Eu não brincava muito com bonecas, pois era a única menina da casa. Sonhava com uma irmã, mas ela não veio. Tentei jogar bola com os meninos, nunca deu certo. De estradinhas e carrinhos não gostava. Sobravam a gangorra, as brincadeiras de pique, os castelos de areia, isso podíamos fazer juntos. Não me atrevia a subir em árvores nem a pular o muro.
Como “menina da casa” cedo aprendi a fazer bolos. Quer dizer, a bater a clara. Depois é que fiz meu primeiro bolo mirrado. Em seguida vieram os pãezinhos de minuto. Gostava de mexer com a massa e de raspar a tigela.
Ensinaram-me também a arrumar a cama. Que sofrimento levantar o colchão de molas tão pesado, machucava meus dedos. Mas aprendi. E reclamava porque meninos não se ocupavam disto.
Adolescente, passava o cafezinho depois das refeições. Ou quando chegava uma visita. Cuidava de minhas roupas mais finas. Para que não estragassem, eu mesma tinha que lavá-las e passá-las. Além de cuidar das calcinhas e sutiãs, como nove entre dez mulheres no mundo.
Aos sábados, na hora da correria para a saída noturna, sempre aparecia um irmão pedindo para passar a camisa. E lá ia a mocinha da casa...
A mocinha da casa também ajudava a recolher roupas espalhadas pelos quartos. Parece que os rapazes não enxergavam o cesto.
Gostava de passar enceradeira. E fazia faxina no meu quarto de tempos em tempos. Sozinha, para que ninguém me atrapalhasse. Tão empolgada ficava, que botava tudo abaixo. Separava roupas, abria caixinhas, olhava fotografias, lia cartas... Quando percebia, era noite e já estava muito cansada. E com as mil coisas espalhadas, tinha que dormir no sofá. Ou na cama de alguém que estivesse viajando.
Como mamãe, gostava de trocar os móveis de lugar. Juntas empurrávamos mesas, cadeiras e sofás. Depois de muito pôr pra cá e pra lá, encontrávamos a boa disposição. E a casa ficava de cara nova. A maioria dos “moradores” gostava, só um ou outro reclamava, quase tinha sentado no chão, a poltrona não estava mais ali...