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Cronicas-->A MELHOR COISA DA VIDA SEGUNDO NIEMEYER -- 06/06/2001 - 01:22 (João Ferreira) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos


A MELHOR COISA DA VIDA SEGUNDIO NIEMEYER


Jan Muá
5 de junho de 2001




Chamou-me a atenção, nesta noite de 5 de junho de 2001, a descontraída entrevista que Oscar Niemeyer concedeu a uma repórter do programa "Acontece" da Rádio-Televisão Portuguesa Internacional -RTPi, que ouvi, em Brasília, por volta das 22,55.
A essência da entrevista foi a arquitetura, ou melhor dito, o conceito de arquitetura. Maravilhou-me ouvir de Niemeyer um conceito preferentemente humanístico de Arquitetura. Maravilhou-me a colocação da arquitetura como a projeção de um espaço múltiplo e linear destinado a simbolizar a liberdade e a felicidade do homem na sua movimentação espacial e existencial. Ao ser perguntado sobre os fundamentos e teorias arquitetónicas que caracterizam sua obra, a entrevistadora quis saber como via Niemeyer seu projeto monumental de Brasília. O célebre arquiteto brasileiro, serenamente, respondeu que "Brasília representava, em seu projeto, uma aventura".- "É uma aventura", disse. Achei essa declaração uma resposta poética, ampla, abrangente, profunda. Como ouvinte pude perceber que ele não protagonizou uma arquitetura para engessar o homem. Bem pelo contrário, seu projeto representa uma arquitetura libertária que é ao mesmo tempo uma aventura. Entende-se por aventura esse vóo criativo que ele liberou quando no espaço amplo do Planalto, que é o coração do Brasil, conseguiu desenhar e ver, com originalidade, a aventura das linhas tornarem-se realidade na Praça dos três Poderes, no Itamaraty, nos arcos do Palácio do Planalto, nas conchas e nas torres do Congresso, no eixo monumental emblemizado pela Torre de TV, na Catedral redonda e abobadal, de cúpula em feixes de concreto armado, de vitrais místicos e anjos pendentes, onde a alma poética voa carregando religiosidade pela leveza. Encontramos seu vóo criativo e aventuroso na catedral que, em ação dupla, consegue dispersar, pela comunicação cósmica, de fora para dentro e, na lógica do movimento contrário, consegue também concentrar de dentro para fora ou só dentro, levando-nos a colher a sensação de majestade natural, que o espaço do templo carrega em linguagem densa, comunicando à própria vida do visitante sensível, religioso ou poeta, o sentido de uma incursão no espaço, no tempo e na vida, abrindo para formas variadas, para a liberdade e para a expressão vital procurada pelo homem.
A definição do projeto Brasília como "aventura", para quem já possui impressões concretas da monumentalidade da capital brasileira, ficou-me boiando poeticamente nos ouvidos e vou dizer até que mexeu comigo que estou participando desta bela aventura há muitos anos.
Mas houve outro passo muito interessante na entrevista. Um passo vital, amoroso e poético. Imagine o leitor. Foi já no finalzinho da entrevista dada por Niemeyer à repórter do programa "Acontece" da TV portuguesa. Para encerrar, a jovem entrevistadora perguntou a Niemeyer qual era, em sua opinião, a melhor coisa da vida. Podem imaginar a resposta? Aí vai. Serenamente e poeticamnete, com uma juventude que denunciou uma aura sagrada em seu rosto, o simpático octogenário, arquiteto de Brasília, mundialmente famoso, respondeu: "A melhor coisa da vida?- disse, repetindo a pergunta da entrevistadora. E continuou: "A melhor coisa da vida é estar abraçado com uma mulher". E, nestes termos, a entrevista encerrou.
Pensei comigo que os telespectadores da lusofonia, espalhados pelo mundo, cada um em seu canto e região, devem ter pensado o que eu pensei. Ou seja, devem ter pensado que, enquanto, com meros objetivos comerciais, certas Tvs, no orbe terráqueo, cultivam e realimentam a guerra dos sexos, as disputas e diferenças entre homem e mulher, Niemeyer, com a sabedoria da experiência, da vida e da idade, e com toda a serenidade, concluía genesicamente, como se fosse um sobrevivente do Éden, apostado em ditar a seus ouvintes a verdade da natureza: "A melhor coisa do mundo é estar abraçado com uma mulher". -Lindo, pensei. E no meu espírito acendeu-se uma luz, a qual me mostrou que o abraço múltiplo do amor, da amizade, da união, da parceria, da luta em comum pelo destino humano na terra, são algumas das muitas situações que justificam este abraço de um homem e de uma mulher, símbolo de sua inquebrantável união na vida. Parabéns, Niemeyer, pela lucidez .

Jan Muá
5 de junho de 2001
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