Lembro-me de muitas sensações marcantes, anteriores ao natal, elas parecem girar até dentro da redação do jornal, quando as notícias são substituídas pelas promoções de eletrodomésticos. Tudo agora adquire a funcionalidade idealizada para o 25 de dezembro.
Passarei o natal na cidade do Rio. Expliquei para mamãe sobre o planejamento de um caderno de turismo para dinamizar o verão dos cariocas. Foi mentira.
Sai para percorrer o meu bairro e olhar bem para o rosto das pessoas. Na avenida Nossa Senhora de Copacabana, eu me surpreendi quando passou por mim o que eu julguei na hora ser uma outra espécie de mulher. Ela era branca, alta, os cabelos saíam da cabeça na forma de orquídeas multicoloridas. Poderia ser uma medusa tropical. Quem sabe uma turista marciana ou a filha do cruzamento entre uma mulher e um polvo e que mesmo assim passeava pela cidade, porque aqui há muitos criaturas estranhas, arrepiadas, coloridas. Todas tão fascinantes e ninguém se espanta.
Pensei assim e fui comer uma coxinha gordurosa em um bar. Perto das sete da noite resolvi telefonar para mamãe. Ela me censurou pelo fato de não ter viajado para Socorro. Eu lhe disse que, além do preparo do caderno de turismo, eu conhecia a rotina da festa. Em uma reunião de natal, geralmente as pessoas de uma família falam demais, aparecem demais e eu estava cansado de deslumbramentos e recorrências.
DO LIVRO: "TOUROS EM COPACABANA"
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