">
A FALA DAS AVES, SEGUNDO VOVÓ BRENDA
Uma estória pra criança da cidade.
Lá nos fundos do roçado, depois da cancela, passa o riacho encantado.
No pomar cheio de limão, caju, laranja, mamão, ouve-se o arrulhar das pombas-rolas cantando o mesmo refrão:
“O fogo apagô,
Na casa do rei
Meu senhô...”
Na cozinha da fazenda, Tia Helena e vovó Brenda, escutam os passarinhos, voltando para seus ninhos, animados a conversar.
Na lagoa o sapo gordo, que com ninguém está de acordo, também começa a coaxar.
A Saracura escandalosa, de pernas longas formosas, bate as asas muito aflita, e pra outras aves grita:
_Quebrei três potes, quebrei três potes! Quebrei três potes!
_O pote é um só! O pote é um só! O pote é um só!
Responde o sapo zangado, com o grito desesperado, desmentindo a Saracura, que pra toda mata jura que os potes eram três.
Nesse instante a Jaó, que não pode viver só, lembra da briga infeliz que teve com a Perdiz e começa a gritar:
_Perdiz! Vamos “fazê as páiz”?
_Eu? Pra nunca mais!!!! – responde a injuriada Perdiz.
E esse cantar sentido da Jaó arrependida, por muita gente é ouvido; E a Perdiz rancorosa não quer aceitar a prosa da prima que a ofendeu.
Da fazenda vovó Brenda, conta o tempo pra cada ave relatar os seus eventos, no retorno aos ninhos. É lindo o entardecer ouvindo o coro dos passarinhos, regido pela natureza.
Ouve-se o Pássaro Preto enamorado, num canto apaixonado cortejar a sua Pássaro Pretinha. Vovó Brenda jura que ele diz:
_Muié! Qué casá cumigo?
_Quero! O que ocê me dá?
_Fita, fita, fita só! Fita, fita, fita só! – promete o Pássaro Preto.
Pobre Pássaro Pretinha, tão charmosa e bonitinha, como é que vai viver com o noivo a prometer, fita,fita, fita só? Pergunta-se a vovó.
Mas nesse mesmo instante, ouve-se o canto distante, do bando de bem-te-vis. Tão pequenos e bonitinhos, as mães perguntam de pertinho num mesmo tom de canção:
_”Fiinho”! “Fiinho”! Bem-te-vi! Bem-te-vi!
E vovó Brenda sentada, na varanda da fazenda, pensa lá com seus botões: É como se eles dissessem, eu vi tudo o que acontece, meu filhinho trapalhão.
Por um instante a floresta silencia sua orquestra. Até o coaxar das rãs e dos sapos gordos emudece. Mas o silêncio é rompido com o tremendo alarido da Seriema a esgoelar.
_Comade, comade, comade, comaaaaade!!!!
Vovó Brenda sempre diz que só erra por um triz. Ela acha que a Seriema grita por que é sempre aflita, vive olhando para os lados, só não tem medo do gado, lá no campo a pastar. A Seriema parece estar sempre assustada, e grita desesperada pra sua comadre a ajudar.
A noite então se aproxima e vovó Brenda na sua rotina ouve o indeciso Curiango prometer pra alguém:
_Amanhã eu vou! Amanhã eu vou! Amanhã eu vou!
Ela sabe que ele jamais cumprirá a promessa.
O Curiango é uma ave igual aos políticos!
Conclui ela, esperando o cantar da coruja, o único que continuará pela noite adentro, num coro com os grilos e o coaxar dos sapos.
E assim termina mais um dia na Fazenda, onde vive a vovó Brenda.
(Hull de La Fuente)
Claraluna
Publicado no Recanto das Letras em 07/11/2007
Código do texto: T727874
|