.................................................................................................................................................................................
Diariamente, peço ao Tim que dê uma risada. É para ele sentir que ainda está vivo! Claro, há pessoas que já se
foram deste planetinha e pensam que ainda estão vivas. E continuam habitando entre nós, como se vivas
estivessem. Escovam os dentes pela manhã, pegam táxis e vão trabalhar como se ainda estivem com vínculos
empregatícios nas firmas onde trabalharam. E ocupam suas antigas salas, como se elas ainda estivessem lá, e
ligam seus computadores e se conectam com a internet... . E pensam que estão somente em final de carreira,
esperando os prazos para se aposentarem, e, por isso, não participam mais daquelas discussões nefandas
sobre projetos utópicos que tanto justificaram suas respectivas existências. E falam que ainda querem,
apenas, a bolada dos quarenta por cento do efegete-esse que o efeagac e o petê ainda pensam em rolar
mais pra frente.
Até publicam textos na Usina de Letras. E, numa cronicidade incrível, aparecem nas diversas categorias. E
como são versáteis. E opinam sobre qualquer coisa. Falam desde o amor até o mais profundo ódio.
E minha mãe me ensinou que, quando você está para morrer, um mosquitinho de nada, desses que a gente
não consegue ver, dá sempre uma chupada naquela parte mais inchada da suas olheiras de ressaca. Você
passa a mão e tenta agarrá-lo, mas ele nunca se deixa apanhar. Faça frio ou faça sol, de noite ou de dia,
esteja você de pé, sentado ou de cama, ele aparece, dá sua chupadela e se vai. É o aviso!
O Tim anda bebendo muito. O Tim, apesar da muita água que toma, não tem conseguido desinchar os olhos.
Você vê logo. E, de vez em quando, ele dá um tapa na altura dos olhos e fica tentando ver com rabo-de-olho
alguma coisa imperceptível. Mas, será que ele ainda está por aqui mesmo? Inda bem que ele ainda está dando
risada. Ou será que a risada dele, também, é só imaginação?
(Com os cumprimentos do Tim, crente em profundezas em geral, fundos falsos e falsas presenças)
|