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Erotico-->CERTAS COISAS ESCURAS (MAURO VELASCO) -- 15/08/2012 - 15:39 (valentina fraga) Siga o Autor Destaque este autor Envie Outros Textos
CERTAS COISAS ESCURAS

Te amo como se aman ciertas cosas oscuras,
secretamente, entre la sombra e el alma.

(Pablo Neruda)



Chegou em silêncio. Nada a dizer que já não se soubesse. Deixou sobre a
cômoda a chave do carro, a carteira e o livro que terminava de ler sem maior interesse. A arrumação dos móveis era a mesma, simples e utilitária, desprovida de qualquer ornamento desnecessário. Ainda permanecia pendurado na parede o quadro que ela pintara há dois ou três anos, retratando uma paisagem bucólica que ambos costumavam frequentar quando queriam fugir do agitado movimento da
cidade. Havia no ar um suave cheiro de café coado há pouco, como se a sua chegada, embora não anunciada, fosse uma certeza imposta pela intuição da alma feminina. Em cima da mesa posta, além da garrafa térmica, podia ver as xícaras, os pratos, os talheres, o pote de geléia, os frios e os pães dentro da pequena cesta. Definitivamente, ela o aguardava.
Observou que a porta do quarto estava entreaberta. Tirou o casaco,
depositando-o sobre o braço da poltrona, e caminhou devagar, pisando leve, em direção ao quarto escuro. Da entrada, pelo enquadramento provocado pela luz que procedia da sala, conseguiu vislumbrar o corpo da mulher entre os lençóis brancos.
Dormia serenamente, deitada de lado e vencida pelo cansaço da espera. Viu os ombros desnudos e uma das coxas exposta despudoradamente. Fechou a porta e aproximou-se com cautela para não assustá-la. O perfume que ela usara após o banho invadiu suas narinas provocando o desejo até então contido sob algemas voluntárias. Ajoelhou-se ao lado da cama e, como se a visse pela primeira vez, contemplou-a encantado.
O quarto escuro exibia os contornos imprecisos dos móveis e utensílios
diversos, enquanto o silêncio noturno era quebrado pela respiração ritmada da mulher em repouso. Eram assim seus encontros, no meio da escuridão para que não fossem vistos ou pressentidos, no redemoinho das trevas que formam um outro mundo paralelo à realidade, de brumas informes que servem como muralhas protetoras e envolventes para os fugitivos possuídos pelo fogo da paixão e do desejo.
Estendeu a mão e tocou levemente a coxa carnuda, deslizando-a em direção à borda da calcinha e voltando, ainda num toque quase imperceptível, na descida até o joelho arredondado. Ela ficou imóvel, mas a sua respiração mudou, como se a presença do outro tivesse sido captada inconscientemente.
Voltou a acariciá-la, dessa vez apertando um pouco mais a sua coxa e
deslocando a mão até as nádegas, onde a apalpou com firmeza. Em reação
imediata, a mulher virou-se, afastando os lençóis com o movimento do corpo que agora podia ser visto quase inteiro, os seios, os braços, as pernas e a calcinha sob a camisola transparente.
Passou a beijá-la com volúpia e sede. Seus lábios passeavam por suas
coxas, arrastavam-se sobre a barriga, molhavam seus seios, esfregavam-se em seu pescoço, e a mulher agora soltava pequenos gemidos de satisfação, já entendendo tudo o que acontecia, arrebatada do seu sono aos poucos e incapaz de distinguir, inicialmente, o que ainda era sonho ou esperança e o que agora se tornara realidade.
Lançou a roupa e os sapatos para um canto do quarto e deitou-se sobre a
mulher que o puxava para si, com braços trêmulos de ansiedade. Ele parecia um prisioneiro ensandecido que, repentinamente, se vê em liberdade após anos de reclusão e abstenção, soltando-se feito um rio que jorra em ondas volumosas ao
romper a represa que o confinava. Ela — também incendiada por desejos recolhidos
e, finalmente, alforriados — assemelhava-se a uma fêmea no cio em busca da
língua que regasse a boca sedenta de beijos, do corpo másculo que a possuísse e a dominasse por inteiro e do membro, rígido e afiada, que a penetrasse para jorrar-lhe
o sêmen pronto a misturar-se com o seu líquido vaginal e tornar-se um só fluido de um odor único.
Não demorou para que a mulher mudasse de posição, deixando o amado
deitado de costas e sentando-se sobre a vara esguia, fazendo-se rasgar por ela até o fundo, e passasse a cavalgar em movimentos longos e precisos, disposta a sugar do corpo do homem tudo o que lhe fosse possível naquela hora de sentidos sem controle e sensações alucinadas.
Gozaram juntos, reconhecendo-se mutuamente após um demorado período
de distância e ausência, mas eram os mesmos, sentiam o mesmo, usufruíam do mesmo, voltavam ao mesmo de sempre.
Ficaram abraçados na escuridão. Era a escuridão deles, o ambiente dos
amantes proibidos, o mundo que criaram para habitar furtivamente.
Logo teriam de partir. Sair para a claridade do dia e dos cenários inevitáveis.
Deixar as coisas escuras e a treva na qual só eles sabiam se reconhecer. Viver na cidade da luz, porém sem cores. Porque o verdadeiro colorido só era visto na escuridão à qual pertenciam.
Amaram-se de novo. Embrenharam-se em seus corpos, beberam de si
mesmos, devoraram-se com fúria apaixonada antes de saírem.
Mas logo voltariam. Como dois cometas em chamas que nunca falham em
seu previsto retorno para o inevitável negrume noturno dos desejos irreprimidos e das paixões insuperáveis.

MAURO VELASCO
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