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cronicas-->A INCOMENSURÁVEL GRANDEZA DAS PEQUENAS COISAS -- 10/06/2001 - 23:58 (José Renato Cação Cambraia) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
A INCOMENSURÁVEL GRANDEZA DAS PEQUENAS COISAS

É incrível como a gente só percebe a existência das pequenas coisas quando estas nos faltam. As grandes, talvez por serem dessa natureza e, assim, não conseguirem se esconder facilmente dos nossos atentos olhos, são mais facilmente notadas quando não estão onde supostamente deviam estar. Você não vê, por exemplo, alguém dizendo "Cadê aquele elefante que eu deixei amarrado aqui?" ou "Droga, perdi minha usina termoelétrica novinha em folha..".
Por exemplo, nesse exato instante escrevo essas linhas num hotel em Lins, onde cheguei no final da tarde. Logicamente só percebi as coisas que esqueci em casa na hora que precisei delas. A primeira delas surgiu assim que, sentado na cama, tirei minhas botas Caterpillar e, relaxando meus cansados dedos dos pés, vi que não trouxe minhas havainasÃ’ (do Corinthians, é lógico). Isso é chato, porque apesar de funcionar como uma boa desculpa para ficar andando de meias pelo quarto, (o chão estava bem gelado), infelizmente não é muito interessante tomar banho de meias. Ou seja, pra sair do box do banheiro, tive que me locomover arrastando o tapete de pano, girando de 45 em 45 graus, alternadamente, como um (mal) dançarino de twist.
Até aí tudo bem, dá pra gente se virar sem chinelos: depois do banho joguei no chão a colcha da cama que não estava usando para formar um tapete até o banheiro, que era o cómodo limite dos meus domínios naquele quarto de hotel. Mas e o pente, que foi a segunda coisa que também nem lembrei de trazer? Geralmente, os hotéis têm aqueles pentinhos embalados num pequeno saco plástico, que ficam sobre o frigobar. Não é o caso desse hotel. Sobre o frigobar, só dois copos d´água, um cinzeiro preto e a poncã que eu trouxe pra comer antes de dormir. Liguei pra recepção pra ver se me arranjavam um pente, mas não tinham. Aliás, pedi também um sabonete, que foi outra coisa que esqueci, mas sabonete eles têm. Daqueles pequenininhos. Lux luxo.
Bom, não sei o que vocês imaginam o que eu fiz, nem o que fariam. Simplesmente alisar o cabelo com as mãos pode funcionar para alguns sortudos, mas não é o meu caso, a não ser que eu queira que minha cabeça fique com o aspecto de uma caixa de abelhas. Você, que já me acusa de excesso de frescura, há de entender minha preocupação com a aparência quando ficar sabendo que meu propósito na cidade é o de apresentar meu trabalho final de pós-graduação, ou seja, não creio que minhas preocupações com o aspecto físico e estético do meu cabelo sejam tão insignificantes assim, uma vez que estarei diante de uma banca examinadora que fatalmente me condenará ao pensar "Hum, será que esse cara não penteia o cabelo? Acho melhor dar zero no trabalho dele...". Também não haveria problema algum em sair com o cabelo todo desgrenhado pra comprar um pente, o que eu faria sem problema algum (afinal, ninguém me conhece por aqui, mesmo...) se apenas não houvesse surgido na minha cabeça a idéia de pentear meu cabelo com minha escova de dentes, uma Oral B. Funcionou, claro.
Depois disso, fiquei a noite inteira pensando no quanto somos dependentes das pequenas coisas. Cada vez mais, dependemos de um maior número de coisinhas, desde os objetos mais simples, como pentes e canetas, despertadores, até as mais sofisticadas parafernálias eletrónicas, que estão a cada dia menores e mais caras. Celulares, calculadoras, barbeadores com làminas equipadas com amortecedores, relógios com hora de Taiwan (pra quê diabos o cara quer isso?), relógios com medidor de pressão atmosférica, agendas eletrónicas, controle remoto da tv (aliás, um dos objetos mais importantes de uma casa)... daqui a pouco estaremos colocando na mala o mais clássico dos objetos inúteis:
- Querida, vamos voltar! Esqueci de uma coisa!
- Mas Arnaldo, já andamos 300 quilómetros! O que você esqueceu?
- O descascador de bananas!
- Ah, não acredito, Arnaldo... dá o balão ali, ó, que o acostamento tá melhor!
Somos tão dependentes que estamos esperneando como crianças diante da crise energética do nosso belo e próspero país. Teremos que cortar tanta coisa para atingir a tal meta que, em pouco tempo, estaremos de volta ao século XV, felizes se tivermos uma enxada nova, uma tigela de barro ou se o eixo da carroça não quebrou. Banhos mensais (de água fria, é óbvio), alimentos conservados no sal ou na gordura de porco. Aí sim vocês vão ver o que é sentir falta de um pente e não ter nem mesmo uma escova de dente para substituí-lo. Avança, Brasil!


A SEMANA 10/06/01



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