Quando eu era pequena, às vezes viajava sozinha com papai e o movimento nas estradas era mínimo, mas nosso trajeto longo. Então o Zé Geraldo dava umas bocejadas bem alto, não sei se para quebrar a monotonia ou fazer graça. E eu quase morria de vergonha. Abaixava a cabeça e me escondia. Achava que os outros iam escutar, que coisa mais feia.
Certa vez foi de mim que os adultos riram, deixando-me encabulada. E eu nem sabia porquê. Foi quando paramos em São Paulo para almoçar. No burburinho do centro eu o acompanhava aflita, com medo de perdê-lo . Entramos num prédio onde havia muita gente e ficamos parados numa fila. De repente uma porta se abriu e todos se encaminharam para ela. Nós também. Entramos num lugar apertadinho e sem janelas. Não compreendendo o que se passava, tive que perguntar: o que é que estamos fazendo nesse quartinho escuro? A resposta foi uma risada geral.
Só depois que saímos dali é que papai me explicou. Estávamos num prédio de vários andares, no Mappin, e o restaurante ficava bem acima da rua. O quartinho servia para nos levar até lá. Era o elevador!