Usina de Letras
Usina de Letras
294 usuários online

Autor Titulo Nos textos

 

Artigos ( 62175 )

Cartas ( 21334)

Contos (13260)

Cordel (10449)

Cronicas (22531)

Discursos (3238)

Ensaios - (10349)

Erótico (13567)

Frases (50580)

Humor (20028)

Infantil (5424)

Infanto Juvenil (4756)

Letras de Música (5465)

Peça de Teatro (1376)

Poesias (140791)

Redação (3302)

Roteiro de Filme ou Novela (1062)

Teses / Monologos (2435)

Textos Jurídicos (1959)

Textos Religiosos/Sermões (6183)

LEGENDAS

( * )- Texto com Registro de Direito Autoral )

( ! )- Texto com Comentários

 

Nota Legal

Fale Conosco

 



Aguarde carregando ...
Artigos-->A festa sem farda -- 20/10/2003 - 16:47 (Félix Maier) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
A FESTA SEM FARDA



Jarbas Passarinho

Escritor



Em que pesem os azedumes dos que vêem os militares com os olhos dos ressentidos, as pesquisas de opinião pública, feitas pelos institutos credenciados, mostram as Forças Armadas entre as instituições que mais merecem credibilidade no país. Isso deveria alertar os que falam levianamente de militarismo sem saber exatamente sequer o que é militarismo. Desde o recrutamento para as escolas de formação de oficiais, onde o que prevalece é o mérito do candidato e não a sua condição social ou econômica, a carreira das armas no Brasil é genuinamente democrática. Jamais constituiu casta.



Demonstração da animosidade gratuita com os militares tivemos nas matérias publicadas pela imprensa após as comemorações do dia 7 de setembro passado. Faltou-se à verdade. Disse-se que ao se sentirem impopulares, os governos dos generais transferiram do centro da cidade de Brasília, para o gueto do Forte Apache (o setor militar urbano), o desfile militar. Quem o transferiu foram os presidentes civis, depois de 1984. Reclamou-se uma festa sem farda , pois os militares teriam se apropriado da festa nacional , argumentando-se que os militares nada tiveram com a independência do Brasil, mas só com a proclamação da República, uma quartelada . Não seria difícil lembrar o que eram o Exército e a Marinha de Guerra, quando o príncipe regente Dom Pedro decidiu desobedecer às Cortes Constitucionais portuguesas que exigiam seu retorno a Lisboa. Aí começava a tornar-se irreversível a independência. Não havia, em 1822, forças armadas estritamente nacionais. A Marinha tinha comando de almirante estrangeiro. As tropas terrestres comandava-as o brigadeiro português Jorge de Avilez. Pierre Labatut, um mercenário que venceu a resistência do general português Madeira, na Bahia, era francês. A independência, sem desmerecer José Bonifácio e a maçonaria, devemo-la à visão política de Dom João VI ao aconselhar o filho a antecipar-se a um aventureiro. Como, em tais circunstâncias, estranhar que os militares brasileiros, ainda longe de unidade e consciência de um espírito de classe, não tivessem tido papel de relevo no processo irredentista?



Quanto à República, sim. Os paulistas da Convenção de Itu, os cariocas do Manifesto Republicano de Quintino Bocaiúva não passariam de conspiradores sem futuro, e o tenente-coronel Benjamim Constant apenas de influente professor dos cadetes da Escola Militar do Rio de Janeiro, se Deodoro da Fonseca não tivesse sido motivado pela Questão Militar para derrubar o Gabinete Ouro Preto. Acabou por derrubar a monarquia e por banir Dom Pedro II. Foi o quartel, pois, quem decidiu destronar o monarca, ancião e alquebrado.



Desde logo é de salientar que o desfile de 7 de setembro inclui-se no elenco de festividades que ocorrem ao longo da Semana da Pátria. O dia 5 de setembro era - ou ainda é - dedicado à parada tradicional dos estudantes nos Estados da Federação. Onde o civismo não envergonha, civis e militares, em seminários, rememoram os acontecimentos que fizeram a nossa independência política. No período autoritário, as festividades de 7 de setembro eram contestadas pelas esquerdas sob o argumento de que o Brasil não era independente. Curioso é que no tempo em que os integralistas tentavam chegar ao poder, tidos como cópia carbono do fascismo, o argumento era o mesmo: não podia um país ser independente senão quando independente também o fosse economicamente. Padre estrangeiro, insólito, recusou rezar a santa missa sob a mesma alegação. No discurso de saudação a Gerhart Hauptmann, Prêmio Nobel de literatura de 1912, Hans Hildebrand inicia citando um dos velhos provérbios suecos: Mudam os tempos e com eles os homens . Hoje, remanescentes dos tempos de oposição mudaram de convicção. Ou apenas de opinião. A despeito de estar aí o famigerado FMI ditando regras de conduta financeira e emprestando bilhões de dólares para reforçar nossas reservas e avalizar a credibilidade do nosso Tesouro para a banca financeira internacional, não mais se contesta a independência nem a soberania. Os suecos têm razão. Não é que até o revolucionário Stédile já mudou ao tratar do FMI?



Querem alguns, sem animosidade para com os militares, a festa sem farda . É uma idéia a considerar. Assim é nos Estados Unidos, que a esquerda odeia. Lá não há desfile militar, mas o sentimento cívico é admirável. Pais levam filhos ao Arquivo Nacional para ver a Declaração da Independência. A bandeira em tamanho natural ou em miniatura é profusamente exibida. Nos vôos comerciais, as comissárias ostentam broches patrióticos. Ao revés disso, um ditador comunista que herdou do pai igualmente ditador a Coréia do Norte, onde o povo recebe dos americanos vultoso auxílio generoso para minorar a fome que é epidêmica, exibe em comemoração tropas terrestres de impressionante formação maciça em desfile a passo de ganso. Mas isso não suscita da parte dos avessos aos militares brasileiros a menor censura. Para eles, de lá e de cá, vale a farda. Ela tem sido usada, de fato, por governos de exceção. Cadete, desfilei no Rio de Janeiro durante a ditadura Vargas. Éramos aplaudidos pelo povo, não mais, porém, que os bombeiros. A França, mesmo sob governos socialistas, mantém solene desfile militar para comemorar o 14 de julho, sua data nacional. Não é a farda, em si, símbolo ditatorial. Dela se servem os políticos quando lhes apraz. Ora submissos e bajuladores, ora afrontosos, conforme os tempos. Talvez seja necessário fazer a festa sem a farda , mas há de promover-se o civismo, em lugar da farda da Esquadrilha da Fumaça gizando no céu o nome da pátria, das mulheres em continência abatendo espadas, dos porta-bandeiras fazendo-as tremular altaneiras aos olhos do povo. Em 1971, exigia-se o hasteamento do símbolo augusto da paz nas escolas. O Hino à Bandeira era cantado mesmo nas repartições civis. Deixaram de fazê-lo. O presidente Lula acaba de revigorar o decreto. Mas civismo não se faz por decreto.



[16/SET/2003]



---------



Obs.: A única farda tolerada em festividades por Lula Boeing da Silva, o viajante incansável, é a de Fidel Castro, amigo a quem faz visitas constantes, para intermináveis juras de amor e lambe-botas ao tirano mais antigo em atividade no mundo (F.M.).



















Comentarios
O que você achou deste texto?     Nome:     Mail:    
Comente: 
Renove sua assinatura para ver os contadores de acesso - Clique Aqui