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cronicas-->Coca e Cola -- 21/06/2016 - 09:27 (AROLDO A MEDEIROS) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
Coca e Cola

Aroldo Arão de Medeiros

Eles não se conhecem. Nunca se viram, mas têm algo em comum: um fez uso de drogas, o outro ainda faz.
Coca ganhou esse apelido por ser usuário constante de cocaína. Tinha uma vida boa. Trabalhava numa grande empresa. Família muito bem estruturada: mulher e duas filhas espetaculares. Colocou tudo a perder quando se envolveu com amigos errados e passou a fazer uso de maconha. Dali para a cocaína foi um pulo. Perdeu filhas, esposa, emprego. Como seus pais eram pessoas de boa posse, o socorriam. Assim não passava fome.
Como diria Moriel da banda Dazaranha: "Sobe o morro do perigo. Não é mais do que ninguém. Vai subir com vinte e cinco. E vai descer com mais de cem".
Foi o que certo dia aconteceu com Coca. Lá pelos idos de 90, subiu a favela para comprar cocaína. Escalou as ruelas com 25 reais e desceu feliz com 100 gramas da branca. No sopé do morro, dois bandidos o aguardaram e com revolveres em punho o renderam:
- Não apareça mais aqui para comprar droga do Urso Panda. Desta vez, segues vivo. Da próxima, não escapas. Passa o restante da grana e a coca.
Revolver encostado na boca, passou tudo. E a vida deu uma guinada. Parou de beber, fumar, cheirar e injetar. Voltou ao antigo emprego.
Começou a apoiar quem dependia do lixo humano e dava palestras incentivadoras para a boa saúde. Apesar da burrice que cometera, era um cara inteligente e escreveu livros de apoio aos que necessitavam. Constituiu nova família e vive feliz, sempre com medo de recaída.
Cola provavelmente não vai sair da vida que leva. Não tem um lar de verdade, é pobre, preguiçoso e ladrão. Contam que certa vez Pascoal e Aparecida foram passar um fim de semana na casa de praia, na Guarda do Embaú. Ao retornarem, sentiram falta de alguns pertences em casa. Mais uns dias de folga do casal. E o fato se repetiu. Prepararam-se para pegar o pandilha. Não havia sinais de arrombamento. No sábado saíram de carro, mas ao invés de irem se divertir, visitaram um parente, para fazer horas. Tarde da noite, voltaram e deixaram o carro afastado da casa, mas com àngulo de visão de dentro do veículo. Às três da madrugada, o gatuno em cima da residência. Deram um tempo até se dirigirem à porta. Com a chave na mão, qual foi a surpresa do casal?
- Não acredito que és tu, Cola?, Pascoal proferiu a frase com o queixo caído.
- Pois é, né. Tenho que vender alguma coisa para comprar cola.
Respondeu com cara-lavada. E acrescentou:
- Pascoal, o que vais fazer comigo? Se me entregares para a polícia, sabes que saio no outro dia. Alguns dias depois venho te roubar. Tem mais, somos amigos desde a infància. Espero que não me prejudiques.
Pascoal puxou uma arma do bolso que havia pedido emprestada e, nervoso mas decidido, advertiu:
- Cola, saia por onde entrastes. Arruma a telha direitinho. Não apareça mais aqui. Na próxima vez te mato. E esqueço que fomos amigos.
Cola, como um gato, escalou até as telhas, evaporou-se e nunca mais apareceu.
Esse mesmo malfeitor me fez uma, digo, duas, aliás três visitas sem ser convidado.
A primeira num domingo às sete da noite. Há um terreno baldio entre minha casa e a rua principal. Entrou no terreno e, como homem-aranha, escalou o muro de quatro metros de altura. Tinha jogado um bujão de gás vazio por cima do muro quando um vizinho viu e berrou. Fugiu. O bujão foi recuperado. Minha patroa fez questão de colocar o bujão no mesmo lugar. Até as três da madrugada, ela fez plantão. Depois caiu no sono e o larápio voltou. Levou o botijão, um aparelho de som portátil, um lençol, uma cadeira de praia e um pedaço de corda do varal.
Colocamos cacos de vidro quebrados no canto do muro onde desconfiávamos que ele subiria, se tentasse novamente. Colocamos grade na edícula. Não é que a confecção do gradil demorou mais que a visita do meliante. Na segunda vez levou um balde de plástico com meia dúzia de litros de refrigerantes. Colocamos arame farpado no muro.
Dois meses depois, vi que a luz sob minha janela havia sido acesa. O sensor de presença funcionou. Corri para ver: não havia ninguém. Só no dia seguinte fiquei sabendo: o vizinho recebera um telefonema informando que havia alguém no terreno baldio. Correu e não viu ninguém. Provavelmente o safado havia fugido ao se deparar com a cerca metálica, inventada na época das guerras, com farpas pontiagudas, que mantém vagabundos, safados e desocupados distantes.
Graças à prisão domiciliar em que me encontro, Cola nunca mais apareceu.

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