PIANISTA FRUSTRADA
Parecia tão fácil tocar piano... Só batucar naquelas teclas sonoras. E os acordes, então! Fortes, estridentes!
Pedi à mamãe para ter aulas e comecei a freqüentar a casa da professora. Tive que fazer muita ginástica com as mãos, para que ficassem leves, com os pulsos na altura certa. Além disso, havia a curvatura dos dedos, não podiam estar retos nem tensos em demasia. Isso tudo sem contar com a leitura das notas, que eu aprendia passo a passo.
Aos poucos fui me acostumando, tentava tocar o que estava na pauta, sem olhar para o teclado. Mas sou meio desajeitada, de repente errava uma nota, ficava envergonhada e perdia o controle de tudo. Tinha que recomeçar.
Aliás, recomeçar os exercícios era o que eu mais fazia, todos os dias, na casa de minhas tias.
Mais tarde ganhei um piano, velho, só para mim. Tinha que estudar umas duas horas por dia. Fechada na sala, já tocava certas musiquinhas. Mas se alguém por ali aparecesse, babau, meus dedos pareciam de pau.
Com o passar dos tempos, comecei a perceber, e me convencer de que não era das mais bem dotadas. Não bastava gostar, tinha que ter algo mais.
Beatriz Cruz
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