Algumas senhoras, inclusive minha mãe, acharam que suas filhas estavam em idade de aprender balé. Mas não havia uma escola para isto na cidade e elas tiveram que providenciar a vinda de uma professora de São Paulo.
Por esta época eu tinha aulas de francês com Mme. Patural e de inglês com Mrs. Jessy. Uma vez por semana comecei a ter também aulas de balé e isso durou alguns anos.
Ao final do primeiro ano, apresentamos um espetáculo no teatro e o sucesso foi grande. Tão grande, que no ano seguinte fizemos uma turnê por várias cidades do Vale do Paraíba. E ainda subimos a serra para dançar em Campos do Jordão.
Tempos depois, quando lá voltei para umas férias, tive que passar por um exame médico que os hotéis exigiam. No momento em que disse meu nome ao doutor, ele ficou impressionado e perguntou se eu ainda dançava. Achei muito estranho, eu não só não dançava mais, como nunca tinha sido nenhuma estrela. Como é que ele sabia?
O médico, então, abriu uma gaveta, tirou dali um papel e me mostrou. Era o programa daquele nosso espetáculo!
Não entendi bem e fiquei pensando por que será que aquele homem tinha gostado tanto de um balé de crianças a ponto de guardar o programa... Ele não explicou nada. Guardou novamente o papel e continuou a consulta.
Só muitos anos mais tarde é que comecei a compreender. Na certa, ele tinha se apaixonado pela nossa professora...