Usina de Letras
Usina de Letras
171 usuários online

Autor Titulo Nos textos

 

Artigos ( 62214 )

Cartas ( 21334)

Contos (13261)

Cordel (10450)

Cronicas (22535)

Discursos (3238)

Ensaios - (10357)

Erótico (13569)

Frases (50609)

Humor (20029)

Infantil (5429)

Infanto Juvenil (4764)

Letras de Música (5465)

Peça de Teatro (1376)

Poesias (140799)

Redação (3303)

Roteiro de Filme ou Novela (1063)

Teses / Monologos (2435)

Textos Jurídicos (1960)

Textos Religiosos/Sermões (6187)

LEGENDAS

( * )- Texto com Registro de Direito Autoral )

( ! )- Texto com Comentários

 

Nota Legal

Fale Conosco

 



Aguarde carregando ...
cronicas-->Reflexões de restaurante -- 06/06/2001 - 19:11 (Alberto D. P. do Carmo) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
Almoço sozinho, duas ou três vezes por semana, num restaurante aqui do bairro. Nos fins de semana costumo ir com algum dos meus filhos. Mas as solitárias refeições dos dias úteis (quem inventou isso de dia útil?) são as mais interessantes.
O restaurante divide-se em dois grandes salões, sem divisórias físicas. A divisória é social, ou casual, conforme anda o bolso do contribuinte que lá mata a fome. Explico: na ala direita, fica um excelente rodízio, com atendimento de primeira. Lá se alimentam os estómagos mais abastados, ou as carteiras mais recheadas, ou ainda, os tubarões das redondezas, se assim preferirem. Não, eu não moro à beira-mar. Aqui nesta ala, a tarifa é cheia. Paga-se bem e come-se a bel prazer.
Na ala esquerda, habitam os grumetes, ou o povo, como diria a filha não sei de quem, que agora me falha a memória. Ali rola o já famoso "por quilo", o "self-service", ou "vire-se como puder", se preferirem. Nesta ala paga-se meia-entrada e come-se o que o salário permitir. Pesou, pagou.
Detalhe: as alas são rigorosamente iguais, em termos estéticos, ou, "a nível de mesas", como diriam os incautos. Mas há controvérsias. Na ala nobre, as toalhas são trocadas a cada novo conviva. Na ala económica, uma passadinha de pano resolve o problema. Mas são diferenças mínimas, você nem perceberá, se não olhar embaixo da mesa, claro.
As duas alas podem servir-se, além da mesa de bufê, do churrasco da casa. Mas aqui está uma diferença digna de nota. Na ala "senior", os espetos são levados à mesa do comilão em peças inteiras, pingando ainda, para ser tirada aquela lasca saborosa, à escolha do pagante. Após servidos, a dita peça é levada a uma churrasqueira, localizada estrategicamente na ala "junior". Chega lá quase no osso, ou no espeto. E salve-se quem puder. A seleção olímpica tem que dar um "sprint" para conseguir um naco. E pesar, claro.
Certa vez, ao pedir uma lasquinha básica de um cupim já magrinho, pensei comigo: - Tudo bem, se "eles" quiserem mais, vão ter que se virar com este. Mas, qual não foi minha surpresa ao ver uma peça de cupim, novinha em folha, gorducha, gotejante, sendo servida pelo garçom, que mais parecia um espadachim, para deleite da seleção oficial. E depois também veio repousar na "nossa" churrasqueira, toda esbelta. Pensei com meus botões: - O povo, unido, jamais vai comer cupim... Ai de mim!
Algumas vezes eu frequento o setor classudo. A diferença começa na chegada. O porteiro pergunta: - Por quilo ou rodízio? Conforme sua resposta, há duas alternativas de frase seguinte: - Por aqui, doutor. Ou então: - Siga em frente. Vocês decidem qual cabe a que classe de usuários.
Uma vez acomodado, percebe-se diferenças microscópicas, que só quem está aqui, com toalha recém-chegada da lavanderia, pode notar. A lata de azeite virgem é virgem mesmo. Lá, na periferia, ela já chega deflorada e babando - a gente precisa apertar a coitada até amassar o chassi. Aqui, é só inclinar que jorra generosa. Aqui, o garçom enche o copo de cerveja até atingir o colarinho exato, parecendo um lance de xadrez, você até aplaude a performance. Já lá, ele põe a garrafa na mesa, com o braço passando entre seu nariz e a garfada que está em andamento e... "self-service", o colarinho é por sua conta mesmo.
Certa feita, assisti a uma cena que dá o que pensar. Um casal simples entrou para o almoço. A ala da geral estava lotada e eles foram encaminhados por um dos donos do restaurante, que fica à porta, para as numeradas. Pensei emocionado: - Que bela atitude, não houve discriminação. O casal vai poder deglutir seu "por quilo" sossegadamente na ala das toalhas com branco da janela.
Passados dois minutos, ouvi um burburinho no setor A. Corri para ver o que acontecia. A cena era hilariante, senão comovente, ou digna de reflexão. Um garçom, cujos olhos chispavam, estava munido de um espeto, carregado de uma picanha lancinante, apontando para o peito do rapaz. O rapaz, com os olhos arregalados, estava com as mãos para cima. A esposa brandia a carteira de trabalho do marido, como uma bandeira. O dono do restaurante acalmava a ira das demais mesas vip, revoltados que estavam ao ver gente simples respirando o mesmo ar que eles, enquanto um advogado oferecia, sorrateiramente, seu cartão de visitas ao pobre rapaz, e voltava ao seu rodízio-máster, com um sorriso matreiro.
Acalmada a situação, foram os três - o casal e o ex-garçom esgrimista - almoçar em outra mesa. No "por quilo", claro!
Como diria o saudoso Lilico: - É bonito isso?







Comentarios
O que você achou deste texto?     Nome:     Mail:    
Comente: 
Renove sua assinatura para ver os contadores de acesso - Clique Aqui