIA NA HAPPY HOUR
Walter costumava se reunir com os amigos nas tardes de sábado.Depois de muitas cervejinhas, é claro, começava aquela cantoria de bêbado.
E ele, animado, acompanhava. “Meu coração, não sei por que, bate feliz, quando te vêeee...” daí em diante só batucava, de boca fechada.
Lá vinha outra, e Walter retomava: “A estrela d´alva... no céu desponta... e a lua anda tonta... com tamanho esplendoooor...” Por aí a boca fechava, só os dedos tamborilavam.
No decorrer do repertório, às vezes ele começava, às vezes só entrava lá pelo meio da canção. Batucava o tempo todo, a cabeça balançante, os olhos abrindo e fechando, no embalo dos sentimentos.
Todo sábado era a mesma coisa.
Os amigos, pra lá de Bagdá, não entendiam muito bem. Um dia, um deles perguntou:
_ E aí, Walter, por que você não canta com a gente o tempo todo?
_ Eu não sei as letras.
_ Olha só! Ele não sabe!
_ Como na sabe? Logo você, que trabalha na boate!
_ É, mas lá eu sou o porteiro.
_ E daí, meu?
_ É que eu fico na calçada. Quando chegam os clientes, eu abro a porta. E só aí é que escuto um pedacinho das músicas... Cada hora é uma, né?
(*) Inspirada no antigo quadro humorístico "Faça Humor, Não Faça a Guerra", de Jô Soares
Beatriz Cruz
|